Por Antônio Serpa do Amaral (*)
Nas assembléias, nas meias, no SMS. Isso é demais... Que República é essa? A República do Madeira vive uma crise institucional não vista há mais de século na sua História. O impressionante desse acontecimento é que o motor da tensão não é a corrupção ou má gestão da coisa pública, como acontece em outras Repúblicas, mas, inacreditavelmente, a ausência de atos de improbidade, fato que causa espanto até nos mais cautos estrangeiros.
Tudo começou quando um deputado, por meio de uma emenda à Constituição, sugeriu que todos os órgãos de controle e fiscalização da República fossem extintos por absoluta falta de ações, haja vista a inocorrência de qualquer ato de gestão que causasse prejuízo para a Administração. Ainda citou que, apesar da gama de normas que o Legislativo editou para proteção do patrimônio público, nenhuma delas foi aplicada por ausência de ilícito administrativo.
Após os debates e a votação, a maioria do Congresso rejeitou a emenda do parlamentar e, no mesmo ato, decidiu publicar edital para contratação de um corrupto, para que centenas de servidores públicos tenham motivo para permanecerem no quadro público. Quando o edital foi publicado, a notícia se espalhou e se tornou o assunto corrente nas ruas, redes sociais e mídia. E pior era que a população não sabia o significado político da palavra corrupto. Era um uso há muito démodé. Houve uma grande procura pelo verbete no Google. Chegaram a inferir que corrupto era um ser análogo ao unicórnio ou à fada. Em suma, não passava de um ser imaginário. Até porque, pensaram, era inconcebível alguém malversar a coisa pública em prejuízos de seus semelhantes.
Ao final, a notícia ultrapassou as fronteiras e ganhou o mundo. A situação causou estranhamento em cidadãos de vários Países. Alguns disseram que era uma pilhéria ou um mal-entendido. Outros acreditavam que se tratava uma montagem feita no photoshop. Diziam que “não era crível que houvesse um lugar onde não tinha um corrupto”. Jubiloso engano. A República do Madeira era, sem dúvida, um lugar sui generis no mundo: o rincão da probidade. Nessa pomposa terra, a gestão administrativa sempre foi prestada inteiramente para a satisfação do interesse público. Lá, todas as obras e serviços públicos são realizados com Padrão AAA(+). O patrimônio público é tão bem tratado na República do Madeira que especialistas do mundo inteiro utilizam esse padrão de gestão como modelo.
Para se ter uma idéia, nem (mesmo) um centavo da moeda local (madeira - M$) deixou de ser utilizado para outros fins que não o coletivo. Nada de mensalão ou de político ladrão. A Casa do Povo nunca foi palco para “rôbo” ou escândalos. Como era de esperar, em razão do histórico da República, não houve nenhum cidadão que preenchesse os requisitos para o cargo disponibilizado. De fato, as pessoas não possuíam mais no espírito coletivo qualquer resquício da odiosa prática da corrupção. Nesse País, político era sinônimo de honestidade (Dicionário Leônidas, pg. 171, Editora Din Din). Nesse contexto, o edital estava definitivamente frustrado.
Desse modo, o chefe do executivo decidiu transferir os servidores para outros órgãos e evitar a demissão em massa. Quanto às leis de proteção à coisa pública, o Parlamento resolveu mantê-las em vigor por razões históricas. Ademais, foi publicado decreto para a criação do Museu da Corrupção, para que as pessoas tomassem conhecimento dos imemoriais tempos em que os primitivos habitantes da Terra Karipuna dilapidavam o erário.
Enquanto isso, em uma residência da República, Gennaro D’Unir, com seus 120 anos, olhou para seus bisnetos e resmungou trôpego: “Vocês acham que estou louco, mas eu conheci um corrupto... Eu já vi um corrupto sim. Eu vi, eu vi, vi... É verdade!!”.
Ação Popular – Respeitem Porto Velho!
* Antôni Serpa do Amaral é poeta, escritor e articulista cultural em Porto Velho - RO.
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