sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O MECENAS DA FRONTEIRA



Praça Barão do Rio Branco, acervo Profa. Lílian Ferreira
O mecenato é a prática de estímulo à produção cultural e artística, e se caracteriza em financiamento de artistas e de suas obras. No passado, quem exercia o mecenato – o mecenas - eram grandes comerciantes, poderosos banqueiros, nobres, bispos e papas, que financiavam e investiam nas artes, visando prestígio e reconhecimento perante a sociedade. No passado, os mecenas foram pessoas de elevada importância para o afloramento da arquitetura, pintura, escultura, literatura e a música, particularmente entre os séculos XV e XVI, durante o período do Renascimento cultural. Hoje, mecenas é uma pessoa que patrocina as artes, a ciência ou o ensino, sendo que muitas vezes com benefícios fiscais.

Praça Barão do Rio Branco, 2015
Em Guajará-Mirim, quem circula pela região antiga da cidade, área de relevante interesse histórico, notará um cidadão que, na companhia de mais dois colaboradores, há mais de dois meses, vem realizando um necessário, laborioso e delicado trabalho de restauração da histórica Praça Barão do Rio Branco, um símbolo do patrimônio cultural local, há décadas abandonada. É um trabalho voluntário, solitário e abnegado, de alguém que tem verdadeira paixão pela historia, pelo patrimônio cultural, pelos bens públicos antigos e de grande valor estético e histórico para cidade, para nossa gente e para identidade cultural do guajaramirense.

Luiz Alberto Gonçalves de Almeida, o Mecenas da Fronteira
Luiz Alberto Gonçalves de Almeida é, por vontade e iniciativa própria, o responsável pelo delicado trabalho de restauração da Praça Barão do Rio Branco. E, por conta de elevada missão filantrópica, Luiz Alberto é, meritocráticamente, o Mecenas das terras do Vale do Mamoré; o protetor do patrimônio cultural da cidade de Guajará-Mirim.

Ao contrário de épocas passadas, Luiz Alberto não é grande comerciante ou banqueiro e, menos ainda, possuidor de título de nobreza, ou se quer busca o reconhecimento da ‘fina flor da sociedade’ local. O ‘Mecenas Perolense’, que é funcionário público aposentado da antiga Centrais Elétricas de Rondônia (CERON), conheceu Guajará-Mirim no ano de 1975 e, no ano de 1985,veio morar na cidade Pérola do Mamoré, juntamente com sua família, transferido do município de Colorado do Oeste, onde morava e trabalhava. Em 1992 foi novamente transferido, desta vez para Porto Velho, onde residiu até 1994. Neste mesmo ano Luiz Alberto retornou a Guajará-Mirim, permanecendo até 1997. Com a federalização da CERON, mais uma vez foi transferido para Ji-Paraná, atuando também na região de Ariquemes, por mais de dez anos.

         O trabalho de restauração que está sendo realizado na Praça Barão do Rio
Branco (pasmem!), não é uma atividade desenvolvida a partir de um contrato licitado ou concorrência pública vencida por Luiz Alberto, como muitos podem concluir. Conforme informa o Mecenas da Pérola do Mamoré, que também é funcionário da prefeitura, lotado no setor de fiscalização, a empreitada começou da seguinte maneira: “Nós fizemos a revitalização da iluminação da Praça Dr. Mário Correia. Quando eu estive em Cuiabá, no Estado do Matogrosso, para participar do noivado de minha filha, eu fui ao museu (buscar informações sobre Guajará-Mirim e a Praça Barão do Rio Branco). Eu vi lá o decreto de criação de Guajará-Mirim. Não encontrei nada sobre a praça. Isto me despertou; e tinha um pessoal reunido, então fui conversando e pedindo contribuição de um e de outro e consegui arrecadar dois mil e quinhentos reais, um valor que, mais ou menos, deu para comprar o material de iluminação para revitalizar a Praça Barão do Rio Branco. Observei que a praça estava muito deteriorada. Então começamos a limpar e fazer um trabalho e outro”. Foi assim que Luiz Alberto Gonçalves de Almeida, o Mecenas da Fronteira, começou a laboriosa tarefa de restaurar a praça que registra parte da história de Guajará-Mirim, conforme constata nos antigos acentos dos bancos, nos quais estão gravados os nomes das famílias e casas comerciais que contribuíram com a construção da Praça Barão do Rio Branco.

Colaborador trabalhando na base do obelísco
De início, o objetivo de Luiz Alberto era apenas restaurar a iluminação da histórica praça. Porém, considerando o estado de abandono e degradação, Luiz Alberto foi se envolvendo cada vez mais e assim foi ficando, mergulhando nos raros fragmentos e depoimentos que contam a história daquele espaço e, desta feita, compreendendo e aceitando sua benévola missão: revitalizar importante exemplar arquitetônico da memória local.

Luiz Alberto acompanha de perto o trabalho de restauração
Para o Mecenas Mamorense - e seus fies escudeiros: Adalberto (seu irmão), e Francisco (funcionário público da prefeitura, onde exerce a função de vigia), que no projeto de restauração desempenha o papel de pedreiro – a maior dificuldade para seguir o riscado original da praça, como manda a legislação do IPHAN/MinC (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), onde Luiz foi buscar informações para executar delicada tarefa, consiste exatamente na falta de dados, de documentação e informações sobre a construção da praça.

Obelisco, Praça Barão do Rio Branco
O amor que o Mecenas da Fronteira nutri por Guajará-Mirim e as doces lembranças da infância de suas filhas, que costumavam brincar na Praça Barão do Rio Branco, movem a altiva missão de Luiz Alberto:  “As milhas filhas brincaram aqui quando eram crianças. Corriam na praça. Agente fica triste quando vê o patrimônio, o espaço público totalmente deteriorado, abandonado. O que me deixa mais triste é a gente procurar informações sobre o que estava escrito no obelisco (na base), e a gente procurar um histórico, pesquisar os dísticos e não encontrar mais nada”, lamenta Luiz Alberto.

No dia em que falamos sobre a Praça Barão do Rio Branco, sobre patrimônio histórico e sobre a cidade de Guajará-Mirim (dia 30 de julho), uma quinta-feira, no meio da tarde, na própria praça, enquanto Luiz Alberto realizava sua missão de Mecenas, perguntei-lhe sobre a participação da prefeitura e da SEMCET (Secretária Municipal de Cultura, Esportes, Lazer e Turismo), nesta missão: “a prefeitura tem colaborado com muito pouco, cedendo uma mão de obra apenas (o vigia Francisco). Eu passei hoje de manhã lá (na SEMCET), e o pessoal estava fazendo o cadastro do número do SUS. Inclusive eu também entrei na biblioteca (virtual) do IBGE e lá tem várias fotografias de Guajará antiga, inclusive da praça, uma vista parcial da praça. Outra coisa que eu descobri é que o nome desta travessa aqui (entre a praça e o EEEF Durvalina Estilben de Oliveira), que vai até a Praça Mário Correia, é Travessa dos Arigós, coisa que eu jamais tinha conhecimento”, revela surpreso Luiz Alberto.

Apesar da modesta participação da prefeitura – cedendo um funcionário - empresários e comerciantes da cidade estão colaborando para restauração da praça: “as contribuições acontecem da seguinte forma: a gente vai antes e conversa com os empresários, pra saber se eles podem contribuir. Por exemplo, o Said, da Comercial Obadias, agente conversou para ele colaborar com a tinta para parte de alvenaria, e ele se comprometeu em doar. Fora outras pessoas que tem contribuído com um saco de cimento, um saco de cal. A tinta do piso foi colaboração dos meus amigos da ‘CERON’ e do ‘menino’ ali da Livraria Arco-Íris (Alexandre), e também da própria loja de tinta”, rela o Mecenas da Fronteira.

Em Guajará-Mirim, a população local tem por hábito, jogar nos espaços públicos, particularmente em praças e canteiros centrais, o lixo domestico e entulhos de obras e reformas, uma vergonhoso realidade decorrente, muito provavelmente, do precário serviço público de coleta de lixo.  Aliás, além da sujeira abundante, é fato que nas praças se “plantam mais quiosques” - para se vender cervejas – que árvores. Para o Mecenas perolense, esta é “uma verdadeira situação calamitosa, constatar a existência de tantos quiosques nas praças e passeios públicos da cidade, o que imprime ao espaço urbano uma aparência de ‘currutela’ de garimpo”. E continua: “a praça em frente à prefeitura, aquilo lá é uma vergonha. Hoje existem vários modelos e padrões apropriados de lanchonetes para espaços públicos. Há uma proposta muito interessante de lanchonete, construída a partir da adaptação de contêineres. Ficam muito mais bonitas, mais aconchegantes, mais higiênicas e, se for necessário, pode ser removida a qualquer momento. No interior do Estado de São Paulo, por exemplo, várias prefeituras já proíbem a construções em alvenaria, nas praças e outros espaços públicos, para abrigar lanchonetes”, relata o dedicado feitor do bem.

A recompensa do trabalho que está sendo realizado, para o Mecenas da Fronteira, não é financeira, mas sim, uma satisfação estética, para deleite da alma e da memória: “é gratificante testemunhar na reação das pessoas, uma alegria, uma satisfação ao se depararem com o espaço histórico revitalizado, totalmente iluminado. Ficam sensibilizados ao verem pessoas simples contribuindo com a preservação; ajudando com a sua mão de obra, sua dedicação. Emocionam-se”, relata Luiz Alberto.
Luiz Alberto Gonçalves de Almeida
Mas, para que a cidade se perceba importante, como um legítimo e raro relato histórico, se faz absolutamente necessário que todos façam a sua parte, (a população, as autoridades e os turistas), para que Guajará-Mirim se torne uma cidade melhor para todos. Não jogar o lixo nos espaços públicos, sobretudo nas ruas e praças; não depredar os passeios e estruturas públicas de uso coletivo para prática de atividades físicas e de lazer; pagar os impostos e taxas municipais, dentre outras atitudes necessárias e indispensáveis, contribuem para uma cidade mais bela e agradável, onde crianças, jovens, adultos e idosos possam viver e paz e felizes.

Que o exemplo altivo de Luiz Alberto Gonçalves de Almeida, o Mecenas da Fronteira, invada todos os corações, em especial da autoridade pública, e nos inspire a cuidar melhor de Guajará-Mirim, a cidade Pérola do Mamoré, um inegável patrimônio cultural de Rondônia e do Brasil.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo bom texto, que esclarece fatos importantes ligados às artes e cultura de nosso Estado.

    ResponderExcluir

PT DE GUAJARÁ-MIRIM PARTICIPA DE ENCONTRO POLÍTICO COM EVO MORALES

Profa. Lília Ferreira, Presidente PT/GM O Presidente da Direção Regional do Movimiento al Socialismo - Instrumento Político por la Soberanía...