domingo, 2 de junho de 2013

FESTIVAL FOLCLÓRICO DE GUAJARÁ-MIRIM: A HISTÓRIA DE UM GRANDE DUELO

Por Ariel Argobe (*)


Flor do Campo, 2010
O Festival Folclórico de Guajará-Mirim é hoje a mais espetacular manifestação de cultura popular do Estado de Rondônia, teve início no ano de 1995, quando foi realiza a primeira edição do Festival, reunindo na arena de disputa estética, de um lado, a Associação Folclórica Boi-Bumbá For do Campo, que tem como insígnia cravada na testa de seu bumbá, o trevo de quatro pontos e as cores vermelha e branca e, do outro lado, seu desafeto eterno, a Associação Folclórica e Cultural Boi-Bumbá Malhadinho, representada pelas cores azul e branca, ostentando como símbolo, ornado em sua cabeça do bumbá, a meia lua.

O primeiro Festival Folclórico de Guajará-Mirim se traduziu, marcadamente, em uma grande mostra de danças e passos típicos do folguedo de bois-bumbás, sem competição entre as duas associações culturais.

A iniciativa de organizar o 1º Festival Folclórico da Pérola do Mamoré, que tradicionalmente acontece no segundo final de semana do mês de agosto, tem origem em um projeto defendido pela União Municipal das Associações de Moradores de Guajará-Mirim (UMAM), naquela época, sob a presidência do Sr. Aderson Mendes da Silva, com a parceria e apoio da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Campus de Guajará-Mirim.

No ano seguinte, em 1996, é realizada a segunda edição do Festival e, no ano de 1997, na terceira edição do Festival, tem início o período dos enfrentamentos entre os dois bumbás, batalha estético-artística que marca a grande rivalidade entre as duas associações culturais de bumbás da cidade de Guajará-Mirim, carinhosamente apelidada de cidade “Pérola do Mamoré”. É a partir da III edição que o Festival Folclórico de Guajará passa a ser cognominado por “Duelo da Fronteira”, sendo a grande campeã do Festival de 1997, a Associação Folclórica e Cultural Boi-Bumbá Malhadinho, feito repetindo no ano seguinte.

Malhadinho, 2010
Nos anos de 1999, 2000, 2001 e 2003, o Boi-Bumbá Flor do Campo consagra-se como o grande vencedor do V, VI, VII e IX Festival, acirrando ainda mais a rivalidade entre as associações culturais Flor do Campo e Malhadinho, e despertando a paixão de brincantes e admiradores pelo folguedo de boi-bumbá.

No ano de 2002 não houve competição. Em 2004, o resultado final simbolizou o clima de disputa e de duelo entre as duas associações de bumbás rivais: Malhadinho e Flor do Campo empatam na arena do Bumbódromo.

Nos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008 o Boi-Bumbá Malhadinho é o grande campeão do XI, XII, XIII e XIV Festival Folclórico de Guajará-Mirim. O Boi-Bumbá Flor do Campo sagra-se o grande campeão do XV e XVI Festival Folclórico da Pérola do Mamoré e perde para seu grande desafeto Boi-Bumbá Malhadinho o XVII Festival. Em 2012, o confronto da XVIII edição do Duelo da Fronteira é vencido pelo Boi Flor do Campo, defensor das cores vermelha e branca.

Alegoria Malhadinho, 2010
O Festival Folclórico de Guajará-Mirim há muito transcendeu a simples disputa estética entre duas nações de bumbás. Para população local de caboclos e beradeiros, o festival é a afirmação e a perpetuação da estética, da história e das lendas da população que vive entre rios e florestas.

Nos seus primeiros anos de existência, o Festival Folclórico da Pérola do Mamoré tinha formato modesto, perfil plástico tradicional, mais assemelhado ao estilo de bumbá predominante no Estado do Maranhão.

Com o tempo, as associações culturais de bumbás de Guajará passaram a buscar tecnologia, profissionais e inspiração no modelo do Festival Folclórico de Parintins, de forma que o Festival da Perola do Mamoré foi ganhando contorno plástico e monumentalidade estrutural e, assim, se aproximando em aparência e importância ao Festival da Ilha de Tupinambarana.

Alegoria Flor do Campo, 2010
Paulatinamente o Festival Folclórico de Guajará-Mirim busca sua própria identidade estética e avança, se afirmando também como um grande evento de cultura popular, organizado e produzido por artistas, mestres da cultura e produtores culturais nativos das terras do Mamoré, e se consolida como a mais espetacular galeria de arte, ao ar livre, expondo e afirmando o talento, a genialidade criadora e a identidade cultural de caboclos e beradeiros.


O certame cultural é hoje uma das maiores e mais frondosas festas folclóricas da Região Norte, realizada há quase duas décadas na aprazível Guajará-Mirim, que durante os três dias de festa se divide e coloca em lados opostos a população local: moradores, brincantes, admiradores e turistas, separados apenas pelas cores azul e vermelha.

(*) Ariel Argobe é Artista Plástico, Carnavalesco, ex-Presidente da Fundação Iaripuna e da Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas do Estado de Rondônia - FESEC


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