terça-feira, 17 de agosto de 2010

Artigo: As ativistas TLGB e o anti-partidarismo

II Marcha Municipal pela Diversidade Sexual - Porto Velho, Zona Leste


Por Léo Mendes (*)



Todo ano par no Brasil a história se repete: Um grupo de ativistas Travestis, Transexuais, Lésbicas, Gays, Bissexuais – LGBT aparecem nas variadas listas virtuais e nos diversos eventos públicos para dizer que o movimento social LGBT é apartidário. Na verdade, essas pessoas não querem um movimento apartidário, mas sim, anti-partidário. Qual a diferença? Um movimento apartidário é aquele que não permite que os movimentos sociais , formado por ONG, sindicatos, grupos religiosos, estudantis e populares que se deixem virar correia de transmissão de um único partido. Já o anti-partidarismo é aquele que não permite de forma alguma que sujeitos políticos e que possuem um partido político possam se expressar publicamente nos movimentos sociais.



Os anti-partidários proíbem a presença de pessoas que tem partidos, nos eventos “políticos” do movimento social, moderam e até vetam as falas de militantes do movimento social que possuem partido. Este movimento é tão fundamentalista, como o religioso. Conhece aquele discurso do fundamentalista “religioso” que não discrimina homossexual, que não tem preconceito, que até tem homossexual na sua igreja ou no seu gabinete, mas que é frontalmente contra a prática do que chamam “homossexualismo”, de que o Homossexual se comporte como Homossexual nos seus cultos e nos espaços políticos. Pois é, este mesmo discurso é aplicado contra os partidaristas dentro do movimento social. Os anti-partidaristas dizem “ Não temos nada contra as pessoas que tem partido, até temos gente aqui do partido A, B e C” , mas não aceitamos que se posicionem publicamente com relação ao seu sentimento partidário e nem que sejam partidários dentro do movimento.



A intolerância dos anti-partidaristas, pode ser levada a um exemplo prático. Imagina em um ano de copa do mundo, pessoas de todo mundo com suas preferências de torcidas, resolvem falar mais sobre futebol, sobre o amor ao seu time, sobre o ódio ao time adversário. De repente alguém entra em um bar, em uma festa de aniversário, em um transporte público e baixa a norma “ não temos nada contra as torcidas e os times , muito pelo contrário aqui dentro tem torcedor da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Espanha”, mas não admitimos que vocês falem de futebol e expressem o seu sentimento aqui neste bar, neste ônibus, nesta festa ou em qualquer espaço. Finalizam os fundamentalistas: Lugar de futebol é no Estádio.



E qual é o lugar da política para os fundamentalistas anti-partidaristas? Certamente, que para eles e elas é nos Partidos Políticos. O mais interessante é que a Constituição Federal permite a liberdade de expressão e proíbe a censura de comunicação, mas os anti-partidaristas só aceitam a palavra apolítica deles, os outros ( os partidaristas ), devem se calar e falar somente aquilo que os anti-partidaristas querem.

A ditadura dos anti-partidaristas se amplia nos anos pares do Brasil, como agora em 2010, quando teremos eleição para Presidente da República, de Senadores e Deputados. Até os cães e gatos da cidade torcem por algum partido, algum candidato. Nas esquinas, nas padarias, nos sindicatos, nas igrejas, nas escolas, no transporte público, no cabaré, nos LGBT points, na TV, no Rádio, na casa da pessoa, em todo lugar, só se fala nisso: Eleição, candidatos, partidos. Mas os intolerantes anti-partidaristas querem que nas Ongs e nas listas LGBT os partidaristas se calem.



Há uma explicação para isso. Durante o regime militar, era norma baixada por quem estava no “pudê” de que não se podia falar de política e de partidos em movimentos sociais e até não se podia permitir a dirigentes de sindicatos, movimentos estudantis se filiarem a partidos. Muitos foram mortos, torturados, por que expressavam seu partidarismo e seu descontentamento com o regime militar. 20 anos de ditadura e os filhos dela continuam ai, nas listas, nas ONGs, teimando em proibir as pessoas com partido de se expressarem publicamente e especialmente em espaços de política, como as Ongs, Sindicatos, Grêmios, Movimentos organizados.

Alguns, nem tem idade para se lembrar como os Militares agiam. Sindicatos e movimentos que ousassem discutir política e partidos, tinham seus dirigentes cassados pelo regime e havia a intervenção nestes movimentos sociais por gente “anti-partidarista”. Na visão dos ditadores, ao se proibir a discussão política e partidária e garantir coma cassação da palavra o direito de fala do diverso, estava se garantindo af finalidade daquele movimento como prestador de uma boa assistência social aos seus pares. Assim os Sindicatos bons eram aqueles que tinham barbearia, dentistas, oculistas, cesta básicas, mesas de sinuca. Barizinhops, salão de festa para seus associados. Sindicato ruim era aquele que tinha os partidaristas ( os comunistas que iam comer até criancinha). Estes deviam ser presos e seus sindicatos fechados para o bem geral da “maioria” dos anti-partidaristas.

A esquizofrenia dos anti-partidaristas é tão grande, que num momento de delírio eles querem moderar listas, vetar mensagens, impedir as pessoas de se expressar, nomeiam e caçam aqueles que tem partidos, os desqualificam como partidaristas, os reduzem a inimigos do movimento social . Quando o Gardenal começa a funcionar, e estão menos alterados , os anti-partidaristas perguntam : E o quê os partidos estão fazendo por nós? O que o presidente, o Governador, o Senador , o Deputado estão fazendo?



Alguns chegam na reunião e dizem. Olha, aqui não é permitido falar de partido. Vamos a pauta da reunião.Violencia contra LGBT, Desemprego das Travestis e Prostituição, Discriminação nas Escolas, Falta de apoio do poder público para os eventos LGBT, ausência de leis que garantem nossos direitos. Interessante que ninguém, depois que a discussão começa, impede os que falam o nome e partido dos que não estão fazendo política no Poder. Mas os esquizofrênicos, não aceitam que se fale de partido no local. Nem na mais fureca da Igreja intolerante deste país se vê tanta alienação. Lá na Igrejinha do pastor ou padre intolerante, ele não fala em outra coisa: Qual partido vamos apoiar, qual candidato vamos votar. Mas no movimento LGBT, os fundamentalistas anti-partidaristas com sua alienação de ultimo grau, não permite, nem em ano eleitoral, que os partidaristas se expressem. Vamos discutir tudo, dizem os anti-partidaristas, menos os programas de Governos dos partidos, dos Candidatos.



Os anti-partidaristas tem todo direito de expressar o seu repudio aos partidos, mas precisam aprender a conviver com a diversidade, especialmente com aqueles que acreditam que o partido , o Presidente, o Governador, o senador, o Deputado só vão fazer alguma coisa por nós, por eles ( os anti-partidaristas) o dia que percorrermos o longo caminho do Poder. E o longo poder do caminho político começa por se discutir Estado e Partidos. O Partido tem como fim a chegada no poder em todas esferas e a transformação social ( esquerdas ) ou conservação social ( centro e direita ) . Quem define a pauta do presidente , do senador, do deputado, do Governador, não é certamente, aqueles que pregam o anti-partidarismo e depois vão pra um evento de massa como a parada para alienar a massa, a multidão com falas absolutamente lunáticas .Quem pauta a questão LGBT para o presidente , para o Governador, para os deputados e senadores, são os partidaristas, dentro do seu partido, nos programas de governos, nas reuniões partidárias, nos encontros, congressos e convenções partidárias.



Poucos sabem, mas são os partidaristas do PSDB que pautaram internamente em seu partido, as políticas públicas prioritárias que foram desenvolvidas, por exemplo, no Governo Serra. No Governo Lula, toda a ação política pro LGBT surgiu das discussões do setorial nacional LGBT do PT. No Governo de Dilma ou Serra, não será diferente, quem irá determinar a prioridade política LGBT serão os partidaristas de Serra ou de Dilma. Não bastassem os fundamentalistas religiosos mandando os partidaristas LGBT calarem a boca, agora vem os hereditários do regime militar dizer que em listas , em ONGs LGBT , partidos não entram.



É crime constitucional proibir a expressão de partidaristas, em qualquer espaço privado neste país, especialmente em ano eleitoral. Listas, Ong, Sindicatos, são espaços privados de um grupo que acredita que só a política é capaz de mudar suas vidas. O fim da ditadura, do exílio, da tortura política, da proibição de filiação partidária e expressão política de lideranças sociais, do bipartidarismo, aconteceu com o fim dos anos de chumbo. A Constituição de 1988 garante o amplo direito a liberdade e a expressão. Os que não quiserem ouvir falar de política, de partidos, que procurem um lugar mais propício. Talvez num campo de meditação no Tibet, ou num mergulho no oceano atlântico. Basta de fundamentalismo e intolerância dos apolíticos contra os partidaristas neste pais. Somos um movimento apartidário , mas nunca anti-partidário.



* Léo Mendes – Presidente da Aliança LGBT de Goiás




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