domingo, 24 de setembro de 2023

MARCHA MUNICIPAL PELA DIVERSIDADE SEXUAL: UMA HISTÓRIA DE LUTA DA POPULAÇÃO LGBTQIA+ EM PORTO VELHO

II Marcha Municipal LGBTQIA+ Pela Diversidade Sexual,
zona leste de Porto Velho, 2009.

A Marcha Municipal pela Diversidade Sexual é uma proposta da comunidade LGBTQIA+ da zona leste da Cidade de Porto Velho, numa perspectiva de reflexão, rediscussão e reordenamento do formato das Paradas do Orgulho Gay, objetivando potencializar a capacidade de mobilização e de transformação social, a partir deste majestoso acontecimento popular, que são as Paradas do Orgulho Gay.

Em sendo uma nova concepção para manifestação do orgulho LGBTQIA+, a Marcha vislumbrou, em 2008, assentar este fabuloso fenômeno social – a Parada do Orgulho Gay - em um foco fértil, propício para fortalecer a luta pela criminalização da homofobia, a promoção do fim da violência contra homossexuais e a consolidação de uma cultura de paz e de respeito à diversidade sexual.

Foi com esta nova visão, emoldurada pelo paulatino amadurecimento político do segmento LGBTQIA+ que lideranças homossexuais de Porto Velho, posicionadas na proa da discussão da cidadania LGBTQIA+, tomaram a iniciativa de organizar no ano de 2008, a I Marcha Municipal pela Diversidade Sexual, pautados, sobretudo, na premente necessidade de se avançar com a grande bandeira representativa da luta LGBTQIA+: a aprovação de um projeto de lei para tornar crime a agressão física e moral, em razão da orientação homossexual.

Em 2009, o Coletivo Porto Diversidade, ONG LGBTQIA+ recém-criada, tomou a iniciativa de avançar com o movimento para o lado leste de Porto Velho, região da cidade quase sempre excluída das políticas públicas de caráter universal e continuada. A realização da II Marcha empunhou discursos contempladores das necessidades locais da região leste de Porto Velho, sem esquecer, contudo, as históricas causas da população homossexual.

Ainda em 2009, a Marcha inovou ao prestar justa homenagem a um bravo companheiro que em vida dedicou-se às causas da justiça social, nominando a manifestação daquele ano de Professor Roberto Farias, falecido em 22 de abril de 2009, docente da Universidade Federal de Rondônia, combativo militante do movimento LGBTQIA+ e idealizador da I Marcha Municipal pela Diversidade Sexual.

Ao longo das décadas, dos anos e das lutas alguns companheiros, companheiras e colaboradores tombaram no caminho, como o ativista LGBTQIA+ Paulo Santiago, realizador da primeira parada do Orgulho Gay de Rondônia no ano de 2003, assassinado em 2006; o Deputado Federal Eduardo Valverde, falecido em 2011, colaborador, articulador no Congresso Nacional e militante político por justiça social para todos e todas; a Professora Anatália Borbosa, bravíssima militante do movimento negro, de mulheres e da causa LGBTQIA+, atuando sobretudo, nas unidades escolares da zona leste de Porto Velho. Muitos foram os companheiros e companheiras que partiram e que, anonimamente, deixaram imensuráveis contribuições para que em 2023, ano que marca o retorno da Marcha, se retome a luta  por uma Porto Velho melhor.

Ao logo dos anos avançamos em terreno perigoso, ainda que timidamente, em um cenário de Brasil que nos últimos tempos se tornou cada vez mais segregador, LGBTfóbico, racista, machista, misógino, preconceituoso, violento e profundamente desigual. Uma luta árdua, porém pulverizada de sonhos e esperanças.

Somente no ano de 2019, o STF decidiu que a homofobia é um crime imprescritível e inafiançável. Na decisão, o STF entendeu que se aplicava aos casos de homofobia e transfobia a lei do Racismo (Lei n 7.716/1989).

No ano de 2010 a Marcha aconteceu amparada por várias lideranças dos movimentos sociais que, unidas naquela ocasião, desfraldaram o lema “Quem Combate a Homofobia Promove Cidadania”. Naquele ano, irmanados por um único propósito, heterossexuais, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, pessoas de raças e etnias variadas, de diferenciadas situações geracionais, sociais e culturais caminharam unidos pelas ruas da zona leste da cidade de Porto Velho, sorvidos por profundo espírito fraterno e desejos de mudanças.


Em 2011, o Coletivo Porto Diversidade consolida, por fim, sua ação mestre, instituindo a Campanha Zona Leste Por Cidadania, uma propositura institucional da ONG, reunindo todos seus projetos realizados ao longo dos anos, destacando, dentre eles, a Marcha Municipal pela Diversidade Sexual; as Rodadas de Conversas LGBTQIA+ nas Escolas; o Concurso Miss Cidadania LGBTQIA+; dentre outras ações.

A Campanha Zona Leste Por Cidadania solidificou, definitivamente, o modelo de manifestação política do segmento LGBTQIA+ defendido pelo Porto Diversidade, ao coroar todas as ações do coletivo em nítido perfil de movimento social que reuni pessoas mobilizadas pela conquista de suas dignidades.

O movimento LGBTQIA+ sobreviveu. Está vivo, forte e com profundo desejo transformador.

Hoje, domingo, 24 de setembro de 2023 a população LGBTQIA+ volta às ruas da cidade de Porto Velho, acalentando velhos e novos sonhos, de mãos dadas com antigos e novos companheiros e companheiras, para continuar com a caminhada por um Brasil fraterno e justo, conclamando ainda, toda população da cidade: homens, mulheres, jovens, idosos, indígenas, negros, brancos, centro, periferia, heterossexuais e homossexuais compromissados com a construção de uma nova sociedade.

A Marcha Municipal LGBTQUIA+ Pela Diversidade Sexual voltou! A luta e grande, mas a vitória é certa.

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