(porque a vaca já está lá, na beira do brejo!)
Por:
Altair Santos (Tatá)
Flor do Campo, ensaio, 2012 |
A
cultura em sofreguidão e agonia solta seus ais! Os temas e interesses do setor
já não são atendidos nem correspondidos e parecem gritos roucos na multidão,
inaudíveis pros que se fazem surdos tampando os ouvidos e invisíveis aos que se
fazem curtos das vistas e da visão, se negando a enxergar. Assim lançar apelos que
transponham as muralhas se faz difícil, nada exitoso. A esperança derradeira de
que lá detrás do muro exista algum socorro, se esvai como a chama morna de um
toco de vela no chuvisco. Aos poucos a prática da negação e do cerceamento
cultural vai se alastrando aqui por essas bandas.
Tanto
fizeram que conseguiram fazer das manifestações culturais populares práticas
inviáveis, adornadas com a imposição de aparatos burocráticos e estruturais que
são pertinentes aos deveres dos próprios poderes públicos, assim como, em plano
oposto, compete aos produtores, aos grupos, artistas e técnicos da cultura
conceberem, criarem, ensaiarem, encenarem, expressarem essas suas criações.
Malhadinho, apresentação 2012 |
Podemos
contar nos dedos, em mais de uma mão, que já tivemos isso, aquilo, aquilo outro,
etc e coisa e tal! E parece não parar por aí. O vírus do descaso e do vesgo
olhar cultural que assola Porto Velho dá sinais de proliferação e já contamina
outros longes do estado. Bem se sabe que a coisa pública não tem que ser pai ou
mãe de evento ou projeto cultural, mas lhe cabe sim o objeto do incentivo, a
promoção ao acesso, o fomento, o incremento. Tá lá na constituição!
Ao
portar-se inversamente ao plano de parceiro de primeira hora da cultura (principalmente
a popular), qualquer governo que assim o fizer, nega o constitucionalmente
garantido e instala o sentimento da desmotivação, do atraso e da deseducação.
Dentre os entes culturais - quando aparceirados - o estado, sem contestações é
o maior e mais forte, porém, se nega, distancia-se, se omite ao seu papel
fundamental.
Protesto na Câmara de Vereadores de Guajará-Mirim |
Em
Porto Velho, o Arraial e Mostra Folclórica Flor do Maracujá, peça mui discutida,
viva e levada adiante às duras penas já exala – nesse funesto cultural de 2014
- um aroma reles e é avistado como uma flor em vias de murchar. Tomara que não!
O histórico arraial e mostra folclórica, a essa altura, pra lá de fora de
época, ainda vive a realidade do “disse me disse”, do “é ou não é” e se vai ou
não acontecer. Quadrilhas juninas e bois-bumbás desde o mês de março se esmeram
em ensaios e ajustes coreográficos, além, é claro, de ultimarem os preparativos
de figurinos. Estes também orbitam no espaço do incerto sem saberem se dançarão
ao som da sanfona forrozeira ou aos sonoros trinos dos jingles bells natalinos,
já que por aqui tudo ta fora de época e fora da ordem mundial.
Como
não bastasse o fracassado carnaval do ano passado, agora, em 2014, justo no ano
do centenário de Porto Velho, sem sombra de dúvidas, a atividade foi a grande
vítima da cheia do Madeira. O fizeram beber muita água da enchente até
empanzinar-se e ir ao coma da alagação. Noutra precipitada decisão, um meia
boca fora de esquadro, fora de estética, aliás, fora de tudo, o carnaval foi
colocado nas ruas refletindo o espelho do “qualquer jeito” onde o improviso exibiu
a face da inaptidão. Enfim, ecoam as máximas populares dentre elas, a de que
“não termina certo o que começa errado!”
Apresentação Malhadinho, 2009 |
As
escolas de samba de Porto Velho que também desde muito cedo se aviaram em
preparativos para o grande carnaval do centenário da capital, amargam uma
grande indecisão na passarela do “não sei se vou não sei se fico!” Pior, por
terem recebido parte do recurso prometido, poderão ser enquadrados pela
municipalidade a desfilarem em data próxima, sob pena de incorrerem em
inadimplência. Esquece-se a Prefeitura que, a parte inicialmente repassada não
cobre o total da produção das escolas. Talvez, pelo jeito, só uma decisão
salomônica pra elidir o impasse. Cremos que as agremiações deviam recolher tudo
que compraram e entregar como prestação de contas dando um basta nesse trololó
de “desfila, não desfila”. Como esse negócio de centenário pra cá, centenário
pra lá, é um assunto que já gorou, escolas de samba e coisa pública deviam
avaliar a questão e não submeterem-se a mais um desgaste e improviso que se
ensaia ao caminharem nessa escorregadia ladeira rumo ao brejo.
Manifestação pela realização do Festival em 2013 |
A
aconchegante, acolhedora, histórica, romântica e amada Guajará Mirim assiste
preocupada o deus dará a que, até o momento, vem sendo relegado o Festival
Duelo da Fronteira desse ano de 2014. Sem o apoteótico espetáculo no qual os
famas Malhadinho e Flor do Campo, exibem as cores, brilhos e movimentos de um
dos mais expressivos certames culturais do Estado de Rondônia e do norte
brasileiro, a cidade de Guajará com a sua rede hoteleira, os restaurantes,
bares, lanchonetes e similares, o transporte, o comércio enfim, todos perdem e parece
mesmo que o festival virou uma peça de
segundo plano, quiçá plano nenhum, nas hostes e pretensões governistas. A
cultura virou náufrago sem porto no mar dos céticos e indiferentes que vêem e
desdizem a cultura como subproduto, ponto entrave, motivo de atrapalho.
Flor do Campo, 2012 |
Chega
causar tristeza e revolta os tratos estranhos e desatenções que dispensam aos
nossos mais notórios e marcantes projetos, ainda mais em sendo aqueles que
evidenciam a riqueza e a pluralidade cultural existente aqui em Rondônia.
O
Duelo da Fronteira que no seu entorno poderia agregar um enorme seio produtor de
cultura, começa visivelmente ficar pra última hora ou hora nenhuma. Aos poucos,
o projeto definha ao ver escondida e sobrepujada a sua face mais irradiante e
colorida da pesquisa, da confecção e montagem, da expressão e exibição, da materialização,
da formação e da informação, do lazer cultural e do entretenimento da geração
de renda e das divisas históricas e culturais.
Talvez
os dois bois se apresentem em 8 e 9 de agosto, apenas como mostra. Enquanto
isso resta a dedicação e o interesse quase mendicante da empenhada equipe da SEMCET
– Secretaria de Cultura de Esportes e Turismo de Guajará Mirim pelos corredores
oficiais, na capital do Estado, num vai e vem de apelos sofridos, sem obter os
avais que garantam colocar na cena o vistoso festival protagonizado pelos
envolventes Malhadinho e Flor do Campo. Que não sejam estes, os últimos mugidos
do boi. Assim esperamos!
tatadeportovelho@gmail.com
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