sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A PARADA GAY E SEUS CAMINHOS TRANSLOUCADOS

A PARADA GAY E SEUS CAMINHOS TRANSLOUCADOS


Por Victor Gabriel (*)

Venho acompanhando, por meio de informações esporádicas e de bastidores, a mobilização de lideranças do segmento LGBT (notadamente da Diretoria do Grupo Gay de Rondônia - GGR), de promoter de shows de transformistas e DJ de boate e eventos GLS’s, para organizar e realizar a 8ª Parada do Orgulho Gay da Cidade de Porto Velho, marcada para acontecer no próximo domingo, dia 29 de agosto, sob o slogan Meu voto, minha cidadania. Voto não homofobia.

Semana passada, acessando um site de relacionamentos tomei conhecimento, parcialmente, da programação da Parada 2010. Informei-me melhor. Constatei que a programação se iniciou dia 29 de julho, com a realização de um Pit-Stop, ação tipicamente rasa que não diz absolutamente nada sobre a causa LGBT. No dia 13 de agosto foi realizado o coquetel de lançamento da Parada 2010, oferecido à mídia. No dia 19 de agosto aconteceu o “Seminário Conhecendo a População LGBT e Prevenção das DST\HIV\AIDS”, evento voltado para professores das redes estadual e municipal, no meu entendimento, única ação com conteúdo sério que parecia acenar na direção da causa da população homossexual. O seminário conclamou para o segmento “fazer o diagnóstico do teste Rápido”. No dia 23 de agosto teve início as atividades da “Semana da Diversidade Cultural, Mostras de Fotos em Banners, Filmes (títulos não informados), Exposição de vestimentas de Shows de Travestis”. Aproximadamente duas dúzias de pessoas compareceram à cerimônia de abertura, sendo a grande maioria colaboradora ou de organizadores da Parada.

Chamou minha atenção o Seminário denominado “Conhecendo a População LGBT”, cuja tônica incentiva a realização do Teste Rápido para conferir quem é soro positivo, sendo esta, em minha compreensão, uma importante atitude de conscientização não só para homossexuais, mas para toda população com comportamento de risco. Pergunto-me: estou correto em concluir que a realização do teste HIV é uma estratégia correta e ética, adotada pelos organizadores da Parada, num período em que se supõe discutir apenas a causa homossexual objetivando descortinar e trazer à luz o perfil sócio-econômico da população LGBT de Porto Velho? Será esta mesma a idéia?

Por que não fazer este mesmo teste em outros grandes eventos tradicionais do calendário turístico e cultural de Porto Velho? Exemplo: cavalgada, Feira Agropecuária, Arraial Flor do Maracujá, show gospel, desfile cívico de 7 de setembro, marcha dos evangélicos, marcha zumbi e nos mais variados certames populares que reúne grandes aglomerações humanas.

Discutir e defender o Teste Rápido para detectar o vírus HIV neste período, associando a idéia de portadores da AIDS ao segmento LGBT, ainda que involuntariamente, é, com toda certeza, um tiro no próprio pé.

Em uma sociedade onde se valoriza, ao máximo, discursos fundamentalistas e conservadores (típicos de sociedades arcaicas) e preconceituosos (largamente apregoados e defendidos por neo-evangélicos capitalistas), é, em minha opinião de militante do segmento LGBT, chacina covarde e traiçoeira contra homossexuais. É uma verdadeira cavação de túmulo coletivo para a população gay de Porto Velho e do Estado de Rondônia. Uma atitude equivocada na essência, proposta por alguns lideres do movimento, DJ e promoter de espetáculos de travestis, que atuam no segmento LGBT, responsáveis pela programação da Parada. Uma lástima sem precedentes na frágil e insipiente história do movimento e da Parada do Orgulho Gay de Porto Velho.

Resta-me questionar: até quando a orientação sexual (jeito diferenciado de se colocar no mundo) da população LGBT será comparada a coisas perversas e patológicas? Então, finalmente vamos conhecer a comunidade homossexual de Porto Velho, conforme propõe o título do Seminário, a partir do resultado do Teste Rápido, separando quem é soro positivo do não contaminado? Conheceremos as DST’s e LGBT’s, aí então deveremos concluir que os homossexuais são pessoas fétidas, chaguentas, virulentas e repulsivas? A sociedade e os organizadores do Seminário poderão finalmente conclamar, aliviados: “Venham todos conhecer a comunidade LGBT de Porto Velho e seus males!”.

Senhoras e senhores, Diretores e membros do GGR, (in)responsáveis pela programação e organização da 8ª Parada do Orgulho Gay, isto é uma imoralidade, uma carnificina, um acinte ao bom senso. Melhor falando, com toda segurança e clareza de quem é perseguido e vítima do preconceito: ISTO É HOMOFOBIA! Elevar a homossexualidade ao campo das patologias é atitude preconceituosa, clara ação homofóbica desferida pelo GGR contra os homossexuais de Porto Velho.

É doloroso constatar que este ato segregador, isolando, rotulando de aidético e excluindo homossexuais do convívio social, que atenta contra a dignidade e a honra da população LGBT, tem o apoio e patrocínio do poder público.

Houve uma época em que a sociedade, principalmente as igrejas e o setor público, se retorciam, se indignavam e se recusavam tocar no assunto sexualidade. Porém, diante de uma verdadeira epidemia de doenças sexualmente transmissíveis, especialmente a AIDS (ainda sem cura), que assolou todos os países do mundo ainda na década de 80, inclusive nosso país, o Estado brasileiro (e outros setores da sociedade) foi obrigado a receber representantes de organizações civis, estabelecer parcerias com ONG’s atuantes na causa da cidadania dos homossexuais e no campo das DST/AIDS e, portanto, com conhecimento suficiente na área e com capacitados de discutir o problema, levantar indicadores e diretrizes para amenizar o avanço das DST/AIDS.

Deste diálogo com a sociedade, o Brasil instituiu o maior e melhor programa de saúde do mundo de combate e controle das DST/AIDS e amparo aos soros positivos.

A sociedade brasileira e o mundo avançaram no enfretamento e no tratamento deste tema tabu. Desconstruiu preconceitos e mitos, e, dentre tantos, a idéia equivocada de que a AIDS é doença exclusiva de homossexuais e que não existe um grupo de risco, mas sim, comportamento de risco. Esta conclusão científica, de domínio público, a julgar pela programação, parece ser ainda desconhecida pelos organizadores da 8ª Parada do Orgulho Gay de Porto Velho.

Impossível, senhoras e senhores, não me indignar diante de tamanho retrocesso. Sou homossexual assumido. Não sou vinculado a nenhum movimento, porém, diante de tanta asneira, me sinto no direito de vir a público declarar minha revolta e indignação diante desta programação absurdamente homofóbica. Protesto, veementemente!

Outro equívoco dos organizadores da Parada deste ano é afirmar que homofobia é crime! Pela legislação brasileira atual ainda não é. O movimento luta, sim, pela criminalização da atitude homofóbica. Uma luta atravancada, infelizmente, por conta de visões e atitudes confusas e cegas, conforme consta na programação da Parada do Orgulho Gay organizada pelo GGR. Líderes despreparados, transloucados, sem conhecimento profundo e sem a menor noção da envergadura dos tentáculos do preconceito se colocam na frente do movimento e, vaidosamente, teimam em liderar grandes acontecimentos vinculados à cultura homossexual, focando na direção errada.

Já não bastam as posições excludentes de fundamentalistas religiosos taxando os homossexuais como coisas demoníacas e atrozes. Agora somos obrigados a assistir e engolir um grupo de homossexuais - que deveria defender e promover a cidadania LGBT - realizar um seminário contendo uma programação com clara atitude de retrocesso, recolocando as relações homoafetivas na condição patológica de enfermidade. Uma concepção, no mínimo equivocada, enveredando o movimento na contramão das manifestações sociais de todas as classes e setores da sociedade, que vão às ruas por conquista de dignidade e respeito.

Analisando a história recente do movimento gay em Rondônia, constatamos várias ações assertivas, onde foram promovidas importantes e necessárias discussões entre a sociedade e o Estado, visando institucionalizar políticas reparadoras para o segmento. Cito, a exemplo, o Seminário Estadual que discutiu políticas públicas para segurança e o combate à homofobia; a Conferência Estadual LGBT e o Seminário Nacional de Lésbicas, este realizado em Porto Velho com financiamento da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres.

Ao observar a fútil e equivocada programação da Semana da Diversidade, predominante mente festiva, infértil no campo das discussões profundas, conclui-se que a população LGBT ainda está no início de uma longa e grande caminhada por direito e respeito. Caminhos e descaminhos, algumas vezes transloucos e ziguezagueado, talhados por lideranças porras-loucas, vaidosos e míopes, aclamadas como nomes (absurdamente equivocados) expoentes do movimento.

Os organizadores da Parada e da Semana da Diversidade (pseudos líderes, desbotados promoter de shows transformistas, DJ’s de boate de quinta categoria e ouros profissionais irrelevantes), são, na verdade, ratazanas oportunistas (heterossexual ou homossexual), viciadas em corredores e gabinetes de repartições públicas. Catitas que rifam a causa LGBT por panfletos, cartazes, crachás, copos descartáveis, trios elétricos, meia dúzia de camisetas (onde consta grafado, em letras garrafais: Coordenação da Parada), com um único propósito: realizar a Parada carnavalesca, sem idéias claras, nenhum discurso próprio, sem pautas reivindicatórias e posicionamento ideológico claro, apenas para a autopromoção de seus líderes medíocres.

Após oito anos de sucesso de público, é momento do grupo responsável pela realização e organização da Parada adotar uma postura de conferência e discussão dos avanços e retrocessos no plano das conquistas sociais alcançadas ou não por gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis. A reflexão sobre as atitudes empreendidas pelo segmento e a reorganização estratégica e política do movimento deverão ser uma prática constante, com o propósito de se promover um enfrentamento vitorioso para conquista dos direitos mínimos do cidadão homossexual, e assim, erradicar-se definitivamente das relações sociais, o preconceito e a homofobia.

(*) Aluno do Curso de História da Universidade Federal de Rondônia e músico. Endereço eletrônico: victorgabriel1963@gmail.com

(Artigo publicado no rondoniaovivo.com.br em 27/08/2010)

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