quinta-feira, 29 de julho de 2010

UM EX-FAXINEIRO NEGRO VENCE PRECONCEITO E QUER "LIMPAR" A IMAGEM DO STF


Por Dr. Eduardo Diatahy B. de Menezes (*)

O "bate-boca" entre o (ex)presidente do STF, Gilmar Mendes (dono de uma biografia repleta de denúncias de corrupção) e o ministro Joaquim Barbosa (dono de uma biografia invejável) traz a necessidade de esclarecer quem é quem no Judiciário brasileiro.

Um ex-torneiro mecânico pernambucano indicou um ex-faxineiro mineiro para ocupar uma vaga entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal. O presidente Lula escolheu o doutor da Universidade da Sorbonne e procurador do Ministério Público Federal, Joaquim Benedito Barbosa Gomes, para ocupar uma vaga entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal.

- Uma das piores lembranças da minha infância foi o ano em que fiquei longe da escola porque a diretora baixou uma norma cobrando mensalidade. No ano seguinte, a exigência caiu e voltei à sala de aula. Estudar era a minha vida e conhecer o mundo o meu sonho. Adorava aprender outras línguas - contou Joaquim Barbosa numa entrevista em agosto de 2002 para o projeto de um vídeo sobre a mobilidade social dos negros no Brasil.

O domínio de línguas estrangeiras foi a engrenagem para mobilidade social de Joaquim Barbosa. Aos 16 anos, deixou a família e a infância em Minas e foi atrás de emprego e educação em Brasília. Dividia o tempo entre os bancos escolares e a faxina no TRE do Distrito Federal. Um dia, o mineiro, na certeza da solidão, cantava uma canção em inglês enquanto limpava o banheiro do TRE. Naquele momento, um diretor do tribunal entrou e achou curioso uma pessoa da faxina ter fluência em outro idioma. A estranheza se transformou em admiração e, na prática, abriu caminho para outras funções. Primeiro, como contínuo e, mais tarde, como compositor de máquina off set da gráfica do Correio Brasiliense. A conquista não sairia barato.

- Lembro de uma chefe que me humilhava na frente dos companheiros de trabalho e questionava minha capacidade. No início, foi difícil, mas acabei me estabilizando no emprego e mostrando o quanto era profissional.

A renda aumentou, mas ainda era pouca para ele e a família lá em Minas. Foi trabalhar também no Jornal de Brasília acumulando dois empregos e jornada de 12 horas. Mais tarde, trocou os dois por um. Foi para Gráfica do Senado trabalhar das 23h às 6h da manhã. Depois do trabalho, a Universidade de Brasília. O único aluno negro do curso de direito da UnB tinha que brigar contra o sono e a intolerância.

- Havia um professor que, ao me ver cochilando, me tirava da sala.

Joaquim Barbosa continuava sonhando acordado. Prestou prova para oficial da chancelaria do Itamaraty e passou. Trocou o bem remunerado emprego do Senado por um, que pagava bem menos. Mas o novo trabalho tinha uma vantagem incalculável: poder viajar para a Europa. Durante seis meses, conheceu países como Finlândia e Inglaterra. De volta ao Brasil, prestou concurso para carreira diplomática. Foi aprovado em todas as etapas e ficou na entrevista: a única na qual a cor de sua pele era identificada.

Após esse episódio, a consciência racial de Joaquim Barbosa, que começou a ser desenhada na adolescência, ganhou contornos mais fortes. Ganhou novas cores, quando, já como jurista do Serpro, conheceu o país, especialmente o Nordeste e, em particular, Salvador. Bahia foi uma paixão a primeira vista do mineiro. Foi lá onde Joaquim Barbosa teve um contato maior com o que ele chama de "Negritude".

A percepção de ser minoria entre as elites ficou ainda mais nítida fora do país. O jurista explica que o sentimento de isolamento e solidão é muito forte em um "ambiente branco" da Europa. Ser uma exceção aqui e no além-mar ficou ainda mais forte após o doutorado na Universidade de Sorbonne. Naquela época já acumulava títulos pouco comuns para maioria das pessoas com a mesma cor de pele: Procurador do Ministério Público e professor universitário. Antes, já tinha passado pela assessoria jurídica do Ministério da Saúde.

O exercício de vencer barreira, de alguma forma, está em sua tese de doutorado, publicada em francês. O doutor explica que o seu objeto de estudo foi o direito público em diferentes países, como os EUA e a França.

- A minha intenção foi ultrapassar limites geográficos, políticos e culturais. Quero um conhecimento que vá além da fronteiras dos países – disse.

"Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar. Respeite-me", reagiu Barbosa.
Gilmar Mendes foi nomeado para o Supremo Tribunal Federal pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, em artigo publicado na Folha de São Paulo, o professor da Faculdade de Direito da USP, Dalmo Dallari, professor catedrático da UNESCO na cadeira Educação para a Paz, Direitos Humanos e Democracia e Tolerância, declarou:

"Se essa indicação (de Gilmar Mendes) vier a ser aprovada pelo Senado, não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional. (....) o nome indicado está longe de preencher os requisitos necessários para que alguém seja membro da mais alta corte do país."

O empresário Gilmar Mendes carrega em sua biografia a denúncia de que foi favorecido com "incentivo" do poder executivo para fundar, em 1998, o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), uma escola privada que oferece cursos de graduação e pós-graduação em Brasília.


Desde 2003, conforme consta das informações do "Portal da Transparência" da Controladoria Geral da União, esse Instituto faturou cerca de R$ 1,6 milhão em convênios com a União. De seus nove colegas no STF, seis são professores desse Instituto, além de outras figuras importantes dos poderes executivo e judiciário (não é à toa que ele contou com tanta "solidariedade" no episódio que envolveu a discussão com o ministro Joaquim Barbosa). O Instituto se localiza em terreno adquirido com 80% de desconto no seu valor graças a um programa do Distrito Federal de incentivo ao desenvolvimento do setor produtivo. O subsecretário do programa, Endels Rego, não sabe explicar como o IDP foi enquadrado no programa. O belíssimo prédio do Instituto foi erguido graças a um empréstimo conseguido junto ao Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), gerido pelo Banco do Brasil, cuja prioridade de investimento é o meio rural. Entre os seus maiores clientes estão a União, o STJ e o Congresso Nacional.


*Dr. Eduardo Diatahy B. de Menezes, Professor Emérito da Universidade Federal do Ceará e Professor Titular do Doutorado e Mestrado em Sociologia - UFC.

terça-feira, 27 de julho de 2010

DE PARINTINS PARA GUAJARÁ


Desembarcou no porto do Cai N’Água, no último domingo, 25, pelo período da tarde, um dos mais ilustres filhos da Pérola do Mamoré, vindo direto da ilha de Tupinambarana, depois de uma escala na capital do Amazonas, seguindo com destino a sua terra natal, a cidade de Guajará-Mirim, onde está sendo ansiosamente aguardado para compromissos inadiáveis nos dias 13, 14 e 15 do mês de agosto.
A Ilustre figura faz estada de dois dias em Porto Velho, hospedado na casa deste humilde blogueiro, também artista plástico, carnavalesco e amante da brincadeira de boi bumbá, além de deslumbrado amigo e admirador do visitante.

Como o notável viajante, também sou filho de Guajará e fui a pessoa incumbida, por autoridades e mestres da cultura popular da Pérola do Mamoré, da tarefa de fazer a recepção da eminente figura, que foi por mim recebida com toda pompa, cuidado e respeito, como determina a boa e educada etiqueta.

No trajeto do Porto do Cai N’Água até o bairro do Areal, por onde passou relevante personalidade era logo reconhecida, aclamada e reverenciada. Crianças, adolescentes, homens e mulheres acenavam, esboçando largo sorriso de boas vindas.

Nesta quarta-feira, dia 28 de julho, honrada e brava celebridade segue para Guajará-Mirim, onde cumprirá longo e necessário ritual de preparação, para participar do mais relevante e galante confronto, conhecido em toda região como ‘Duelo da Fronteira’, ocasião em que o valente fidalgo lutador enfrentará pela XVI vez seu arquirrival de arena e único desafeto contrário.

É isto mesmo: estou me referido a encantadora e novíssima alegoria que representará o bumbá de Dona Georgina Costa, a escultura articulada do boi Flor do Campo, confeccionada por artistas de Parintins, profissionais de depurado talento. Tive a honra de recepcioná-lo e abrigá-lo em minha humilde residência até sua partida para Guajará-Mirim, cidade que abriga o cenário do mais espetacular combate folclórico da região, uma ópera popular intitulada de Duelo da Fronteira.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

ORGULHO DO SAMBA: Ariel e Cristovão

QUEM É ARIEL?

Natural da cidade de Guajará-Mirim, Rondônia, Ariel Argobe é carnavalesco, artista plástico e licenciado em Educação Artística, com habilitação em Artes Visuais, formado pelas Faculdades Integradas Bennett, Rio de Janeiro.

Com um coletivo de artistas e professores criou o Grupo Cidade, Cultura e Inclusão (GCCI), que discutiu, formatou e implantou a proposta da Fundação Iaripuna – instituição cultural do Município de Porto Velho, sendo ainda seu primeiro presidente no período 2005-2006.

Porque Ariel?

Ariel Argobe tem ampla e significativa atuação no segmento cultural, com irrestritas atitudes em defesa, preservação e perpetuação da cultura popular e do patrimônio histórico de Porto Velho, perfil que o torna habilitado, suficientemente, para conduzir a FESEC, com a imprescindível parceira dos representantes das escolas de samba.

Cristóvão Bentes da Silva
GRES “RADIO FAROL”

Cristóvão Bentes da Silva, Presidente da Grêmio Recreativo Escola de Samba “RADIO FAROL”. Nascido em Porto Velho à 28/01/61, morador do Bairro Panair, funcionário publico do TRE há 32 anos. Atuante no samba faz 21 anos, quando fundou a Radio Farol. Ativista dos movimentos de classe, foi líder do grupo de jovem da Igreja Perpétuo Socorro e Delegado de Base do SINDSEF.

Candidato a Vice-Presidente, quer juntamente com Ariel, consolidar a participação das Escolas de Samba como alicerce da cultura local fortalecendo os laços entre as co-irmãs e demais segmentos culturais.


PROPOSTA DE POLÍTICA CULTURAL PARA FESEC

1 – O PERFIL DA PROPOSTA

Faz-se necessário inserir as escolas de samba de Porto Velho - símbolo de resistência e identidade cultural -, em novas posturas, atitudes e contextos, alcançando o campo da responsabilidade e da transformação social, transcendendo, desta feita, os limites tão somente das apresentações espetaculares das escolas de samba, a exemplo do que já ocorre em outras regiões do país, onde os grêmios culturais do samba não vivem apenas do carnaval, apesar de todo trabalho que é necessário para realizar um bom desfile.

Durante todo o ano essas grandes escolas de samba sediadas em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e em outras regiões metropolitanas do país, realizam projetos sociais, culturais e esportivos, visando promover o bem estar entre os moradores de suas comunidades e, por conseguinte, promovendo o fortalecimento da identidade cultural regional e nacional.

Pensar e definir uma proposta cultural para Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas de Rondônia (Fesec), coadunando com os interesses dos grêmios carnavalescos e as políticas públicas do Estado e do município, neste momento de alternância no executivo estadual, gerando grande expectativa no segmento cultural em particular e, de um modo geral, para população, transcende a simples disponibilização de ações eventuais para toda sociedade. Requer dos entes federados e da FESEC clareza e responsabilidade com seus respectivos papéis para a condução qualitativa da ação cultural, com propostas de políticas culturais vislumbrando o fortalecimento e o desenvolvimento das nossas escolas de samba, a geração de ocupação e renda, a preservação da identidade cultural, a inclusão sócio-esportiva e, de forma ampla, o irrestrito desenvolvimento humano.


2 - PROPOSTA DE METAS

2.1 – Busca de fontes financiadoras, com o fito de garantir o investimento continuado de recursos público e privado nas escolas de samba e entidades carnavalescas de Porto Velho.

Ações:

 Buscar e discutir leis e mecanismos de incentivo à cultura, objetivando incentivar e realizar projetos culturais;

 Estabelecimento de parcerias com as agências públicas, privadas, autarquias e mecenas, financiadores dos agentes e do produto cultural, vislumbrando também a aproximação com o empresariado local, com vistas a discutir a realização de projetos culturais;

 Discutir a garantia da inserção das despesas de montagem e apresentação do carnaval de Porto Velho no orçamento anual do Estado e dos municípios, de forma continuada;

 Promover a discussão para garantir a destinação de um percentual mínimo da arrecadação estadual e municipal, com o objetivo de dotar os fundos estadual e municipal de cultura com recursos financeiros que possibilitem o desenvolvimento cultural em consonância com as diretrizes das políticas nacional de cultura;

 Promover uma discussão acerca dos recursos públicos destinados para auxílio montagem do carnaval 2010, não repassados pelo Governo do Estado às escolas de samba, considerando as despesas geradas junto ao comércio de Porto Velho, ainda não liquidadas.

2.2 - Capacitação de recursos humanos nas múltiplas linguagens artísticas e investimentos na produção e circulação.

Ação:

 Estabelecer parcerias visando investimentos na formação em artes, com a realização de cursos, oficinas e outras ações de aprimoramento profissional nas linguagens artísticas e técnica, em parceria com entidades não governamentais, empresas, municípios, estado e União;

2.3 - Ampliar a estrutura da cultura, com a construção e implementação de equipamentos culturais.

Ações necessárias:

 Discutir e propor a construção do centro vivencial de múltiplo uso, destinado às grandes manifestações artístico-culturais, como shows e festivais de música, dança e fanfarra, apresentações folclóricas (quadrilhas juninas, bois-bumbás, escolas de samba), atividades circense, mídia contemporânea, etc.

2.4 – Publicação de memória histórica do carnaval de Porto Velho e das escolas de samba.

Ações necessárias:

 Realização de pesquisas históricas, registro (fotográfico, fonográfico, em vídeo, etc.), preservando a história do carnaval e do samba em Rondônia;

segunda-feira, 19 de julho de 2010

FREI BETTO ME TROUXE DE VOLTA



Por força de compromissos prementes inadiáveis me mantive alguns dias ausente deste blog.

Aviso aos navegantes que distraidamente caem nesta página eletrônica: estamos de volta para mobilizar o blog e, com o propósito de incrementar e qualificar as postagens, e assim contribuir com a discussão e a reverberação de temas que consideramos interessantes para o debate entre amigos, colaboradores e visitantes, publicamos, a seguir, o artigo Como Endireitar um Esquerdista, assinado pelo dominicano Frei Betto e publicado Revista Adital

Acho oportuna a publicação do artigo, por conta de seu teor, neste momento em que está instalada a disputa eleitoral de 2010.

Veja o texto abaixo.

COMO ENDIREITAR UM ESQUERDISTA



Frei Betto *

Ser de esquerda é, desde que essa classificação surgiu na Revolução Francesa, optar pelos pobres, indignar-se frente à exclusão social, inconformar-se com toda forma de injustiça ou, como dizia Bobbio, considerar aberração a desigualdade social.

Ser de direita é tolerar injustiças, considerar os imperativos do mercado acima dos direitos humanos, encarar a pobreza como nódoa incurável, julgar que existem pessoas e povos intrinsecamente superiores a outros.

Ser esquerdista - patologia diagnosticada por Lênin como “doença infantil do comunismo” - é ficar contra o poder burguês até fazer parte dele. O esquerdista é um fundamentalista em causa própria. Encarna todos os esquemas religiosos próprios dos fundamentalistas da fé. Enche a boca de dogmas e venera um líder. Se o líder espirra, ele aplaude; se chora, ele entristece; se muda de opinião, ele rapidinho analisa a conjuntura para tentar demonstrar que na atual correlação de forças…

O esquerdista adora as categorias acadêmicas da esquerda, mas iguala-se ao general Figueiredo num ponto: não suporta cheiro de povo. Para ele, povo é aquele substantivo abstrato que só lhe parece concreto na hora de cabalar votos. Então o esquerdista se acerca dos pobres, não preocupado com a situação deles, e sim com um único intuito: angariar votos para si e/ou sua corriola. Passadas as eleições, adeus trouxas, e até o próximo pleito! Como o esquerdista não tem princípios, apenas interesses, nada mais fácil do que endireitá-lo. Dê-lhe um bom emprego. Não pode ser trabalho, isso que obriga o comum dos mortais a ganhar o pão com sangue, suor e lágrimas. Tem que ser um desses empregos que pagam bom salário e concedem mais direitos que exige deveres. Sobretudo se for no poder público. Pode ser também na iniciativa privada. O importante é que o esquerdista se sinta aquinhoado com um significativo aumento de sua renda pessoal.

Isso acontece quando ele é eleito ou nomeado para uma função pública ou assume cargo de chefia numa empresa particular. Imediatamente abaixa a guarda. Nem faz autocrítica. Simplesmente o cheiro do dinheiro, combinado com a função de poder, produz a imbatível alquimia capaz de virar a cabeça do mais retórico dos revolucionários.

Bom salário, função de chefia, mordomias, eis os ingredientes para inebriar o esquerdista em seu itinerário rumo à direita envergonhada - a que age como tal mas não se assume. Logo, o esquerdista muda de amizades e caprichos. Troca a cachaça pelo vinho importado, a cerveja pelo uísque escocês, o apartamento pelo condomínio fechado, as rodas de bar pelas recepções e festas suntuosas.

Se um companheiro dos velhos tempos o procura, ele despista, desconversa, delega o caso à secretária, e à boca pequena se queixa do “chato”. Agora todos os seus passos são movidos, com precisão cirúrgica, rumo à escalada do poder. Adora conviver com gente importante, empresários, ricaços, latifundiários. Delicia-se com seus agrados e presentes. Sua maior desgraça seria voltar ao que era, desprovido de afagos e salamaleques, cidadão comum em luta pela sobrevivência.

Adeus ideais, utopias, sonhos! Viva o pragmatismo, a política de resultados, a cooptação, as maracutaias operadas com esperteza (embora ocorram acidentes de percurso. Neste caso, o esquerdista conta com o pronto socorro de seus pares: o silêncio obsequioso, o faz de conta de que nada houve, hoje foi você, amanhã pode ser eu…).

Lembrei-me dessa caracterização porque, dias atrás, encontrei num evento um antigo companheiro de movimentos populares, cúmplice na luta contra a ditadura. Perguntou se eu ainda mexia com essa “gente da periferia”. E pontificou: “Que burrice a sua largar o governo. Lá você poderia fazer muito mais por esse povo.”

Tive vontade de rir diante daquele companheiro que, outrora, faria um Che Guevara sentir-se um pequeno-burguês, tamanho o seu aguerrido fervor revolucionário. Contive-me, para não ser indelicado com aquela figura ridícula, cabelos engomados, trajes finos, sapatos de calçar anjos. Apenas respondi: “Tornei-me reacionário, fiel aos meus antigos princípios. E prefiro correr o risco de errar com os pobres do que ter a pretensão de acertar sem eles.”

*Frei Dominicano. Escritor

Revista Adital

terça-feira, 6 de julho de 2010

FLOR DO MARACUJÁ É ARTE PARA O MUNDO



Encerrou neste último domingo, dia 04 julho, o maior e mais esperado espetáculo de cultura produzido em Rondônia, o popularíssimo Arraial Flor do Maracujá. No período de sua realização, paralelamente, também aconteceu a XXIX edição da Mostra de Quadrilhas e Bois-Bumbás, vitrine reluzente por onde circulam as mais frondosas expressões culturais do plano imaterial, produzido por artistas anônimos das terras habitadas por karipunas, karitianas, caboclos, beiradeiros, guaporeanos e migrantes de todas as levas e das mais variadas regiões do país.

A Mostra do Flor do Maracujá abarca e expõe ao grande público, numa perfeita
compreensão de democracia cultural, a nossa mais refinada e popular produção cultural intangível, materializada na forma plástica de exuberantes agrupamentos de quadrilhas juninas e bois-bumbás.

O conceito de patrimônio cultural imaterial compreende um conjunto de bens intangíveis, contendo as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva, em respeito ao seu passado, garantindo assim, a posteridade de sua ancestralidade.

Os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, celebrações, as festas e danças populares, as lendas, as músicas, os costumes e tantas outras tradições são os exemplos mais comuns de patrimônio cultural imaterial (ou intangível).

Quem foi ao Arraial Flor do Maracujá não frequentou apenas mais um evento de cultura popular. O grande público circulou, na verdade, por salões imaginários de uma grande galeria de arte. Passeou por ambientes de um grande e importantíssimo museu de arte e cultura popular e contemporânea, onde foram expostas, para o deleite de todos, nossas mais relevantes obras primas, assinadas por desconhecidos artistas beradeiros, detentores de um talento nato e de uma imensurável criatividade, comparáveis ao valor e calibre de grandes mestres da arte universal, como Leonardo da Vinci, Michelangelo Caravaggio, Van Gogh, Manuel da Costa Ataíde, Alfredo Volpi ou mesmo, o nosso expoente maior do academicismo caboclo, mestre Afonso Licório.

O Arraial Flor do Maracujá é o nosso Museu do Louvre, pois, assim como o Louvre, o Flor é o guardião de nossos grandiosos objetos artísticos imateriais, patrimônio cultural intangível da região, do Brasil e também da humanidade.

Os grêmios culturais de quadrilhas juninas e bois-bumbás que se apresentaram no espaço cênico da Mostra do Arraial Flor do Maracujá, realizada há 29 anos, se colocam em nosso imaginário coletivo de caboclos e beradeiros, em mesmo grau de importância, magnitude e plano, como está posto para humanidade o quadro Monalisa, de Leonardo da Vinci. Nossos folguedos, no viés estético de produção popular, e o quadro da Monalisa, na moldura da produção erudita, são exemplos da genial ancestralidade artística do homem, daí a necessidade de institucionalização das políticas continuadas para preservação e perpetuação do bem cultural.

PT DE GUAJARÁ-MIRIM PARTICIPA DE ENCONTRO POLÍTICO COM EVO MORALES

Profa. Lília Ferreira, Presidente PT/GM O Presidente da Direção Regional do Movimiento al Socialismo - Instrumento Político por la Soberanía...