sexta-feira, 29 de maio de 2015

DIVINO, TRÊS VEZES DIVINO!



Procissão do Mastro, Irmandade do Sr. Divino de Guajará-Mirim
Guajará-Mirim possui, indiscutivelmente, vasto acervo no campo das manifestações tradicionais populares, o que faz da cidade importante e fértil referência estadual no segmento do patrimônio cultural imaterial. São dezenas de festas que acontecem por todo cidade, com os mais variados apelos temáticos e contornos estéticos. É um frondoso e peculiar acervo de grande potencialidade turística, de desenvolvimento humano e econômico. Na categoria das festas populares religiosas, igualmente, estas manifestações ocupam considerável espaço na devota Pérola do Mamoré.

Por esta época do ano, dentre tantas manifestações populares religiosas, desponta, destacadamente, as festividades religiosas ao Senhor Divino do Espírito Santo.

As procissões e festas de perfis religiosos que acontecem no município, além de estarem presentes em vários momentos do ano, configuram-se, também, em acontecimentos importantes na vida social dos que aqui vivem.

IRMANDADE DO SENHOR DIVINO ESPÍRITO SANTO DE GUAJARÁ-MIRIM

Devota do Divino, procissão do mastro
Domingo, 31, encerram-se os festejos religiosos organizados pela Irmandade do Senhor Divino Espírito Santo de Guajará-Mirim, em atividade desde a década de 60, e hoje Presidida por Nildo Pires de Oliveira. A romaria teve inicio no dia 05 do mês de abril, ocasião em que foi celebrada na Igreja do Divino Espírito Santo, missa de bênção do Cortejo do Divino que, naquela data, saiu em peregrinações pelas regiões rural e urbana do município, cumprindo um período de 48 dias de ladainhas e manifestações de fé. O ponto alto do encerramento dos festejos da Irmandade do Senhor Divino Espírito Santo de Guajará-Mirim, é a realização da cerimônia da descida do Mastro, seguida de grande festa de confraternização, que acontecerá no pátio da Igreja dedicada ao Divino, localizada no bairro São José.

Na Pérola do Mamoré, cidade de profunda fé e tradições religiosas populares, a força do Senhor Divino Espírito Santo se multiplica por três.

Duas outras irmandades também organizam novenas e atividades festivas ao Senhor Divino: a Irmandade do Divino Espírito Santo da Ilha Saldanha, coordenada pela devota Joana Darc Dias de Souza; e a Irmandade do Divino Espírito Santo do Bairro Santa Luzia, comandada pela religiosa Eduarda Calazans Shoré.

O DIVINO ESPÍRITO SANTO DA ILHA SALDANHA

Joana Darc Dias de Souza, Coord. Divina da Ilha
A Irmandade do Divino Espírito Santo da Ilha Saldanha está sediada, hoje, na residência da Sra. Joana Darc Dias de Souza, localizada na Av. Princesa Isabel, Bairro Triângulo. A seguir, entrevista com a Coordenadora das atividades do Divino da Ilha Saldanha, a devota Joana Darc, viúva, mãe de quatro filhos, nascida em Guajará-Mirim:

Ariel Argobe – Onde e quando começaram as atividades da Irmandade do Divino Espírito Santo da Ilha Saldanha?

Joana Darc – A nossa irmandade começou na Ilha Saldanha e foi fundada no dia 11 de maio de 1964, pelo meu pai José Dias e minha mãe Sra. Eliséia Leguisamon Monteiro.

Ariel Argobe – O que levou seus pais a organizarem um irmandade dedicada ao Divino, aqui em Guajará-Mirim?

Joana Darc – Os motivos que levaram meus pais criarem a Irmandade foi mesmo por questão de promessa ao Divino; e também porque ela (Sra. Eliséia) era lá do Vale do Guaporé, então nós herdamos esta tradição religiosa de lá. Ela (Sra. Eliséia) herdou e deixou pra nós. Meus pais vieram lá de cima (Vale do Guaporé) no ano de 1949. Morávamos em Pedras Negras, e lá meus pais participavam das festas religiosas da Irmandade Geral do Divino Espírito Santo do Vale do Guaporé.

Ariel Argobe – A partir de que momento a senhora passou a organizar as atividades do Divino da Ilha Saldanha?

Procissão do Mastro, Divino da Ilha Saldanha
Joana Darc – Depois do falecimento da minha mãe, em 1996, eu passei a organizar a festa. Eu e meu filho que, juntos com os demais familiares e amigos, somos os responsáveis pela organização da festa?

Ariel Argobe – Em que consiste a festa do Divino da Ilha Saldanha?

Joana Darc – Começamos com novenas aqui na capelinha. Nove dias antes (da cerimônia do levantamento do mastro do Divino). Até hoje estamos aqui nesta luta, fazendo a festa. As pessoas aqui se juntaram e fizeram uma diretoria e estão ajudando a realizar os festejos do Divino.

Ariel Argobe - A diretoria da irmandade está constituída em termos jurídicos?

Joana Darc – Não temos uma diretoria constituída assim não. São pessoas da comunidade mesmo e não temos uma pessoa que é o presidente. É gente da família mesmo e tem algumas pessoas de fora e eu coordeno.

Divina da Ilha Saldanha: Cortejo do Divino
Ariel Argobe - Aqui no terreno de sua residência foi erguida uma capela para abrigar e em homenagem ao Divino. Desde quando ela existe?

Joana Darc – Já tem dois ou três anos que construídos. É aqui que realizamos as novenas.

Ariel Argobe – Quais são as atividades do dia de hoje (23/05/2015, sábado, dia da realização da cerimônia do levantamento do mastro com a bandeira do Divino)?

Joana Darc – Hoje nós vamos realizar os sorteios. Nós vamos sortear, entre os ‘festeiros’, quem vai ser o imperador, a imperatriz, o capitão do mastro, alferes, encarregado da Coroa. São eles que ficaram responsáveis, a partir de agora, em organizar os festejos do ano que vem. São os responsáveis em organizar toda a festa. Os sorteados do dia de hoje, recebem as faixas dos que foram sorteados no ano passado.

Divino da Ilha, preparação do almoço servidos aos romeiros
Ariel Argobe – O Divino da Ilha Saldanha faz peregrinação pela cidade?

Joana Darc – Não. Nós realizamos novenas nas residências aqui do bairro. Só ficamos aqui mesmo no bairro do Triângulo.
Ariel Argobe - Desde quanto o Divino da Ilha acontece aqui no bairro do Triângulo?

Joana Darc – Tem 16 anos que realizamos os festejos do Divino aqui neste endereço; desde quando mudamos da Ilha Saldanha pra cá. E, desde quando começamos, em 1964, nunca milha família deixou de realizar os festejos. Quando começamos, eu tinha 11 anos e este ano (2015) eu completo 72 anos.

O DIVINO ESPÍRITO SANTO DO BAIRRO SANTA LUZIA

Divino do Santa Luzia
Noutra região da cidade fica localizada a Irmandade do Divino Espírito Santo do Bairro Santa Luzia, comandada por Dona Eduarda Calazans Shoré, nascida no ano de 1944. É em sua própria residência que Dona Eduarda abriga a irmandade, realiza as ladainhas e os festejos em devoção ao Divino. Dona Eduarda é filha de Paulo Calazans da Silva e Patrocínia Lopes, nascida na localidade de Limoeiro, no Vale do Guaporé, a região do Estado de Rondônia onde se registra as primeiras manifestações do Divino, por volta de 1894, a partir da iniciativa do senhor Manoel Fernandes Coelho, por ocasião de sua mudança de Vila Bela do Mato Grosso, para morar na localidade de Ilha das Flores. O gosto e a devoção ao Divino, Dona Eduarda herda de seus pais, devotos do Divino do Vale do Guaporé. A seguir, entrevista com a Coordenadora das atividades do Divino do Bairro Santa Luzia, realizada no dia 24 de maio (domingo), data da Procissão dos Símbolos da Vinda de Pentecostes:

Eduarda Calazans Shoré, Coord. do Divino do Sta.Luzia
Ariel Argobe – Dona Eduarda, quando a senhora começou os festejos do Divino aqui no bairro Santa Luzia?

Dona Eduarda – Sou filha do Guaporé. Nossa festa tem origem nos festejos do Vale do Guaporé. Eu estou aqui em Guajará desde 1973 e comecei a realizar esta festa em 1993.
Ariel Argobe – O que lhe motivou a realizar festejos ao Divino?

Dona Eduarda – Eu recebi uma graça do Divino Espírito Santo, através de um médico muito amigo da família, Dr. Pascoal. Numa determinada ocasião, meu filho brincando, correndo, sofreu um acidente e quebrou duas costelas. Então ele ficou muito doente. Aí um dia eu estava indo para o meu trabalho e eu ia levando ele (o filho enfermo). Aí encontrei o Dr. Pascoal e ele me perguntou o que que o menino tinha. Aí eu contei. Então ele falou: “eu vou levar teu filho para fazer uma cirurgia, e me perguntou se eu acreditava no Divino Espírito Santo.” Eu respondi: claro doutor, sou filha do Guaporé. O Dr. Pascoal fez o tratamento do meu filho, sem precisar levar pra fora pra fazer cirurgia. Então ele me disse: “só tem uma coisa milha filha, enquanto você estiver viva, você seja grata a este Espírito Santo. Foi ele que me deu luz para fazer este trabalho no seu filho”. Ele salvou meu filho, com o poder de Deus; com a vontade do Divino Espírito Santo. Hoje meu filho está com 47 anos, se chama Francisco Lopes Linhares e é funcionário da Fundação Nacional de Saúde. Foi aí que eu comecei fazer a festa. Então eu comecei fazer uma coisa simples, um jantar. Aí um amigo da família Quintão me disse um dia: “Anita (forma carinhosa como Dona Eduarda e chamada por familiares e amigos próximos), vamos ampliar esta festa” Então eu disse ao Mário que eu não tinha condições e ele me disse que me ajudaria. E, a partir daquele dia, o Professor Mário, devotos do Divino e outros amigos passaram a colaborar com a festa, doando arroz, óleo, feijão, açúcar, carne de frango, carne bovina. Tenho um amigo que ajuda muito, mas pede para não falar o nome. Ele não gosta.

Ariel Argobe - Fale-me das personagens e dos festejos aqui do Divino do Santa Luzia.

Devotos, Divino do Santa Luzia
Dona Eduarda – Todo ano a gente faz o sorteio. Se coloca os nomes num copo e tira. Aí sai o imperador, a imperatriz, o capitão do mastro, o alferes da bandeira. Tem deles, quanto tem seu nome sorteado, eles choram de emoção. Este sorteio será feito no próximo sábado (30/05/2015). Para animar mais ainda, também sorteamos o casal de bailarinos. Nós deixamos os festeiros e devotos muito à vontade, brincando, se divertindo, bebendo. À noite, nós tiramos todas as crianças e os menores da festa. Agente paga segurança. Agente leva os convites para o Conselho Tutelar, à Polícia Militar, ao Corpo de Bombeiros e Prefeitura, para que eles fiquem atentos que nós estamos aqui trabalhando com esta cultura.

Doações, Divino do Santa Luzia
Ariel Argobe – O Divino do Santa Luzia faz peregrinação pelas ruas aqui do bairro?

Dona Eduarda – Não. Eu faço a novena aqui em casa. A novena começa nove dias antes do Dia de Pentecostes.  Este ano começou no dia 16 de maio, e no dia 24 encerramos as novenas, e aí servimos um almoço para todos. No próximo sábado, dia 30, nós vamos realizar a cerimônia da descida do Mastro do Divino. Depois desta cerimônia, nós vamos fazer o sorteio dos nomes para composição do Cortejo do Divino. Na nossa irmandade tem gente da minha família, da família Quintão e da Família Brasil. Sou feliz por isto. Faço tudo isto não por mim. Primeiramente por Deus, depois pelos festeiros, para louvor e para se divertirem. Durante as novenas, tem mingau, tem lanche, tem paçoca, tem comida da região. Vem gente de Porto Velho, de Costa Marques e de outros lugares. É uma festa muito bonita para celebrar o Divino.

E assim é Guajará-Mirim de forte fé e rica tradição. Na Pérola do Mamoré, os festejos expressivos dedicados ao Divino são marcados por profunda e singular manifestação de fé. A devoção ao Divino é traço marcante da identidade cultural e religiosa do povo católico do Rio Mamoré. Divino, três vezes Divino!

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