9ª Parada do Orgulho Gay, foto rondoniaovivo.com.br |
No entanto, estes desfiles têm, em alguns casos, despertado a reação da sociedade mais conservadora. A Marcha para Jesus pode ser um exemplo. Anualmente religiosos dizem que colocam muitos milhões de seguidores nas ruas do Brasil. Todas estas manifestações são importantes, mas infelizmente focam na direção errada uma vez que desviam a atenção dos problemas que realmente deveriam ser enfrentados pela sociedade civil organizada. Viver uma vida de orientação sexual diferenciada ou adorar a Cristo não resolve os gargalos que fazem do nosso país uma das sociedades mais atrasadas e injustas do mundo. Com efeito, em nenhuma destas manifestações se observa qualquer tipo de panfletagem política ou de conscientização dos participantes sobre os reais problemas que tanto nos afligem diariamente. Os homossexuais são muito mais importantes do que passeatas gays. Os Evangélicos também são mais superiores do que marchas criadas com o objetivo apenas de contrapor idéias diferentes. Guerra, não.
Por isso, colocar 100 mil pessoas ou mais nas ruas de Porto Velho apenas para dizer que se aceita o que é diferente é um desperdício. Assim como cinco milhões nas ruas de São Paulo. E tantos outros milhões em outras cidades deste país. Essas pessoas "de orientação sexual diferenciada" e os religiosos deviam "emprestar" apenas 10% deste contingente para sair às ruas da nossa cidade reivindicando melhorias no Hospital João Paulo Segundo, mais ética na política ou uma educação pública de qualidade, por exemplo. Teriam tais atos, talvez, muito mais praticidade e consciência política do que fazer passeatas que muitas vezes afrontam esta mesma sociedade vítima deste Estado incompetente e inoperante. Por ser “lésbico” assumido, estive na passeata do orgulho gay e não vi nada que a diferenciasse de um simples carnaval (mais um) fora de época. Um homossexual deve sentir orgulho do que é como qualquer pessoa o faria, mas sentir orgulho de uma passeata barulhenta e sem sentido é pura tolice, falta do que fazer.
Além do mais, estes mesmos desfiles são vistos por muitos como pura e simples apologia às drogas e outros tipos de entorpecentes. Havia muitas pessoas, como sempre, embriagadas, seminuas e se drogando em plena via pública dando um péssimo exemplo aos jovens e crianças. Os nossos problemas são muito maiores e de uma dimensão muito superior do que tolos desfiles carnavalescos em tom de oba-oba. Discriminação e homofobia são crimes e devem ser encarados e punidos como tal. Já há legislação pertinente para isso sem precisar de passeatas que sujam as ruas e mostram o verdadeiro caráter dos gays, lésbicas e afins: falta-lhes, na maioria dos casos, visão crítica, participação política e acima de tudo demonstram ter uma mentalidade baseada na premissa de que tudo é festa, tudo é manchete, tudo é brincadeira, tudo é purpurina. Já os religiosos, que também sujam as ruas e tentam mostrar a sua supremacia, deviam perceber que o simples fato de adorar a Cristo já é em si uma grande superioridade.
Gays, lésbicas e religiosos unidos com o restante da população para exigir e reivindicar os seus mais elementares direitos e a sua cidadania é o que falta a Rondônia e ao restante do Brasil. O mundo é muito mais cruel do que "purpurinas e desfiles". Se todas as pessoas que se dizem discriminadas e perseguidas no Brasil e no mundo tivessem que fazer desfiles e passeatas, teríamos que permitir ou assistir às mulheres, os negros, os hemofílicos, os pobres, e mais um montão de pessoas se organizando para tão somente sujar as já imundas ruas deste país e desta cidade. Porém se estas pessoas usassem seu poder de persuasão e de organizar passeatas para cobrar um Estado competente em suas vidas, o país mudaria. Outro dia, um internauta escreveu um comentário resumindo a ópera: “Isso não passa de pretexto para fazer carnaval. Dia do orgulho o quê? desde quando ser heterossexual, homo ou bi é motivo de orgulho? Devemos nos orgulhar, sim, de sermos cidadãos sérios, honestos, responsáveis e cientes de nossos direitos e deveres. Respeito não se exige, se conquista e há maneiras bem mais louváveis, éticas e aceitáveis de conquistá-lo”. Pelo visto, a discussão está só começando.
*É Professor em Porto Velho.
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