sexta-feira, 1 de julho de 2011

MERCADO CENTRAL DE PORTO VELHO

Histórico do primeiro mercado público municipal de Porto Velho

Por Antônio Cândido da Silva (*)

Na história do nascimento de toda cidade certas coisas são imprescindíveis para a segurança e bem estar das pessoas e, de maneira geral, para assegurar o crescimento do povoado.

Entre as necessidades primeiras de um povoado podemos citar: a delegacia, o cartório, a igreja, o juiz, a padaria e um mercado, onde o cidadão encontra, em um só lugar, os gêneros de primeira necessidade para a sua subsistência.

Porto Velho, que nasceu com as primeiras construções do parque ferroviário da Madeira-Mamoré, em 1908, não tinha problemas de alimentação, pois, os gêneros de primeira necessidade eram adquiridos pelos americanos na "Comissary", que também tinha à disposição dos fregueses mercadorias importadas da Europa e dos Estados Unidos.

A construção do parque ferroviário exigiu a contratação de funcionários especializados, como carpinteiros, ferreiros, soldadores, mecânicos e principalmente braçais. Esses funcionários, por necessidade de ficarem próximos do local do trabalho, foram se fixando em volta do parque ferroviário, como no caso dos "barbadianos" que se localizaram no Alto do Bode.

A partir daí e, principalmente depois da construção da ferrovia, em 1912, a população de Santo Antônio do Rio Madeira foi, gradativamente, se transferindo para Porto Velho, obrigando os americanos a criarem a "linha divisória" como forma de preservar a área das instalações ferroviárias e a privacidade dos seus administradores.

Com o surgimento do povoado nasceu a necessidade de um local certo para a venda de carne, comprada nas embarcações e peixes pescados no rio Madeira.

Últimos bazeres demolidos: Floricultura e Bar do Zizi
Antônio Cantanhede informa que o primeiro estabelecimento para suprir essas necessidades foi construído, com permissão dos americanos, por um barbadiano que levantou uma barraca coberta de palha nas imediações do porto de desembarque, onde vendia carnes, bebidas e víveres em pequena escala.

O ponto foi adquirido pelo senhor Felix Campos que o cobriu de zinco e funcionou como mercearia, botequim e mercado, até ser transferido para um barracão de zinco de propriedade da Companhia ferroviária, edificado na área da praça Mal. Rondon, passando a ser administrado pelo senhor José Pontes.

Com a criação do município de Porto Velho, em 2 de outubro de 1914, o Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense, primeiro Superintendente de Porto Velho, em obediência à Lei Municipal nº 4, de 9 de março de 1915, construiu e inaugurou em 28 de julho daquele ano, o primeiro mercado municipal da cidade.

O Doutor Joaquim Augusto Tanajura que substituiu o Major Guapindaia em 1 de janeiro de 1917, mandou demolir o prédio alegando a necessidade de se construir um prédio de grande porte. O Doutor Tanajura não conseguiu realizar o seu intento porque o seu gesto desagradou o povo que lhe negou apoio.

O Superintendente Tanajura buscou apoio financeiro junto ao governo do Amazonas tendo conseguido autorização através da Lei nº 903, de 31 de agosto de 1917, que autorizava o município a contrair um empréstimo no valor de (Rs.300.000.000) trezentos contos de réis.

Com esses recursos Doutor Tanajura iniciou as obras de construção do mercado não conseguindo, porém, ir além dos alicerces.

Ao assumir pela segunda vez, em 1923, a Superintendência do município, Doutor Tanajura tentou cumprir a Lei 162, de 19 de outubro daquele ano e, mais uma vez, por unanimidade, o apoio popular lhe foi negado.

Dez anos depois, na administração do senhor Francisco Pinto Coelho, que durou apenas oito meses, os trabalhos de construção do prédio foram retomados, mas muito pouca coisa foi feita.

Planta baixa (croqui) do Mercado
Vários Superintendentes e Prefeitos deram a sua parcela de colaboração para que o Mercado Municipal fosse construído, entre eles Boemundo Álvares Afonso, Mario Monteiro, Carlos Costa e Dr. Celso Pinheiro, cujos esforços não conseguiram ir além da cobertura do prédio.

Somente na administração do Prefeito Ruy Brasil Cantanhede, iniciada em junho de 1948, as obras de construção do Mercado Municipal tomaram novo impulso e, quatro anos depois, em 12 de junho de 1950, o prédio foi finalmente inaugurado.

O Mercado Público Municipal funcionou normalmente até o ano de 1966, quando um incêndio (segundo alguns, criminoso) destruiu a metade do prédio cujo terreno, não se sabe como, caiu nas mãos de particulares que construíram ali o edifício Rio Madeira, e tentaram a todo custo grilar o restante da área, o que não aconteceu devido a persistência do Empresário Zizi que não abandonou o local.

O prédio possuía quatro portas de entrada, na parte central de cada lado do prédio: para os lados Norte, Sul, Leste e Oeste. Na porta da parte Sul foi afixada uma placa comemorativa com a seguinte inscrição:

1915 – 1923

Iniciado nas Administrações
Major F. Guapindaia de S. Brejense e Dr. Joaquim Augusto Tanajura

1950

Concluído na Administração
Dr. Ruy Brasil Cantanhede

O pé direito da construção era em torno de 6 metros e o prédio era circundado por uma calçada de aproximadamente 3m de largura. No lado Sul a calçada possuía 3 degraus, bem como esse lado do prédio que também fora construído sobre mais 3 degraus para compensar o declive do terreno.

Nas laterais Norte e Sul, excluídas as duas portas de entrada, havia 14 portas em cada lado e, nas laterais Leste e Oeste, excluídas as portas de entrada, havia 18 portas em cada lado, além de uma porta em cada canto do prédio (que era chanfrado), num total de 68 portas.

As portas laterais e dos cantos totalizando 68 portas, correspondiam aos 32 "boxes" comerciais com abertura para o exterior, tendo cada box o tamanho aproximado de 6m x 6m (36m²) e duas portas cada boxe, devendo ser considerado que os boxes dos cantos tinham 3 portas.

O interior da construção era composto de uma grande área coberta, cortada por dois corredores que se cruzavam no centro do prédio dividindo-o em 4 partes e fazendo a ligação entre as portas de entrada.

Das quatro áreas internas, três eram destinadas à venda de verduras, comidas e mercadorias em geral. A outra parte era destinada à comercialização de carnes e peixes.

* Antônio Cândido da Silva - Professor, Escritor, Pesquisador e Poeta
   Artigo publico no blog http://marcoshassan.blogspot.com/, em20/02/2011

Um comentário:

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