quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O VERDADEIRO VENCEDOR DO DUELO NA FRONTEIRA



(ao centro) D. Georgina, a matriarca do Boi Flor do Campo
A Comissão de Organização do XIX Festival Folclórico de Guajará-Mirim, evento realizado nos dias 9, 10 e 11 deste mês, na arena do Bumbódromo da cidade, declarou a Associação Folclórica e Cultural Boi-Bumbá Flor do Campo como a grande campeã do Duelo na Fronteira, edição 2015.

A última edição da peleja estética entre as duas agremiações de bumbás Flor do Campo e Malhadinho aconteceu no ano de 2012. Em 2013 não houve festival e em 2014 foi realizada apenas uma singela mostra deste certame cultural que hoje é o maior acontecimento de cultura popular do Estado de Rondônia.

Ao longo da trajetória de sucesso do festival perolense, muitos foram - e continuaram sendo - os percalços enfrentados pelas diretorias e colaboradores das duas agremiações culturais, para colocar, a cada edição, o espetáculo artístico na arena do bumbódromo.


Evolução do Boi-Bumbá Malhadinho
Bem antes de os dois bois entrarem no espaço cênico de disputa, trava-se uma verdadeira e ‘sangrenta’ guerra de valores (i)morais e olhares preconceituosos em relação ao fazer artístico e a cultura do homem simples. Trata-se de peleja desigual e impiedosa, em desfavor à estética e ao gosto artístico do povo oprimido; uma luta encarada (e vencida) pelo artista popular, pelo artífice do povo e pelos brincantes, anualmente, nos meses que antecedem o certame cultural denominado por Duelo na Fronteira.

Evolução do Boi-Bumbá Flor do Campo
O feroz e intenso duelo, de fato, não é travado em cena, na arena de disputa. O combate brutal acontece nos corredores das repartições públicas do estado e do município, e em segmentos civis da sociedade. Posicionam-se de um lado do combate, brincantes, amantes e defensores da cultura e brincadeira de bumbá. E do outro lado, entrincheirados, com sangue no olho, espumando pela boca, portadores de discursos fundamentalistas e conservadores, os ostentadores da hipócrita bandeira de defesa – a qualquer custo - da família, dos bons costumes e dos valores morais. Engrossam as fileiras da hipocrisia e do discurso preconceituoso, algumas autoridades alienadas esteticamente e culturalmente analfabetas. Tais ‘autoridades’, fardadas de estremadas defensoras das normas técnicas, da legalidade e do direito individual do cidadão, usam o rigor da lei – valendo-se, por vezes, até de interpretações esdrúxulas - com o firme e único propósito de cecear as manifestações culturais populares, tolhendo também, de forma perversa, a genialidade criadora dos nossos mestres da cultura popular, assim como, a satisfação estética de brincantes e amantes do folguedo de bumbá.

É uma luta desigual, descomunal e desfavorável ao patrimônio cultual imaterial do povo brasileiro, colocando em risco de desaparecimento, por completo – o que é pior -, traços peculiares da identidade cultual do caboclo guajaramirense.

Sinhazinha da Fazenda (Neila Gomes), Boi Flor do Campo
A realização do XIX Festival Folclórico de Guajará-Mirim é, sem sombra de dúvidas, o triunfo da cultura popular. É a vitória e a perpetuação dos traços culturais identitários do povo beradeiro, de toda gente ribeirinha, dos indígenas e do cidadão que mora em terras do Vale do Mamoré. É a vitória das nações vermelha e branca e azul e branca, pois, no plano estético e artístico, as espetaculares apresentações dos bois-bumbás Flor do Campo e Malhadinho confirmam nossa singularidade cultural e nos afirmam como cidadãos brasileiros portadores de discurso estético-cultural próprio.

Sinhazinha da Fazenda (Olga Manuely), Boi Malhadinho
A realização do XIX Festival Folclórico de Guajará-Mirim é a vitória da força do artista, do artesão, dos brincantes e da vontade da nossa juventude que amam brincar de boi-bumbá e, ao fazê-lo, entram em contato com as linguagens artísticas, desenvolvem habilidades em artes e se tornam cidadãos mais depurados e sensíveis esteticamente.

A realização do XIX Festival Folclórico de Guajará-Mirim é a vitória das potencialidades de desenvolvimento da indústria do turismo cultural, do turismo de negócio, do turismo ambiental e do turismo religioso em Guajará-Mirim, muito provavelmente nossas únicas saídas para salvação da economia local e, desta feita, viés apropriado para geração de emprego, de ocupação e renda, e de fortalecimento do comércio e economia local e, assim, promoção de bem-estar social para todos.

Um comentário:

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