quarta-feira, 8 de maio de 2013


CARNAVAL: 500 MIL PRA SÃO PAUL0


Por Altair Santos Tatá.

Altair Santos Tatá
O que é isso? Eis aí outra pedrada no quengo das nossas escolas de samba, a turma anda grogue até agora, rodopiando nas esquinas, quase indo a nocaute e ter que beijar a lona. Alheias aos nossos interesses, pessoas se dizendo ligadas ao fazer cultural daqui, lançam os pés pelas mãos, e saem por aí, paulicéia a fora, movidas por suas próprias vontades, agindo ao sopro de suas próprias ventas, regateando e comercializando o nome de nossa cidade, promovendo verdadeira feira de liquidação, tendo como oferta, os 100 anos da cidade porto. O centenário da capital que, presume-se, venha a ser tema do nosso ainda indefinido e já atrasado carnaval vindouro, segundo matéria publicada na mídia local, é tema acertado com a Escola Tom Maior da terra da garoa. Para cantar Porto Velho no sambódromo do Anhembi em fevereiro de 2014, a Tom Maior, única das dez escolas a serem contatadas e que aceitou o desafio, receberá da Prefeitura de Porto Velho a singela quantia de R$ 500.000,00. Aí se fala numa contrapartida de 60 fantasias para pessoas daqui, camarote com bebida e comida para 20 pessoas, participação dos compositores locais na disputa do samba de enredo, etc. O que dói e machuca nisso tudo é que as escolas de samba locais fizeram, neste ano, verdadeiras romarias, incansáveis peregrinações, sofridas idas e vindas em busca de garantir recursos para os seus carnavais, sem nada conseguir. Sequer tiveram uma só moeda para produzirem os seus desfiles neste ano de 2013 e ainda andam às tontas por aí, tentado se organizar para o incerto certame carnavalesco do ano que vem. Essa coisa de vender lá fora o nosso produto histórico como forma de evidenciar e divulgar a cidade e suas coisas é cantiga barata, isso não se faz assim, é conversa vencida e atitude antipatriota como o nosso carnaval local e, convenhamos não nos dá esse retorno promocional tão cantando pelos interessados, pois segundo se sabe a agremiação de São Paulo desfilará num horário de baixíssima audiência, além do próprio carnaval paulistano não ser transmitido para os mais importantes estados da própria região sudeste. Mais, a Escola Tom Maior corre risco de rebaixamento e, de carona, levaria nesse abismo momesco o nome de nossa capital centenária. Quem nos quiser como tema que o faça, pesquise, escreva, temos a nossa trajetória histórica e política, os nossos ciclos de desenvolvimento, as nossas riquezas e belezas naturais, temos as artes e a cultura, somos uma cidade onde brilha a miscigenação, somos um Brasil de diversidade. Pronto, isso é tudo! Venham, estamos de portas abertas pra colaborar, pra somar, somos e seremos sempre hospitaleiros, agora doar recursos pra bancar o enredo de lá, é tirar de quem não tem, é negar duas vezes pra nossas próprias produções e ainda nos colar na testa a insígnia de otários. E se tem pra dar porque não o fizeram aqui? Chamaram o cabôco pra briga e como dito pelo personagem “percoço” da novela das oito, “assim tão querendo respingar o meu linho e o bicho pega!” Justo, nas nossas barbas, debaixo dos nossos bigodes, mandar 500 mil prá lá, enquanto aqui os segmentos urram por um recurso desses para tocar parte das suas atividades, é realmente total falta de compromisso, cuidado e zelo. Repassar recurso para a agremiação postulante de São Paulo que, notadamente, atravessa também séria crise política interna é sim, um duro golpe e dever ser refutado. Queremos ver o nosso centenário cantado e encenado aqui, por nossas escolas, com produção dos nossos carnavalescos, artesãos, artistas plásticos, aderecistas, costureiras, queremos os nossos compositores fazendo seus sambas sobre o centenário, o comércio local vendendo seus artigos e produtos de carnaval, o transporte público, hotéis, bares, restaurantes e similares tendo as suas atividades aquecidas, gerando arrecadação pro município, vamos organizar e fortalecer nossas escolas e a sua federação ou liga, ou associação. O momento é propício, vamos de uma vez por todas, construir em definitivo os braços de sustentação da nossa cultura popular e provar que ela pode evidenciar nossa capital e nosso estado, lá fora, sem negociações soturnas, desavisadas. A realização do carnaval de 2013, em plano meia-boca, ainda repercute negativamente, o que faz com que carnavalescos e dirigentes se façam incrédulos e inseguros quanto ao futuro. Nunca vimos isso com bons olhos, vivenciamos uma histórica dificuldade em estabelecer práticas que promovam o ânimo do segmento produtor de carnaval. A turma daqui sofre pra manter viva a tradição da cultura popular. Aí, sem ter nem porque, alguns bonitinhos consignam lá fora, apoios daqui, pra uma escola de samba da cidade mais rica do país. Eis mais um assunto pra nossa turma da revolução cultural apreciar e se manifestar, não podemos silenciar e assistir submissos a uma coisa dessas!



O autor é músico e produtor cultural

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