quarta-feira, 22 de junho de 2011

LAIO – O SILÊNCIO DO UIRAPURU

Imagem colhida na internet
Por: Altair Santos (Tatá)

Um dos uirapurus da Amazônia silenciou de vez. O Laio rasgou a cortina do tempo, estufou o peito, soltou a voz e foi cantar lá no céu. Cantava como poucos, de forma emocionada. O criativo compositor e cantor tanto fez que ultimamente já não habitava os raios dos holofotes da cena cultural e emprestava o seu melodioso em forma de oração para o movimento da Renovação Carismática Católica entoando, de quando em vez, orações musicais que iam alojar-se direto nos corações das pessoas. Por entre rios e florestas, quis o imã do registro histórico que buscássemos agora, em simbólico mergulho nas barrentas e apressadas águas do Madeira, o menino Laio, conterrâneo nosso lá da Vila de Calama (hoje distrito). Sem receios, mas aboletado na sua curiosidade beradeira, um dia aportou no Cai N`Água, pruma vida de prosa cultural e fé católica na cidade porto. Abriu o paneiro e passou então a exibir os bribotes da sua criação e invencionice musical, melódica e poética. O Laio cantou pro botos e pras araras, cantou pras matas e pros pássaros, pros índios e pros brancos. Se permitiu ser e fazer árvore fértil, prenhe de pura seiva, deixando gotejar, com fluidez, do seu tronco-peito os poemas, os versos e os cantos, cujos quais, podemos, definir como mantras amazônicos. Sua marcante voz se vez ouvir pelos brados dos Movimento Cultural Grito de Cantadores, ecoando nos longes do Teatro Amazonas (Manaus), Praça da Sé (São Paulo), Sala Cecília Meirelles (Rio Janeiro), Museu da Imagem e do Som (Belo Horizonte). A voz do “caboco” foi longe e exprimiu a força do nosso verde e o multicor da nossa verve criativa. O Laio também hasteou a bandeira do nosso cultural aqui e noutras paragens. Não bastando em si, criou com seus pares, Tatá, Monteiro, Nazareno e Roberto Matias, o ainda hoje atuante grupo seresteiro Anjos da Madrugada. Com os Anjos ele também cantou pra cidade e pras pessoas, pro amor e pra alegria de viver, como quem, dissesse ser a vida, uma dança mágica. Do epicentro de sua explosão criativa saiu vestido com o chapéu de fitas e se fez o amo do Bumba Diamante Negro. Antes, porém, já houvera brincado nos improvisos do fama Rei do Campo. Pensava rápido e compunha com maestria. Em suas autorias constam versos marcantes em defesa do vôo livre das asas

azuis e vermelhas (música Por Deus, Por Nós). Disse que “cantar bumba e a alegria do povo, é ser feliz de novo, na Flor do Maracujá” (música Toadas). Cantou a fronteira do roçado com a floresta versando: “és coração como acero, se da mata és o início, do roçado és o fim” (música Acero). Fincado em suas raízes e sentimentos animou a brincadeira popular cantando “quem corre cansa, quem anda alcança, boneco duro, rouba bandeira, brinca de roda, da machadinha e bela condessa.” (música Terreiros). De tanto lutar, viver, cantar e compor, lá se foi o Laio, um desses uirapurus amazônicos que nos deixa o legado de homem bom e de boa fé. Na prateleira da existência, deixa uma história de vida ornada por sua obra. No peito da família e dos amigos fica um vazio com o nome saudade. Antes que esta dor se nos encha o peito, fechemos os olhos e imaginemos o Laio a nos embalar com ânimos para vida adiante com estes versos: “quando alguém tiver de se desesperar e quiser sentir no coração a poesia, a fantasia, a certeza de um tempo, é cantar é compor. Cada verso que eu escrevo é fantasia, é a vida que me deixa assim, mas parece até que é coisa do destino, cada verso é um pedaço de mim.”

O autor é presidente da Fundação Cultural Iaripuna
tatadeportovelho@gmail.com

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