Davino Serrath e Cícero Noronha |
A eleição de Noronha e Davino despertou em
algumas pessoas o que há de mais animalesco e insano no ser humano: o ódio, o
preconceito, a fúria, e o desprezo ao próximo, sentimentos tão em vogo no
Brasil pré e pós golpe, quase aceitos como atitudes naturais nas relações
socais.
Proclamados os vencedores, algumas pessoas,
sob forte ataque de fúria, recorreram às redes sociais para atingir de forma
violeta, desprezível e preconceituosa a dupla vencedora, com ilações criminosas
e vis. Tal atitude desumana nos leva a uma reflexão: o quê representa a eleição
de Cícero Noronha e Davino Serrath para contexto político local, considerando as
nuances classe dominante e subalterna, patrão e empregado, centro e periferia, casa
grande e senzala?
Eleger para o cargo de prefeito alguém que
não descende dos clãs de pioneiros e fundadores da urbe mamorense, um principiante
em cargo público, sujeito que em sua infância vendia tapioca, picolé e outros
quitutes caseiros, para engrossar a renda família; eleger um prefeito sem
‘linhagem política’, que ainda tem como vice um afrodescendente, de origem social
semelhante à trajetória do prefeito eleito, para alguns representantes da elite
política e econômica segregadora perolense chega a soar como afronta inenarrável;
humilhante desonra para o Palácio Pérola do Mamoré; imensurável vergonha para
cidade e aos grupos políticos outrora dominantes.
Impropérios como “incompetente, traficante,
gay, aliciador de menores, seqüestrador de menores” invadiram as redes sociais após
proclamação dos vencedores do pleito suplementar. A eleição de Noronha e Serrath
deixou, por exemplo, Linara Cavalcante “inojada de Guajará” (sic). Luan Cézar,
filho do vereador e Presidente da Câmara de Vereadores de Guajará-Mirim Mário
Cézar (PMDB), declarou em redes sociais: “Agora 2 incompetentes assumido a
prefeitura, um traficante e outro gay” (sic).
Certamente que os advogados do Prefeito
eleito Cícero Noronha Alves Filho e do vice Prefeito, o vereador Davino Serrath,
tomarão as medidas necessárias, à luz da lei, para combater os possíveis crimes
cometidos por Linara Cavalcante e Luan Cézar.
Nesta segunda-feira, 3, Noronha e Serrat
fizeram visitas em algumas unidades e áreas da prefeitura. Em uma delas,
enquanto o prefeito eleito e seu vice circulavam pela área externa de um órgão
visitado, duas funcionárias que observavam do interior da repartição as
autoridades eleitas, comentaram: “o prefeito nem olha pra gente”. Então a outra
respondeu: “é que ele esta lá embaixo e não está vendo a gente aqui em cima”.
As duas funcionárias foram interrompidas por uma terceira servidora
comissionada, que asseverou: “e é lá embaixo o lugar dele. Ele nuca vai passar
disso”.
Para quem faz política com “P” másculo e para
homens grandes, agora é hora de juntar cacos, lamber feridas do embate, sacudir
a poeira e seguir em frente. Noronha e Davino tem missão mais relevante: transformar
a prefeitura em uma instituição mais justa e o município em uma cidade mais
agradável, mais humana e mais tolerante. Fazer da injustiça e do preconceito
sofridos por ambos, instrumento de reflexão e de transformação. Converter a dor
em política pública de reparação e justiça social para todas as vítimas de preconceito,
racismo, misoginia, xenofobia, homofobia e tantas outras formas de segregação
social.
A melhor resposta de Noronha e Davino à
desagradável experiência viva é levar o tema para espera da política pública,
de forma a inspirar discussões e possível criação de uma coordenadoria
municipal da cidadania e direitos humanos, a exemplo de inúmeros municípios,
diretamente ligada ao gabinete do prefeito, conduzida por Davino Serrath, para
articular a implementação de políticas públicas de defesa, reparação social,
promoção e garantia dos direitos fundamentais de negro, mulheres, idosos, crianças,
adolescentes, índios, população LGBT, portadores de necessidades especiais,
quilombolas, estrangeiros (em especialmente população boliviana residente no
município), e demais segmentos sociais historicamente marginalizados e
desassistidos pela carência – ou total ausência - de políticas públicas
municipais reparadoras no âmbito da educação, assistência social, saúde,
cultura, esporte e lazer, com vistas à superação das desigualdades e a
eliminação das diferentes formas de discriminação.
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