(o sabor da doce
ilusão, no tal me engana que eu gosto)
Por:
Altair Santos (Tatá)
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GRES S. J. Batista, carnaval 2010 |
Nosso pai, assim como os
mais antigos, tinha por hábito ilustrar suas falas com ditos populares. Um dos
mais recorrentes era: “quem morre de gosto não fede!” E essa parece ser a
realidade das Escolas de Samba de Porto Velho que, de um tempo pra cá,
resolveram submeter-se ao posto de sparring para os poderes públicos que lhes
desferem golpes a torto e a direito, sem que estas esbocem reação. Será que nas
hostes do samba, baixou o velho e afamado jargão da “mulher de malandro”? Não
acreditamos
O último round dessa
pendenga óbvia, apontou nocaute do poder público contra as escolas. Pra
aliviar, lhes adoçou as bocas com mais um pirulito e seu manjado açúcar, nesse engenho
de protelatórios, entre fazer ou não, o desfile de carnaval. E assim a coisa
vai, vai, vai... Repetimos que o maior dos alagados nessa cheia do Madeira foi
o carnaval popular ao ser lançado ao sacrifício em nome do clamor social, com
aquela forçada de barra pra se estabelecer o tal estado de calamidade pública,
cujo qual, será motivo e esconderijo pra tudo que é má vontade, incompetência,
preguiça e descaso, daqui por diante, até o dia do juízo final. Confessamos
desconhecer a opção das agremiações carnavalescas pelo estranho sacerdócio de
serem inapelavelmente surradas sem dó e sem piedade e, ainda por cima, terem de
curvar-se aos calores de ameaças fiscais e jurídicas daqui e dali, além de serem
seguidamente iludidas com promessas desbotadas, na verdade, um degradê sem lume.
E nisso, tome pirulito!
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GRES Os Diplomatas do Samba, carnaval 2011 |
Já passa e muito da hora das
afiliadas da FESEC se pintarem noutras cores e formas, se darem e cobrarem o zelo
e respeito que lhes é devido e merecido, entretanto, elas próprias, as escolas
e sua instituição gestora, a FESEC, tem que reagir e, nesses brados, se
repensarem, se enxergarem e se fazerem vivas, organizadas, produtoras e
produtivas do ofício de fazer cultura popular sem que amarras quaisquer lhes
sejam impostas. Para tal urge que se aprimorem nos aspectos técnicos, jurídicos
e qualitativos, caso contrário, haja pirulito!
Foi outra vez revoltante ler,
ouvir e assistir nos noticiosos locais que a municipalidade, noutro
indisfarçado chega pra lá, dentro da grande área, protelou as agremiações a dizerem
quanto recurso ainda falta para complementar a produção dos desfiles. Ora
bolas, não é cinqüenta mil pra cada escola? Isso já foi apresentado séculos e
séculos amém e até agora não rolou o tal feed back, o sim ou não, o é ou não é!
E depois disso vão solicitar o que mais? Outra coisa, esse mal animado papo de centenário
de Porto Velho já não arrebata e seduz a população e, além de desbotado, parece
que é um tema “espraguejado pela mãe”, sobre ele tudo dá errado, nada vinga. Alguém
por acaso conseguiu visualizar algo de extraordinário ou diferenciado nos
desfiles dos nossos blocos e que esse algo tenha feito uma alusão, uma e
provocado um realce irradiante e luminoso, um sentimento de inesquecível,
quanto ao ano do centenário de Porto Velho? Pois é, não vimos! Achamos que
desse carnaval do centenário, todos vão querer mesmo é esquecer e o quanto
antes, pra não terem de carregar o ensopado fardo das desilusões culturais.
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GRES Asfaltão, carnaval 2012 |
Aquele que seria o carnaval
do centenário no começo de março, mas que fora afogado pelo tal “estado de
calamidade”, já se cogita ser a festa dos cem anos de Porto Velho em 2 de
outubro. Na verdade como vimos quase que solitariamente insistindo, esse
negócio de centenário é um manjá duvidoso que foi servido e azedou sem que
ninguém provasse. Desde o início do ano não sentimos firmeza, de parte a parte,
sobre isso. Temos abordado o assunto pelo viés da especial comemoração, do
histórico momento e da oportunidade para se discutir a cidade e seus temas
prioritários - principalmente a cultura - e abrir um vasto leque de ações e
proposituras com nova textura estrutural e social para a própria cidade e seu
povo. Porém, em suma, o marco do centenário não tem auspiciado algo mais
encorpado nem para o instante presente e nem ao porvir, o que é uma pena! As
barrentas e bravias águas do Madeira, após baixarem, deixaram ilhas de terra
por tudo que é canto, entupiram ouvidos e cerraram as vistas de muita gente,
além de petrificar corações, vontades e atitudes nos já arrefecidos desalmados
culturais.
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Altair Santos (o Tatá) |
Como não bastasse a privação
de parte da população pelos efeitos da enchente, os munícipes, como um todo,
estão culturalmente sitiados. Instalou-se agora a calamidade cultural, a
privação do direito à cultura, pela “recomendatória” aos poderes executivos
para que não celebrem convênios que atendam as finalidades culturais e
religiosas por quanto perdurar o estado de calamidade. No caso dos atos
religiosos até entendemos afinal, o estado é laico. Agora orientar o não
investimento em cultura em detrimento disso ou daquilo, é inaugurar uma nova
calamidade. Da mesma forma como se diz dos erros, de que um não concerta o
outro, entendemos que uma calamidade não socorre a outra. Alô FESEC, alô
Escolas de Samba, cremos que já chega dessa história de “my Love”, aqui não tem
que ter esse negócio de “chora minha nega”. Paremos com isso e vamos à luta, em
contrário, continuaremos a assistir o patético inverso do “rabo que abana o
cachorro.”
E nessa de enquadra daqui e
enquadra dali, em associativismo com a inércia e a falta de vontade, ausência
de interesse e ante o descaso cultural reinante, resulta que escolas de samba,
blocos carnavalescos, quadrilhas juninas, bois-bumbás, grupos culturais,
artistas, produtores e agentes de diferentes estilos e gêneros vão, aos poucos,
sendo relegados ao atrofiamento cultural. Essa é a imagem de uma sociedade enclausurada
que vê os seus movimentos, cores e sons saboreando o velho doce do me engana
que eu gosto. Na fila da peia e do pirulito, a vez é das escolas de samba!
(*) Altair Santos (oTatá) é ex-Presidente da Fundação Iaripuna, músico e produtor cultural (tatadeportovelho@gmail.com)
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