Dra. Patrícia Helena dos Santos Carneiro*
A
batalha pelo seu direito é
um dever da pessoa cujos direitos
foram violados para com ela mesma.
um dever da pessoa cujos direitos
foram violados para com ela mesma.
(Rudolph Von Ihering. A luta pelo Direito.)
Turma do Curso de Direito da UNIR de Guajará-Mirim |
Se poucas pessoas, em toda Rondônia,
sabem da existência do Curso de Direito ofertado pela Universidade Federal de
Rondônia (UNIR) em Guajará-Mirim, menos ainda são aqueles que sabem existir uma
contenda que dilacera a carne dos guajaramirenses neste tema central, entre
pessimistas e lutadores: Lutamos com poucas forças aqueles e aquelas que somos
a favor de estabilizar um Curso de Direito da UNIR em Guajará-Mirim. Dois fatos
ainda despertam intenções nada benevolentes frente à manutenção deste Curso na
nossa Pérola do Mamoré: O fato de ser fruto da ideia de um professor
determinado e o fato de poder receber aporte de verbas
estaduais, provocando ciúmes de todos os lados.
A primeira turma de Direito em
Guajará-Mirim iniciou os seus passos em 2013, após liminar do juiz federal que
ordenou à UNIR cumprir a oferta prevista do Curso, planejada, em convênio com o
Estado de Rondônia, para ser derivada do seu similar, existente na UNIR de
Porto Velho há duas décadas. O nosso Conselho Superior Acadêmico, do qual hoje
faço parte, deliberou pelo cumprimento da liminar, mas estabeleceu que o Curso
seria oferecido mas que a turma seria finita.
Desde então nós os “otimistas”, os
acadêmicos na sua quase totalidade, e as duas únicas professoras do Curso, cumprimos
com o nosso labor dentro das condições oferecidas pela Instituição, porém
insistimos na oferta regular do Curso, com garantia de entrada anual –e toda a
sua consequente derivação: contratar docentes e técnicos, obter recursos
específicos: laboratórios, prédios, Núcleo de Prática Jurídica, mil títulos na
biblioteca, entre outras obrigações do MEC.
Após dezoito meses, como professora
em estágio probatório, pergunto-me: Quais razões ainda impediriam a criação de
um Curso de Direito estável em Guajará-Mirim? Já temos uma turma com mais de
sessenta discentes, que, como primeira turma, sofre com a pouca estrutura e com
os poucos professores, mas estamos seguindo, dando o nosso melhor para o Curso.
É quase unânime a aceitação da Sociedade em favor da abertura de vagas regulares,
via ENEM, a um Curso de Direito permanente em Guajará-Mirim.
Como fruto desta vivência do Curso, discentes
do quinto período de Direito desenvolveram diversos projetos de boa repercussão
social, como raros possuem, diga-se, tal como o Projeto Aprender Direito, que oferece gratuitamente aulas para quem
deseje concorrer ao concurso da Defensoria Pública do Estado de Rondônia. Tenha
ou não o estudante um resultado satisfatório na sua atividade, o fato que se
destaca é o aumento da base de conhecimento jurídico de parcelas da Sociedade.
Para este Projeto exemplar buscaram os
nossos discentes a parceria de uma entidade privada que os apoiou, cedendo
espaço físico e apoio para divulgação. Merecem o meu respeito estes acadêmicos
e a entidade que os apoiou. Merecem acolhida pelos órgãos competentes todas as
iniciativas derivadas do interesse em manter viva a chama do estudo sistemático
do Direito em Guajará-Mirim.
Os acadêmicos, ainda em formação, já
contribuem (e gratuitamente) para o desenvolvimento socioeducativo da Comunidade.
Além destas pessoas, neste momento, todos os outros acadêmicos do Curso realizam
outras ações sociais e voluntárias para popularizar e divulgar o saber jurídico,
clara ação plural de Cidadania, em prol de uma Guajará-Mirim mais consciente e
mais plena de si. Imagine a contribuição destes profissionais após concluído o seu
Curso! Exercer uma profissão, ser cidadãos no mundo, qualquer horizonte ficará
melhorado com esta construção educativa.
Insisto em afirmar que o Curso de Direito
já está contribuindo, e poderia sim contribuir muito mais, para o
desenvolvimento de Guajará-Mirim, porque nunca será demais a formação de
profissionais nesta área geográfica historicamente periférica, como é a nossa: afastada
dos grandes centros e visitada quase sempre somente por ocasião dos turnos
eleitorais.
Como professora do Curso de Direito,
acredito que deva ser criado um Curso regular de Direito em Guajará-Mirim,
dotado de corpo docente próprio e com toda a estrutura administrativa e
funcional que essa alternativa merece.
Esqueçamos, por favor, de argumentos
que desmerecem a cidade ou argumentos típicos de temores de “fuga de
professores para Porto Velho” ou a outra cidade do Brasil. Esta construção dependerá
de nós, do nosso esforço em proteger o trabalho e as iniciativas das pessoas.
Por que escolher argumentos negativos quando podemos formular argumentos
poderosos baseados no direito de as pessoas exercerem mais condignamente os seus
valores da cidadania e no direito à educação?
Pergunto-me ainda a quem interessaria
afastar de Guajará-Mirim o Curso de Direito bem como fazer perderem-se cursos
de pós-graduação que poderiam transformar esta cidade e possibilitar um futuro
melhor para a juventude!
Relembro-lhe, caro amigo, cara amiga,
que a ausência de Estado permite a presença de outras forças menos cidadãs que
sugam o sangue, o dinheiro e a vida das pessoas. O descaminho, o contrabando, o
tráfico de drogas, a contaminação ambiental, atraem, por um lado, forças necessárias
da repressão e do controle, enquanto, por outro lado, o papel da Universidade
deve ser o de municiar os cidadãos com conhecimento e formação de qualidade,
fazê-los participar da realidade do local, conceder titulações que os permita
evitar chegar a aquelas situações-limite.
Acredito sim que, em tempos da tão
decantada Pátria Educadora, a Universidade Federal de Rondônia deve lançar o
olhar também para estas paragens fronteiriças do poente, distantes de Porto
Velho, para cumprirmos com a Missão da Academia: Olharmos para a frente na
construção do espaço do saber, cumprirmos com os pleitos que estão presentes no
Plano de Desenvolvimento Institucional da UNIR para a nossa cidade, pensarmos
na maior contribuição que um Curso de Direito proporciona aos jovens guajaramirenses.
O conhecimento, neste rincão da Amazônia,
ajudará a superarmos os feudos políticos e um subdesenvolvimento latejante. Sejamos
destemidos em prol da implantação de cursos de graduação públicos e gratuitos! Conclamo
a Sociedade de Guajará-Mirim a reivindicar das forças políticas a implantação
de um Curso de Direito regular na cidade.
Profa. Dra. Patrícia Helena dos S. Carneiro |
A Pérola do Mamoré deverá voltar a brilhar quando todos e todas assumirmos como nossas as batalhas pelo desenvolvimento local e pelo futuro das gerações de guajaramirenses! O Curso de Direito para Guajará-Mirim é apenas uma das batalhas!
* Patrícia Helena dos Santos Carneiro,
advogada, é doutora em Direito, professora do Departamento Acadêmico de
Ciências da Administração do Campus
de Guajará-Mirim da Universidade Federal de Rondônia, eleita ao Conselho
Superior Universitário.
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