quinta-feira, 6 de outubro de 2011

SAMBAS DE ENREDO

O alastrar da guerra fria
Por: Altair Santos (Tatá)

As poderosas ogivas de fofocas vêm produzindo estragos pra tudo que é lado. Parece estar longe o cessar fogo sobre quem é quem na escolha do samba de enredo da Asfaltão. Pior, o conflito se alastra e em menos de uma semana o disse me disse musical extrapolou os limites fronteiriços do bairro Santa Bárbara, reduto do Tigre, fazendo estremecer noutros longes da cidade, as bases de agremiações como Diplomatas, Rádio Farol, São João Batista e Armário Grande. A inquietação é geral e muita gente já nem dorme direito. Os que conseguem pegar no sono, logo pulam da cama com pesadelos e assombros vendo, às suas frentes, os concorrentes cantando repetidamente seus refrões. Coitado deles nestas amargas e solitárias perturbações noturnas. Por enquanto, apenas a Império do Samba consegue manter-se parcialmente longe dos mísseis que viajam por sobre os tetos das casas do samba, causando verdadeiro furdunço, roubando a paz e aquecendo as disputas internas. Há quem diga que nessa guerra a neutralidade da escola do Waldomiro Mirim esteja para ruir e com isso, venham, os seus compositores, a empunhar caneta e papel, puxar pela criatividade e sair das trincheiras. Nem mesmo hoje (04 de outubro, data desta crônica), em pleno dia de São Franscisco, um santo pra lá de gente boa, pacificador dos melhores, as coisas amainaram. Durante a manhã, os bastidores do plenário da Assembléia do Estado, quando da bonita e emocionante sessão em homenagem aos 97 anos de Porto Velho, compositores e diretores de várias escolas trocavam confidências e discutiam informações sigilosas, falavam de seus temas, das parcerias e da polêmica sobre a FESEC. Foi aí que, no calor das fofocas explodiu a primeira bomba do dia com mais de mil mega-tons, foi um torpedaço que até agora ainda te muito nego zonzo, bile da cuca, batendo, cabeça por aí. A bomba: Bainha pode ter a sua participação impugnada no concurso da Asfaltão. Tudo porque, segundo linguarudos, tagarelas e blablazeiros (os reis dos blá, blá blás) de plantão, o festejado e competente compositor deu um mãozinha pro Beto Cesar (Carimbó) e cedeu, opinou, sussurrou pro pagodeiro, como contribuição, uma só palavra para o seu samba noutra escola. Pronto, era o que faltava. Brios feridos, cheiro de traição no ar e muita polêmica pra rolar. A concorrência de imediato entrou no jogo e já se fala até em comissão de ética pra avaliar a pseuda infidelidade e punir, afastar da contenda um dos fortes candidatos. Com Bainha fora do páreo, Pastoras, Tavernard e seu filho Eduardo, Danilo e a juventude, Misteira e Mávilo estufariam os peitos pra cima de Oscar e Zé Baixinho que, avariados com a perda do experiente parceiro, iriam cabisbaixos e tímidos pro palco. Será? Pago pra ver! Pelo visto, os dois farão de tudo pra evitar o tapetão e garantir o Trio de Ouro a todo vapor na disputa. Sabe-se que na defesa do velho parceiro, eles (Oscar e Zé Baixinho) não perderam tempo. Os caras invocaram a proteção e a intercessão da Santa do Bairro e até fizeram promessa pra descerem de joelhos a ladeira do grutião e se banharem nus, ao luar, meia noite em ponto, nas águas abençoadas da pura fonte. Assim afastariam a uruca, mau olhado, quebranto, encosto, espinhela caída e outros males. O buchicho sobre o caso Bainha já mexeu inclusive com a bolsa de apostas no Bar da Calixto. Fala-se até em bolsa paralela, uma espécie de câmbio negro, sobre o vai-não-vai do Bainha. Lá pelos rumos da Diplomatas algo em torno de sete sambas estarão na contenda. É muita gente querendo emplacar uma composição pro carnaval da escola papa-títulos dos últimos anos. Sílvio Santos que já tem samba pronto, anda assustando a todos com um refrão muito bem estruturado em poesia e plano melódico. Este sabe o caminho das pedras! Ainda nas hostes da vermelho e branco, Carlinhos Maracanã também usa a mesma estratégia mas esconde os pontos chaves da sua composição, ele é passado na casca do alho e de bobo não tem nada! Sabe-se que Paulinho Cachaça, Sandro Sarará, Wilson Harmonia, lapidam em segredo as suas pérolas musicais. Ernesto Melo, o poeta da cidade que virou tema do Galo da Meia Noite para 2012, desistiu da disputa e deixa livre o caminho para os concorrentes. Com isso alguns respiram aliviados. Durante a apetitosa feijoada do último sábado, na zona sul, a direção da escola Armário Grande quase tem um indigestão. O Presidente Cabeleira vagava incerto pelo salão, dividido entre o grupo especial e o grupo de acesso, por conta das pendengas que envolvem o resultado deste ano e que refletem diretamente na sua agremiação. Com a palavra a FESEC. No mais, por enquanto é nervos à flor da pele, mais tensão e guerra fria no caminho. Quem viver verá!

(*) o autor é músico e Presidente da Fundação Cultural Iaripuna
tatadeportovelho@gmail.com

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