Francisco Assumpção, Presidente da AFAG |
Relatar
aqui o que cada candidato apresentou como currículo e proposta de trabalho (algumas
inclusive surrealistas e outras acanhadas), se fará uma leitura tediosa e
desinteressante para o leitor, e não ajudará o eleitor indeciso decidir seu voto
(sem querer ser pretensioso e arrogante).
Candidatos que participaram do debate político da AFAG |
O
debate realizado pela AFAG é uma atividade do Projeto Guajará Em Ação, lançado no
início de 2014, a partir da divulgação de um manifesto em defesa da cidade, da
cidadania, do voto consciente e ético e em favor de se eleger candidatos
naturais de Guajará-Mirim ou aqui radicados, compromissados com o
desenvolvimento da região e com o bem-estar da gente mamorense.
Os
primeiro e segundo blocos - e talvez os mais enfadonhos e surrealistas - foram
reservados para cada candidato discorrerem sobre seus currículos e principais
propostas de ação parlamentar. Sem sombra de dúvidas, nestes dois momentos,
após todas as apresentações, não era possível separar uma única alma errante, para
enviá-la ao inferno. Todos se colocaram como o mais eficiente, o mais ético, o
mais honesto, o mais apaixonado por Guajará-Mirim, o mais devotado por sua
gente, o mais capaz e habilitado para defender os interesses, as vontades e os
sonhos da nossa população. Resumo da ópera: tínhamos ali, diante de nossas retinas,
uma constelação de figuras angelicais e inocentes. O melhor seria enviar a todos
- sem exceções - para Assembleia Legislativa de Rondônia. Melhor ainda, o ideal seria
despachar, direto para o paraíso, todos aqueles anjinhos, para ornarem a
auréola de Nosso Senhor.
Auditório do Centro de Treinamento São José |
O cidadão
e eleitor ali presente, ou mesmo os que acompanhavam o debate de suas casas, do
trabalho e dos mais variados locais da região urbana e rural do município,
através da transmissão ao vivo da Radio Educadora de Guajará-Mirim, certamente
concluiu ao final deste bloco, sem fazer muito esforço, a lamentável ausência
de um projeto político partidário, coletivo, discutido com todos os setores da
sociedade, referenciado nos anseios, sonhos e necessidades do cidadão, do
empreendedor e do setor público, capaz de tirar Guajará-Mirim do isolamento
político, recolocando-a em merecido e elevado cenário estadual de decisões e
referências exitosas.
O
que imperou, neste momento, foi o discurso do ‘eu’. Cada candidato, (novamente
salvo raríssimas exceções), jogava o máximo de combustível em sua própria
“fogueira das vaidades”, abanando freneticamente para flamejar o máximo
possível, e assim ofuscar a fogueira do concorrente ali ao lado.
Dr. Neidson, PT do B |
Quando
o tema educação entrou em pauta, todos os candidatos, em coro, afirmaram o
óbvio: “a educação é muito importante”. Ninguém, em sã consciência, tem duvidas
desta frase. Em todo universo, só conheço uma única pessoa que pensa contrário, e anunciou
para o mundo ouvir. Ivo Cassol, Senador da República e ex-governador, que um
dia, em um rompante rasgo de arrogância, afirmou que educação não era
importante, para o desespero de professores, trabalhadores em educação, pais e
alunos.
Em um
debate político, não ir além da leitura rasa, se mantendo nas mesmices e nos velhos
chavões – “educação é tudo” - é “chover no molhado” e muito decepcionante para
o eleitor. Do analfabeto ao letrado, do rico ao pobre, do centro à periferia,
todos reconhecem na educação a alavanca das transformações. Esperava-se dos
candidatos uma discussão mais arraigada, profunda, com mais consistência, se
expondo as questões locais e sinalizando soluções para a área da educação.
Professora Marileth, PT |
O
assunto Porto Oficial foi, sem sobra de dúvidas, o tema que mais suscitou
discursos equivocados por parte de quase todo o elenco de candidatos. As falas
sobre este tema rumaram na direção da necessidade de se reestruturar melhor o
porto oficial da cidade, por onde passam turistas e mercadorias exportadas para
o país vizinho. O candidato Noronha (DEM) afirmou o inegável: “nós não temos um
porto. O que temos é beira de barranco,” jogando a culpa no Governo Federal. Já
o candidato Dr. Barbosa (PRB), fez discurso mais coerente, se destacando dos
demais, lembrando que o posto aduaneiro lá existente, hoje em péssimas condições
por conta das inundações do Rio Mamoré, será deslocado daquela região, em
breve, passando a funcionar com seus serviços de fiscalização e controle, na
cabeceira da Ponte internacional Brasil-Bolívia, após sua construção, reafirmando ainda, que
tanto o nosso porto, quanto a ponte a ser construída, ambos tem caráter de
integração de povos, o que difere de um porto de exportação e importação. O candidato Galego (PT do B) defendeu uma estrutura
portuária para atender também aos ribeirinhos e o candidato Onildo (PTN)
defendeu a reordenação daquela região, no viés do turismo e do lazer, com a
construção de uma avenida beira-rio.
Dr. Barbosa, PRB, tem confronto direto com Noronha, DEM |
Aquele
que poderia ser o ápice do evento, o melhor momento do debate - quando o
público presente participou ativamente da sabatina, através de perguntas por
escrito e sorteadas - foi, no meu entendimento, o mais decepcionante dos blocos,
não em razão do teor das perguntas, mas sim, pelo adiantado da hora, pelo
cansaço e o esvaziamento do evento. Foi o penúltimo bloco, acontecendo quando
já haviam se passado mais de três horas de embate, e o auditório se encontrava
significativamente vazio. Lamentável.
O
Debate realizado pela AFAG cumpriu seu papel, qual seja: de ajudar o eleitor –
o que estiver predisposto - a decidir seu voto. O eleitor poderá direcionar, ou
mesmo redirecionar seu voto, a partir de algumas análises dos candidatos, tanto
de seus discursos, quanto de suas desenvolturas. O eleitor poderá, também,
avaliar outros aspectos, como por exemplo, considerar a performance dos
postulantes a partir do “palmômentro” do auditório. Sem nenhuma dúvida,
disparado, o melhor candidato é o Dr. Neidson (PT do B). Porém, vale ressaltar
que o mais aplaudido, no meu entendimento, desenvolveu fala bastante acanhada
durante suas respostas, inclusive na área da saúde, quando todos esperavam o
médico surfando na crista da onda. Para
um eleitor crítico, este é um dado relevante. Ainda no quesito “palmômentro”, também
se destacaram Noronha e Netinho. É bom ressaltar que todos os candidatos
levaram suas respectivas torcidas organizadas, logo, a avaliação do “palmômetro”
não é garantia de acerto. Ficou com o “troféu fala empolgante”, o candidato
Galego (PT do B), sendo o seu melhor momento, o compromisso ali firmado que, se
eleito, irá levar para seu gabinete Noronha (DEM) e Pessanha (PSB), pessoas
competentes para assessorá-lo, segundo Galego (PT do B). O público presente
desabou em estrondosa gargalhada, deixando os candidatos citados
desconsertados.
O
debate serviu para desnudar os candidatos das velhas posturas e táticas
viciadas de campanha; das falas impregnadas de verborreias, sem qualquer
sentido, inservível para balizar o voto do eleitor. Certamente, todos os
candidatos saíram dali, fazendo uma reflexão sobre suas práticas de campanha.
Para um bom entendedor, meia palavra basta e para os candidatos mais atentos,
que compreenderam os propósitos do debate, seguramente saíram do embate
político dispostos a promover reajustes em suas propostas. A sabatina da AFAG
também serviu para calibrar melhor a fala de cada candidato,
conscientizando-os, ainda, da necessidade de se buscar um maior diálogo com
todos os setores da sociedade, em particular com os movimentos sociais,
sindicais e populações historicamente excluídas, para, desta feita, se construir
um autêntico projeto político coletivo e partidário.
Em suma,
no Debate Político promovido pela AFAG ganhou o eleitor, ao analisar cada
candidato, perceber suas contradições e suas potencialidades, identificando,
ainda, embustes e mesmices em cada proposta e, assim, separar proposições com
possibilidades de materialização exitosa. Ganhou o cidadão e o eleitor, por ter
a condições de, naquele momento, reprovar nomes e posturas revestidos pela
“fogueira da vaidade” e, em outra margem, considerar os bons candidatos, com
concreto projeto de atuação parlamentar, exequível, que o eleitor, até então, não
tinha visibilizado. Ganhou a democracia.
Para
mim, particularmente, pude compreender melhor porque, há quase duas décadas,
Guajará-Mirim não elege um representante estadual. Não sei se isto já será
possível neste pleito, mas a ação da AFAG é, com toda certeza, o início de uma
caminhada que irá recolar Guajará-Mirim, num futuro bem próximo, em frondosa
posição do cenário político rondoniense.
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