Gabriel e Márcia, nos papeis de noivos |
Indiscutivelmente,
Guajará-Mirim é detentora de vasto e rico patrimônio cultural, particularmente
no campo das manifestações tradicionais populares, o que faz da cidade
importante e fértil referência estadual no segmento do patrimônio cultural
imaterial.
Neste
último sábado, 25, aconteceu o arraial “Acadêmicos na Roça”, realizado na
Avenida Airton Sena, 3795, bairro Jardim das Esmeraldas, organizado pelos
alunos do Curso de Gestão Ambiental da UNIR, Campus de Guajará-Mirim. A festa
junina do Jardim das Esmeraldas foi coordenada pelo acadêmico Thomé Alves,
muito conhecido na Pérola do Mamoré por também montar a já tradicional Casa do
Papai Noel.
O
arraial “Acadêmicos na Roça” proporcionou aos participantes e a quem compareceu
ao evento, um momento de rara beleza: um oportuno reencontro com nossas raízes,
com nossa identidade cultural, com a cultura popular tradicional, pois o
arraial foi uma festa junina típica, com vestes e estéticas dos festejos de São
João; uma festa apropriadamente decorada. O arraial do bairro Jardim das
Esmeraldas foi um brinde, uma justa homenagem à memória e à estética do
folguedo junino.
Barraca da pescaria, Arraial Acadêmicos na Roça |
Tudo
aconteceu na mais perfeita ordem e paz, com marcante participação da comunidade
local, particularmente a juventude. O ponto alto das apresentações culturais
forram as participações do “Quadrilhão Caipira do Jardim” (com Gabriel e Márcia
nos papeis de noivos); e o Boi-Bumbá Flor do Campo.
Nos últimos
anos temos assistido a um paulatino negligenciamento da estética desta popular
festa, que tem como traços próprios as vestimentas coloridas usadas por
brincantes e convidados, as comidas e músicas típicas, as atividades culturais
apresentadas durante a realização do arraial, que acontece em local apropriado
e devidamente decorado, simulando uma estética caipira, uma festa na roça. Até
bem pouco tempo, por exemplo, o cardápio era inspirado em comida típica do
período junino, sobretudo a base de milho, além das tradicionais delícias
regionais: pato no tucupi, galinha caipira, tacacá, vatapá, caruru, dentre
outros.
Thomé Alves, o apresentador da quadrilha junina |
As
festas juninas, que também acontecem em homenagem a três santos católicos
(Santo Antônio, no dia 13 de junho; São João Batista, dia 24; e São Pedro, dia
29), nos últimos anos tem perdido o seu contorno estético peculiar. Eu mesmo
tenho participado de arraiais cujo mote da agenda cultural é a dança funk e o
menu musical predominante é o modão sertanejo e o sertanejo universitário.
Alguns Arraiais chegam a montar uma tenda de dance. A música de “São João” - o
forró pé de serra - próprio em evento de contorno junino, tem perdido espaço
para modismos musicais de plantão.
Apresentação do bumbá Flor do Campo |
Vão
longe os tempos onde ouvíamos clássicos que marcavam os arraiais tradicionais:
Festa na Roça - Palmeira/Mario Zan; Olha pro Céu – Luiz Gonzaga/José Fernandes
de Carvalho; Pagode Russo – João Silva/Luiz Gonzaga; O Sanfoneiro só Tocava
Isso – Haroldo Lobo/Geraldo Medeiros; Balada – Cassio Sampaio; Quadrilha
Brasileira – Gerson Filho/José Maria de Aguiar Filho; Asa Branca – Humberto
Teixeira/Luiz Gonzaga; Isto é lá com Santo Antônio – Lamartine Babo; Pula a
Fogueira – João Bastos Filho / Amor, dentre outras.
Resta-me
parabenizar os acadêmicos de gestão ambiental da UNIR e toda comunidade do
bairro Jardim das Esmeralda, por maravilhosa experiência estética; e lamentar
que quem mais negligencia este autêntico traço identitário do povo brasileiro é
justamente quem deveria preservar: a escola. São nos arraiais realizados em
escolas, tanto da rede pública quanto da privada, que mais assistimos inovações
que contribuem com a desconstrução da estética típica de nossas populares
festas juninas.
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