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Francisco Assumpção, Presidente da AFAG |
Foi
realizado dia, 02, terça-feira, no Auditório do Centro de Treinamento São
José, da diocese de Guajará-Mirim, o Debate Político (ou sabatina) entre os
candidatos da região da Pérola do Mamoré, que disputam o pleito
eleitoral de 2014, para ocupar cadeira na Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia. O confronto
político foi realizado pela Associação dos Filhos e Amigos de Guajará-Mirim
(AFAG), e contou com a participação de grande público, dividido em
correligionários, coordenadores de campanhas, ‘formiguinhas’, familiares, eleitores, lideranças dos movimentos sociais, autoridades públicas e
eclesiásticas.
Relatar
aqui o que cada candidato apresentou como currículo e proposta de trabalho (algumas
inclusive surrealistas e outras acanhadas), se fará uma leitura tediosa e
desinteressante para o leitor, e não ajudará o eleitor indeciso decidir seu voto
(sem querer ser pretensioso e arrogante).
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Candidatos que participaram do debate político da AFAG |
Participaram
do debate os postulantes Cerzinando de Souza Pessanha, o Pessanha (PSB); Fábio
Garcia de Oliveira, o Netinho (PDT); Lucila Socorro de Oliveira, Profa.
Lucila (PEN); Onildo Cunegundes Moraes da Silva, o Onildo (PTN); Ronaldo
Fernandes de Almeida, o Galego (PT do B); Neidson de Barros Soares, o Dr.
Neidson (PT do B); José Antônio Barbosa da Silva, o Dr. Barbosa (PRB); Cícero
Alves de Noronha Filho, o Noronha (DEM), e Marileth Soares Deniz, a Profa. Marileth
(PT).
O
debate realizado pela AFAG é uma atividade do Projeto Guajará Em Ação, lançado no
início de 2014, a partir da divulgação de um manifesto em defesa da cidade, da
cidadania, do voto consciente e ético e em favor de se eleger candidatos
naturais de Guajará-Mirim ou aqui radicados, compromissados com o
desenvolvimento da região e com o bem-estar da gente mamorense.
Os
primeiro e segundo blocos - e talvez os mais enfadonhos e surrealistas - foram
reservados para cada candidato discorrerem sobre seus currículos e principais
propostas de ação parlamentar. Sem sombra de dúvidas, nestes dois momentos,
após todas as apresentações, não era possível separar uma única alma errante, para
enviá-la ao inferno. Todos se colocaram como o mais eficiente, o mais ético, o
mais honesto, o mais apaixonado por Guajará-Mirim, o mais devotado por sua
gente, o mais capaz e habilitado para defender os interesses, as vontades e os
sonhos da nossa população. Resumo da ópera: tínhamos ali, diante de nossas retinas,
uma constelação de figuras angelicais e inocentes. O melhor seria enviar a todos
- sem exceções - para Assembleia Legislativa de Rondônia. Melhor ainda, o ideal seria
despachar, direto para o paraíso, todos aqueles anjinhos, para ornarem a
auréola de Nosso Senhor.
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Auditório do Centro de Treinamento São José |
No
terceiro bloco, todos os candidatos responderam sobre temas sorteados. Nesta
fase, esperava-se uma discussão mais acalorada e aprofundada, onde cada
candidato demarcaria território, se apresentado com falas plainadas,
demonstrando conhecimento sobre os temas sorteados, discorrendo com noção
mínima sobre os problemas crônicos que afligem cada área e apresentando suas
proposições para sanar os entraves. Não foi o que se viu. Lojas Francas, Porto
Oficial, Educação e Saúde foram os temas sorteados e abordados. Foi um festival
de sofríveis falas genéricas, onde era possível apurar uma imensa falta de
conhecimento de alguns candidatos que, sem o menor pudor, valia-se da pedagogia
do “embromeichon”, desfiando um
rosário de chavões e frases do jargão político; verdadeiro e cansado conjunto de velhas falas
empoeiradas e ditas a esmo; as mesmices argumentações rasas e as viciadas
posturas de quem fala sobre o que não conhece ou pouco entende, salvo
raríssimas exceções.
O cidadão
e eleitor ali presente, ou mesmo os que acompanhavam o debate de suas casas, do
trabalho e dos mais variados locais da região urbana e rural do município,
através da transmissão ao vivo da Radio Educadora de Guajará-Mirim, certamente
concluiu ao final deste bloco, sem fazer muito esforço, a lamentável ausência
de um projeto político partidário, coletivo, discutido com todos os setores da
sociedade, referenciado nos anseios, sonhos e necessidades do cidadão, do
empreendedor e do setor público, capaz de tirar Guajará-Mirim do isolamento
político, recolocando-a em merecido e elevado cenário estadual de decisões e
referências exitosas.
O
que imperou, neste momento, foi o discurso do ‘eu’. Cada candidato, (novamente
salvo raríssimas exceções), jogava o máximo de combustível em sua própria
“fogueira das vaidades”, abanando freneticamente para flamejar o máximo
possível, e assim ofuscar a fogueira do concorrente ali ao lado.
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Dr. Neidson, PT do B |
Sobre
o tema saúde, a melhor fala veio da candidata Professora Lucila (PEN), ao
afirmar que Guajará-Mirim é o único município do estado que tem um hospital
regional municipalizado, defendendo ainda, a transferência do HR para a esfera
estadual, uma vez que a Prefeitura Municipal não tem a menor condição de manter
referida estrutura, afirmou a candidata. Bastante aplaudida, Lucila ofuscou a
performance do Dr. Neidson (PT do B), que tem o tema da saúde como corro chefe
de sua campanha. Aliás, sobre este tema, o médico versou de forma muito
acanhada.
Quando
o tema educação entrou em pauta, todos os candidatos, em coro, afirmaram o
óbvio: “a educação é muito importante”. Ninguém, em sã consciência, tem duvidas
desta frase. Em todo universo, só conheço uma única pessoa que pensa contrário, e anunciou
para o mundo ouvir. Ivo Cassol, Senador da República e ex-governador, que um
dia, em um rompante rasgo de arrogância, afirmou que educação não era
importante, para o desespero de professores, trabalhadores em educação, pais e
alunos.
Em um
debate político, não ir além da leitura rasa, se mantendo nas mesmices e nos velhos
chavões – “educação é tudo” - é “chover no molhado” e muito decepcionante para
o eleitor. Do analfabeto ao letrado, do rico ao pobre, do centro à periferia,
todos reconhecem na educação a alavanca das transformações. Esperava-se dos
candidatos uma discussão mais arraigada, profunda, com mais consistência, se
expondo as questões locais e sinalizando soluções para a área da educação.
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Professora Marileth, PT |
As candidatas
e professoras Marileth (PT) e Lucila (PEM), por conta de suas experiências, trataram
do tema com certa desenvoltura e segurança. O candidato Galego (PT do B), com
seu jeito popular, foi um pouco além, citando o Plano de Cargos, Carreira e
Remuneração (PCCR). Fábio Garcia de Oliveira, o Netinho (PDT), de forma tímida
defendeu a criação da Universidade Estadual, a funcionar em Guajará-Mirim e,
acertadamente, a criação de uma escola estadual no bairro Jardim das
Esmeraldas.
O
assunto Porto Oficial foi, sem sobra de dúvidas, o tema que mais suscitou
discursos equivocados por parte de quase todo o elenco de candidatos. As falas
sobre este tema rumaram na direção da necessidade de se reestruturar melhor o
porto oficial da cidade, por onde passam turistas e mercadorias exportadas para
o país vizinho. O candidato Noronha (DEM) afirmou o inegável: “nós não temos um
porto. O que temos é beira de barranco,” jogando a culpa no Governo Federal. Já
o candidato Dr. Barbosa (PRB), fez discurso mais coerente, se destacando dos
demais, lembrando que o posto aduaneiro lá existente, hoje em péssimas condições
por conta das inundações do Rio Mamoré, será deslocado daquela região, em
breve, passando a funcionar com seus serviços de fiscalização e controle, na
cabeceira da Ponte internacional Brasil-Bolívia, após sua construção, reafirmando ainda, que
tanto o nosso porto, quanto a ponte a ser construída, ambos tem caráter de
integração de povos, o que difere de um porto de exportação e importação. O candidato Galego (PT do B) defendeu uma estrutura
portuária para atender também aos ribeirinhos e o candidato Onildo (PTN)
defendeu a reordenação daquela região, no viés do turismo e do lazer, com a
construção de uma avenida beira-rio.
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Dr. Barbosa, PRB, tem confronto direto com Noronha, DEM |
O
tema instalação de Lojas Francas em municípios da faixa de fronteira, assunto
da maior relevância para o fortalecimento da economia local, para geração de
emprego e renda, foi, no meu entender, o tema mais embaraçoso para maioria dos
postulantes. Neste bloco, alguns confundiam, flagrantemente, Lojas Francas com
Área de Livre Comércio, fazendo uma grande ‘mistureba’ durante suas falas,
deixando muito claro o profundo despreparo e total ausência de propostas
consistentes para esta área. Foi durante este bloco que aconteceu o momento de
maior tensão do debate, a partir de um confronto direto estabelecido entre Noronha
(DEM) e o Dr. Barbosa (PRB), deixando a todos perplexos e com olhares surpresos
em direção à mesa. Durante sua fala, o candidato Dr. Barbosa (PRB), sem
economizar adjetivos não elogiosos à Associação Comercial de Guajará-Mirim, disparou
uma saraivada de críticas àquela instituição associativa, acusando-a de não ter
capacidade de promover o agrupamento de seus associados, envolvendo-os em uma
discussão propositiva, em favor das Lojas Francas e da Área de Livre Comércio
de Guajará-Mirim, deixando assim, de saia justa, se contorcendo todo, como se
estivesse sentado em um formigueiro, o candidato Noronha (DEM), ungido pela Associação
Comercial. Noronha (DEM), que se pronunciou na sequência, se defendeu e
defendeu a associação, alegou que o candidato Dr. Barbosa (PRB) raciocinava sem
conhecimento de causa e sem propriedade. O candidato do PRB pediu direito de
resposta e reafirmou sua posição e argumentações, levando Noronha (DEM) a
ouvir, pela segunda vez, as críticas dirigidas à Associação Comercial.
Aquele
que poderia ser o ápice do evento, o melhor momento do debate - quando o
público presente participou ativamente da sabatina, através de perguntas por
escrito e sorteadas - foi, no meu entendimento, o mais decepcionante dos blocos,
não em razão do teor das perguntas, mas sim, pelo adiantado da hora, pelo
cansaço e o esvaziamento do evento. Foi o penúltimo bloco, acontecendo quando
já haviam se passado mais de três horas de embate, e o auditório se encontrava
significativamente vazio. Lamentável.
O
Debate realizado pela AFAG cumpriu seu papel, qual seja: de ajudar o eleitor –
o que estiver predisposto - a decidir seu voto. O eleitor poderá direcionar, ou
mesmo redirecionar seu voto, a partir de algumas análises dos candidatos, tanto
de seus discursos, quanto de suas desenvolturas. O eleitor poderá, também,
avaliar outros aspectos, como por exemplo, considerar a performance dos
postulantes a partir do “palmômentro” do auditório. Sem nenhuma dúvida,
disparado, o melhor candidato é o Dr. Neidson (PT do B). Porém, vale ressaltar
que o mais aplaudido, no meu entendimento, desenvolveu fala bastante acanhada
durante suas respostas, inclusive na área da saúde, quando todos esperavam o
médico surfando na crista da onda. Para
um eleitor crítico, este é um dado relevante. Ainda no quesito “palmômentro”, também
se destacaram Noronha e Netinho. É bom ressaltar que todos os candidatos
levaram suas respectivas torcidas organizadas, logo, a avaliação do “palmômetro”
não é garantia de acerto. Ficou com o “troféu fala empolgante”, o candidato
Galego (PT do B), sendo o seu melhor momento, o compromisso ali firmado que, se
eleito, irá levar para seu gabinete Noronha (DEM) e Pessanha (PSB), pessoas
competentes para assessorá-lo, segundo Galego (PT do B). O público presente
desabou em estrondosa gargalhada, deixando os candidatos citados
desconsertados.
O
debate serviu para desnudar os candidatos das velhas posturas e táticas
viciadas de campanha; das falas impregnadas de verborreias, sem qualquer
sentido, inservível para balizar o voto do eleitor. Certamente, todos os
candidatos saíram dali, fazendo uma reflexão sobre suas práticas de campanha.
Para um bom entendedor, meia palavra basta e para os candidatos mais atentos,
que compreenderam os propósitos do debate, seguramente saíram do embate
político dispostos a promover reajustes em suas propostas. A sabatina da AFAG
também serviu para calibrar melhor a fala de cada candidato,
conscientizando-os, ainda, da necessidade de se buscar um maior diálogo com
todos os setores da sociedade, em particular com os movimentos sociais,
sindicais e populações historicamente excluídas, para, desta feita, se construir
um autêntico projeto político coletivo e partidário.
Em suma,
no Debate Político promovido pela AFAG ganhou o eleitor, ao analisar cada
candidato, perceber suas contradições e suas potencialidades, identificando,
ainda, embustes e mesmices em cada proposta e, assim, separar proposições com
possibilidades de materialização exitosa. Ganhou o cidadão e o eleitor, por ter
a condições de, naquele momento, reprovar nomes e posturas revestidos pela
“fogueira da vaidade” e, em outra margem, considerar os bons candidatos, com
concreto projeto de atuação parlamentar, exequível, que o eleitor, até então, não
tinha visibilizado. Ganhou a democracia.
Para
mim, particularmente, pude compreender melhor porque, há quase duas décadas,
Guajará-Mirim não elege um representante estadual. Não sei se isto já será
possível neste pleito, mas a ação da AFAG é, com toda certeza, o início de uma
caminhada que irá recolar Guajará-Mirim, num futuro bem próximo, em frondosa
posição do cenário político rondoniense.