Procissão do Mastro, Irmandade do Sr. Divino de Guajará-Mirim |
Por
esta época do ano, dentre tantas manifestações populares religiosas, desponta,
destacadamente, as festividades religiosas ao Senhor Divino do Espírito Santo.
As
procissões e festas de perfis religiosos que acontecem no município, além de
estarem presentes em vários momentos do ano, configuram-se, também, em
acontecimentos importantes na vida social dos que aqui vivem.
IRMANDADE
DO SENHOR DIVINO ESPÍRITO SANTO DE GUAJARÁ-MIRIM
Devota do Divino, procissão do mastro |
Na
Pérola do Mamoré, cidade de profunda fé e tradições religiosas populares, a
força do Senhor Divino Espírito Santo se multiplica por três.
Duas
outras irmandades também organizam novenas e atividades festivas ao Senhor
Divino: a Irmandade do Divino Espírito Santo da Ilha Saldanha, coordenada pela
devota Joana Darc Dias de Souza; e a Irmandade do Divino Espírito Santo do
Bairro Santa Luzia, comandada pela religiosa Eduarda Calazans Shoré.
O
DIVINO ESPÍRITO SANTO DA ILHA SALDANHA
Joana Darc Dias de Souza, Coord. Divina da Ilha |
Ariel
Argobe – Onde e quando começaram as atividades da Irmandade do Divino Espírito
Santo da Ilha Saldanha?
Joana
Darc – A nossa irmandade começou na Ilha Saldanha e foi fundada no dia 11 de
maio de 1964, pelo meu pai José Dias e minha mãe Sra. Eliséia Leguisamon
Monteiro.
Ariel
Argobe – O que levou seus pais a organizarem um irmandade dedicada ao Divino,
aqui em Guajará-Mirim?
Joana
Darc – Os motivos que levaram meus pais criarem a Irmandade foi mesmo por
questão de promessa ao Divino; e também porque ela (Sra. Eliséia) era lá do
Vale do Guaporé, então nós herdamos esta tradição religiosa de lá. Ela (Sra. Eliséia)
herdou e deixou pra nós. Meus pais vieram lá de cima (Vale do Guaporé) no ano
de 1949. Morávamos em Pedras Negras, e lá meus pais participavam das festas
religiosas da Irmandade Geral do Divino Espírito Santo do Vale do Guaporé.
Ariel
Argobe – A partir de que momento a senhora passou a organizar as atividades do
Divino da Ilha Saldanha?
Procissão do Mastro, Divino da Ilha Saldanha |
Ariel
Argobe – Em que consiste a festa do Divino da Ilha Saldanha?
Joana
Darc – Começamos com novenas aqui na capelinha. Nove dias antes (da cerimônia
do levantamento do mastro do Divino). Até hoje estamos aqui nesta luta, fazendo
a festa. As pessoas aqui se juntaram e fizeram uma diretoria e estão ajudando a
realizar os festejos do Divino.
Ariel
Argobe - A diretoria da irmandade está constituída em termos jurídicos?
Joana
Darc – Não temos uma diretoria constituída assim não. São pessoas da comunidade
mesmo e não temos uma pessoa que é o presidente. É gente da família mesmo e tem
algumas pessoas de fora e eu coordeno.
Divina da Ilha Saldanha: Cortejo do Divino |
Joana
Darc – Já tem dois ou três anos que construídos. É aqui que realizamos as
novenas.
Ariel
Argobe – Quais são as atividades do dia de hoje (23/05/2015, sábado, dia da
realização da cerimônia do levantamento do mastro com a bandeira do Divino)?
Joana
Darc – Hoje nós vamos realizar os sorteios. Nós vamos sortear, entre os
‘festeiros’, quem vai ser o imperador, a imperatriz, o capitão do mastro,
alferes, encarregado da Coroa. São eles que ficaram responsáveis, a partir de
agora, em organizar os festejos do ano que vem. São os responsáveis em
organizar toda a festa. Os sorteados do dia de hoje, recebem as faixas dos que
foram sorteados no ano passado.
Divino da Ilha, preparação do almoço servidos aos romeiros |
Joana
Darc – Não. Nós realizamos novenas nas residências aqui do bairro. Só ficamos
aqui mesmo no bairro do Triângulo.
Ariel
Argobe - Desde quanto o Divino da Ilha acontece aqui no bairro do Triângulo?
Joana
Darc – Tem 16 anos que realizamos os festejos do Divino aqui neste endereço;
desde quando mudamos da Ilha Saldanha pra cá. E, desde quando começamos, em 1964,
nunca milha família deixou de realizar os festejos. Quando começamos, eu tinha
11 anos e este ano (2015) eu completo 72 anos.
O
DIVINO ESPÍRITO SANTO DO BAIRRO SANTA LUZIA
Divino do Santa Luzia |
Eduarda Calazans Shoré, Coord. do Divino do Sta.Luzia |
Dona
Eduarda – Sou filha do Guaporé. Nossa festa tem origem nos festejos do Vale do
Guaporé. Eu estou aqui em Guajará desde 1973 e comecei a realizar esta festa em
1993.
Ariel
Argobe – O que lhe motivou a realizar festejos ao Divino?
Dona
Eduarda – Eu recebi uma graça do Divino Espírito Santo, através de um médico
muito amigo da família, Dr. Pascoal. Numa determinada ocasião, meu filho
brincando, correndo, sofreu um acidente e quebrou duas costelas. Então ele
ficou muito doente. Aí um dia eu estava indo para o meu trabalho e eu ia
levando ele (o filho enfermo). Aí encontrei o Dr. Pascoal e ele me perguntou o
que que o menino tinha. Aí eu contei. Então ele falou: “eu vou levar teu filho
para fazer uma cirurgia, e me perguntou se eu acreditava no Divino Espírito
Santo.” Eu respondi: claro doutor, sou filha do Guaporé. O Dr. Pascoal fez o
tratamento do meu filho, sem precisar levar pra fora pra fazer cirurgia. Então
ele me disse: “só tem uma coisa milha filha, enquanto você estiver viva, você
seja grata a este Espírito Santo. Foi ele que me deu luz para fazer este
trabalho no seu filho”. Ele salvou meu filho, com o poder de Deus; com a
vontade do Divino Espírito Santo. Hoje meu filho está com 47 anos, se chama
Francisco Lopes Linhares e é funcionário da Fundação Nacional de Saúde. Foi aí
que eu comecei fazer a festa. Então eu comecei fazer uma coisa simples, um jantar.
Aí um amigo da família Quintão me disse um dia: “Anita (forma carinhosa como
Dona Eduarda e chamada por familiares e amigos próximos), vamos ampliar esta
festa” Então eu disse ao Mário que eu não tinha condições e ele me disse que me
ajudaria. E, a partir daquele dia, o Professor Mário, devotos do Divino e
outros amigos passaram a colaborar com a festa, doando arroz, óleo, feijão, açúcar,
carne de frango, carne bovina. Tenho um amigo que ajuda muito, mas pede para
não falar o nome. Ele não gosta.
Devotos, Divino do Santa Luzia |
Doações, Divino do Santa Luzia |
Dona
Eduarda – Não. Eu faço a novena aqui em casa. A novena começa nove dias antes
do Dia de Pentecostes. Este ano começou no
dia 16 de maio, e no dia 24 encerramos as novenas, e aí servimos um almoço para
todos. No próximo sábado, dia 30, nós vamos realizar a cerimônia da descida do
Mastro do Divino. Depois desta cerimônia, nós vamos fazer o sorteio dos nomes
para composição do Cortejo do Divino. Na nossa irmandade tem gente da minha
família, da família Quintão e da Família Brasil. Sou feliz por isto. Faço tudo
isto não por mim. Primeiramente por Deus, depois pelos festeiros, para louvor e
para se divertirem. Durante as novenas, tem mingau, tem lanche, tem paçoca, tem
comida da região. Vem gente de Porto Velho, de Costa Marques e de outros
lugares. É uma festa muito bonita para celebrar o Divino.
E
assim é Guajará-Mirim de forte fé e rica tradição. Na Pérola do Mamoré, os
festejos expressivos dedicados ao Divino são marcados por profunda e singular manifestação
de fé. A devoção ao Divino é traço marcante da identidade cultural e religiosa
do povo católico do Rio Mamoré. Divino, três vezes Divino!