terça-feira, 17 de agosto de 2010

MÁGICAS DO MAGO DO MAMORÉ

Ednart, o Van Gogh do Mamoré

O maior confronte de bumbá que acontece lá pelas bandas do Vale do Mamoré se encerrou neste domingo último. Foram três dias de feroz peleja travada entre os dois grandes ilustres duelistas, filhos da aconchegante e tranqüila cidade de Guajará-Mirim (orgulhosamente minha terra natal).



O Flor do Campo - o boi-bumbá das cores vermelho e branco comandado por Dona Georgina e seu esposo Mário -, enfrentou pela décima sexta vez seu arquirrival e desafeto único Malhadinho - o bumbá contrário defensor das cores azul e branco, dirigido pelo talentoso artista Cleiton Lopes. O aguardado confronto entre os titãs culturais aconteceu na arena do bumbódromo inacabado da Pérola do Mamoré, cenário de guerra montado para abrigar o violento combate estético, visto em toda região como o mais espetacular e luxuoso enfrentamento folclórico, também conhecido por Duelo da Fronteira.

Inúmeros são os profissionais que constroem este belíssimo espetáculo de cultura popular. Costureiras, artistas, artesãos, serralheiros, batuqueiros, músicos, lindíssimas moças e saudáveis rapazes - abnegados dançarinos -, enfim, profissionais das mais variadas linguagens artísticas e colaboradores de todas as áreas empenham-se para apresentar o mais refinado e emocionante espetáculo de cores, inéditas alegorias articuladas, ricas fantasias e os mais surpreendentes efeitos de luzes e ritmos, apreciados por um grande e fiel público, que assiste a tudo, incrédulo e atento, sempre aguardando a próxima surpresa.

Ednart, o alquimista da cor
Dentre tantos talentos, destaca-se um grande artista. Artista com “A” maiúsculo, portador de uma sensibilidade estética imensurável e detentor de extraordinário talento e criatividade. Um mágico. Um mago.

Analisando a produção artística apresentada nos dois últimos Festivais Folclóricos de Guajará-Mirim é possível constatar o potencial criador do profissional contratado pelo bumbá de Dona Georgina. O calibre desse profissional pode ser comprovado também nos últimos carnavais de Porto Velho, onde o mesmo vem dando prova de sua competência e criatividade. De suas mãos encantadas brotaram surpreendentes e monumentais formas alegóricas que encantam o mais exigente público, amante de belos objetos de arte.

O resultado do Festival Folclórico de Guajará-Mirim, 2010, consagrando o Boi-Bumbá do Bairro Tamandaré, o Flor do Campo, confirma definitivamente Ednart Gomes como o mais talentoso e criativo artista para concepção e materialização de alegorias para bois-bumbás, escolas de samba e quadrilhas juninas. Tem mãos mágicas. Imaginação sem limites e uma dedicação incomum. Um verdadeiro e irrequieto profissional, comportamento típico dos grandes mestres da arte universal. Um bruxo das formas.

Indiscutivelmente criativo nas formas esculturais - como se isto fosse pouco - o artista ainda passeia por uma palheta de cores, especialmente entre as quentes e vibrantes, com eloqüência, saindo de um gama a outro, como uma bailarina evolui na penumbra de um palco, indo de um lado a outro da palheta, em um risco coreográfico que parece flutuar. Assim Ednart cobre de cores suas alegorias. As mãos mágicas do genial Mago do Mamoré usa magistralmente um leque de pigmento que abusa, elegantemente, das cores primárias, secundárias, terciárias e quartenárias; trabalha equilibradamente as cores contrastantes e complementárias, enfim, é a reencarnação do genial e louco pai do expressionismo cromático, o holandês Vincent van Gogh. Eis aí Ednart Gomes, na minha compreensão, também um alquimista das cores.

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