sábado, 19 de setembro de 2015

FESTIVAL FOLCLÓRICO DE GUAJARÁ: NA COXIA DO ESPETÁCULO




Ednart Gomes
Neste sábado, 19, acontece a cerimônia de lançamento oficial da 19° edição do Festival Folclórico de Guajará-Mirim. A solenidade será realizada na área externa do Ginásio de Esporte Afonso Rodrigues, e contará com a participação de convidados, brincantes, autoridades, imprensa e apresentações especiais de trupes dos dois grêmios culturais.

Enquanto os organizadores tratam dos preparativos para realização do Duelo da Fronteira, evento popular que volta à cena cultural da cidade perolense, após dois longos anos de forçada hibernação, nos bastidores do espetáculo, freneticamente, um contingente de artistas e artífices trabalham, incansavelmente, para formatar um dos maiores espetáculos de cultura popular do Estado de Rondônia.

Nossa coluna de hoje joga luz na “coxia do espetáculo”, para visibilizar um dos maiores artistas que, desde há muito, contribui com este extraordinário impressionante evento cultural: Ednart Gomes, o mago da fronteira.

Inúmeros são os profissionais que constroem este belíssimo espetáculo que contorna a identidade cultural do povo rio-mamorense. Anônimos ou desconhecidos, sob a cortina da coxia, esmeradamente trabalham costureiras, artistas, artesãos, serralheiros, batuqueiros, músicos, lindíssimas caboclas e rapazes dançarinos, um verdadeiro e abnegado grupo de profissionais, dos mais variados matizes artísticos – além de muitos colaboradores de todas as áreas -, empenham-se para apresentar o mais refinado e emocionante espetáculo de vibrantes cores, inéditas e monumentais alegorias articuladas, ricas fantasias, pulsantes coreografias e os mais surpreendentes efeitos de luzes e ritmos, apreciados por um e fiel público, que assiste a tudo, incrédulo e atento, sempre aguardando a próxima surpresa.

Dentre tantos talentos, destaca-se um grande artista. Artista com “A” maiúsculo, portador de uma sensibilidade estética imensurável e detentor de extraordinário talento e criatividade. Um mágico. Um mago. Veja, a seguir, nossa conversa com Ednart Gomes, que aconteceu espontaneamente na ‘coxia do espetáculo’:

Ariel argobe – É de verdade? Realmente começaram os trabalhos da equipe de artistas que vão confeccionar as alegorias do Boi-bumbá Flor do Campo, para o Festival Folclórico de Guajará-Mirim 2015?

Ariel Argobe e Ednart Gomes (entrevista)
Ednart Gomes – Iniciamos hoje nosso trabalho. Cheguei hoje (16) em Guajará-Mirim, por volta das 04h30min e já estamos aqui trabalho. Neste momento nós estamos fazendo um levantamento do material que já existe, como por exemplo, base de alegorias e estruturas de lança, que dão sustentação às alegorias articuladas e que serão utilizadas no festival. Hoje, em Parintins é assim: lança, base, material pesado são equipamentos permanentes de uso duradouro e utilizados em vários festivais. E é isto que nós estamos fazendo agora, separando este equipamento. O Boi Flor do Campo tem uma boa estrutura de base.
Ariel Argobe – Além desse material permanente de estrutura, o que mais será reutilizado pela equipe de alegorias?

Ednart Gomes – O trabalho de arte, de criação propriamente dito, este se aproveita pouco ou nada mesmo, porém, vamos fazer o máximo possível para aproveitar e readequar artisticamente, material de acabamento, ainda usável, particularmente no que se refere aos detalhes confeccionados em isopó.

Ariel Argobe – Durante muitos anos você morou e trabalhou aqui. Foi o responsável pela equipe de alegorias do Boi Flor do Campo. O ano passo você retornou a sua cidade Juruti, e lá trabalhou no Festival das Tribos. Como foi a experiência?

Ednart Gomes – Foi um trabalho muito bom. Foi maravilhoso me reencontra com o Festival das Tribos, com os artistas da cidade, brincantes e com todos os amigos e familiares que fazem aquele grande festival. Foi um trabalho de arte realizado por mim e por meu irmão Kbral (Ernanes Gomes). Foi um espetáculo diferente e inovador, pois, pela primeira vez aconteceu na arena de apresentação, três grandes momentos do espetáculo da tribo Muirapinima. Momentos que deixaram o público encantado e emocionado.

Ariel Argobe – Artisticamente, como seu deu este grande momento?

Ednart Gomes – Os três momentos ápices do espetáculo da Tribo Muirapinima consistiam na movimentação, em cena, de três monumentais cenários, além das alegorias e lanças de grande porte, que ocuparam, de maneira impressionante, toda arena de apresentação.

Ariel Argobe – Depois de realizado os trabalhos para o Duelo da Fronteira, qual será seu próximo festival?

Ednart e Kbral Gomes
Ednart Gomes - Em novembro irei trabalhar no Festival de Fonte Boa. Como aconteceu em alguns municípios, o festival de lá foi transferido para novembro, por questão de atraso no repasse dos recursos financeiros públicos, entraves similares aos que motivaram também o adiamento do Festival Folclórico de Guajará-Mirim.
Ariel Argobe – Sobre o Festival Folclórico de Guajará-Mirim, evento popular que durante longos anos você contribuiu de maneira significativa para consolidá-lo efetivamente, o que o público pode esperar de surpresa, no que se refere ao trabalho artístico dos irmãos Ednart e Kbral Gomes?

Ednart Gomes - A expectativa e que continue crescendo, ou que, no mínimo, continue de onde parou. Para mim, o festival de 2012 foi o melhor Duelo da Fronteira. Foi quando o festival chegou em seu máximo, em termos artístico e em termos de estrutura, se comparado com todos os anos que estou aqui em Guajará trabalhando no boi - eu cheguei aqui em 2000. Se tivesse acontecendo com o mesmo padrão de 2012, sem interrupção, eu acredito que o festival deste ano seria um dos maiores espetáculos de cultura da Região Norte, em termos de boi-bumbá. Hoje, que eu me reencontrei com todas estas estruturas aqui existentes, eu até me assustei. Tem muito festival por aí que não tem estrutura que existe aqui Guajará-Mirim.

Ariel Argobe – Como é a experiência, ou melhor, a dobradinha dos irmãos Gomes, agora trabalhando na mesma agremiação cultural? É a primeira vez dos irmãos Gomes no boi vermelho?


Ednart Gomes
Ednart Gomes – Não é a nossa primeira vez no Flor do Campo. Nós já trabalhos juntos, acredito que foram três anos. Acho que a maioria dos brincantes do Boi Flor do Campo sempre esperou por este nosso reencontro no bumbá de D. Georgina, defendendo as cores vermelha e branca. Acho que vai ser um bom trabalho, pois são duas cabeças pensando a plástica do espetáculo, no caso, dois artistas de alegorias que sempre fizeram o Festival Folclórico de Guajará-Mirim, outrora em campos opostos, agora fazendo um único boi. Vai ser uma retomada de festival com esta novidade: Kbral e Ednart, uma boa união que vai chamar muito a atenção do público e dos brincantes.

Ariel Argobe – E a visita a D. Georgina, como foi o reencontro?

Ednart Gomes – Sempre nutri muito respeito por D. Georgina e pelo Seu Mário. É a D. Georgina a responsável por tudo de bonito que acontece em termos de festival aqui em Guajará. Foi ela quem começou com este rico espetáculo, propondo, um dia, a realização do festival. Estive lá com ela, fui tomar a benção à matriarca do Flor do Campo. Devo muito ao casal.

Ariel Argobe – Como foi pra fechar o contrato com a atual Diretoria do boi?

Ednart Gomes – Acho que a negociação demorou um pouco, provavelmente por conta da morosidade do repasse financeiro para aquisição de material. Acho que não é em razão da crise, pois quando o festival parou, há três anos, não havia esta crise econômica; quase não se falava em crise. Acho também que a demora foi por falta de informações sobre material a ser comprado, a quantidade, o projeto e a estrutura necessária para o espetáculo como um todo. Eu não moro mais em Guajará, e toda negociação foi feita pelo meu irmão Kbral. Ele foi o responsável por esta parte, pois ele mora na cidade e ficou mais fácil pra ele fazer toda a costura da negociação. Ele está na frente do trabalho.

Ariel Argobe – Temos tempo para fazer um grande trabalho em termos de alegorias?

Ednart Gomes – O tempo e curto, mas é possível fazer um trabalho bom. Eu acredito muito na capacidade, na liderança e no trabalho do meu irmão Kbral. Acredito também na capacidade de todos os artistas e brincantes que fazem o Boi—Bumbá Flor do Campo. Agora serão duas cabeças pensando. Acho que o público, os brincantes e os turistas vão se surpreender com o resultado. Será um grande festival. Um retorno para consolidar a grandeza do Festival Folclórico de Guajará-Mirim.

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