FESTIVAL FOLCLÓRICO DE GUAJARÁ-MIRIM: A
HISTÓRIA DE UM GRANDE DUELO
Por Ariel Argobe (*)
Flor do Campo, 2010 |
O Festival Folclórico de Guajará-Mirim é
hoje a mais espetacular manifestação de cultura popular do Estado de Rondônia,
teve início no ano de 1995, quando foi realiza a primeira edição do Festival,
reunindo na arena de disputa estética, de um lado, a Associação Folclórica
Boi-Bumbá For do Campo, que tem como insígnia cravada na testa de seu bumbá, o
trevo de quatro pontos e as cores vermelha e branca e, do outro lado, seu
desafeto eterno, a Associação Folclórica e Cultural Boi-Bumbá Malhadinho,
representada pelas cores azul e branca, ostentando como símbolo, ornado em sua
cabeça do bumbá, a meia lua.
O primeiro Festival Folclórico de Guajará-Mirim se traduziu,
marcadamente, em uma grande mostra de danças e passos típicos do folguedo de
bois-bumbás, sem competição entre as duas associações culturais.
A iniciativa de
organizar o 1º Festival Folclórico da Pérola do Mamoré, que tradicionalmente
acontece no segundo final de semana do mês de agosto, tem origem em um projeto
defendido pela União Municipal das Associações de Moradores de Guajará-Mirim
(UMAM), naquela época, sob a presidência do Sr. Aderson Mendes da Silva, com a
parceria e apoio da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Campus de
Guajará-Mirim.
No ano seguinte, em
1996, é realizada a segunda edição do Festival e, no ano de 1997, na terceira
edição do Festival, tem início o período dos enfrentamentos entre os dois
bumbás, batalha estético-artística que marca a grande rivalidade entre as duas
associações culturais de bumbás da cidade de Guajará-Mirim, carinhosamente
apelidada de cidade “Pérola do Mamoré”. É a partir da III edição que o Festival
Folclórico de Guajará passa a ser cognominado por “Duelo da Fronteira”, sendo a
grande campeã do Festival de 1997, a Associação Folclórica e Cultural Boi-Bumbá Malhadinho, feito
repetindo no ano seguinte.
Malhadinho, 2010 |
Nos anos de 1999,
2000, 2001 e 2003, o Boi-Bumbá Flor do Campo consagra-se como o grande vencedor
do V, VI, VII e IX Festival, acirrando ainda mais a rivalidade entre as
associações culturais Flor do Campo e Malhadinho, e despertando a paixão de
brincantes e admiradores pelo folguedo de boi-bumbá.
No ano de 2002 não
houve competição. Em 2004, o resultado final simbolizou o clima de disputa e de
duelo entre as duas associações de bumbás rivais: Malhadinho e Flor do Campo
empatam na arena do Bumbódromo.
Nos anos de 2005,
2006, 2007 e 2008 o Boi-Bumbá Malhadinho é o grande campeão do XI, XII, XIII e
XIV Festival Folclórico de Guajará-Mirim. O Boi-Bumbá Flor do Campo sagra-se o
grande campeão do XV e XVI Festival Folclórico da Pérola do Mamoré e perde para
seu grande desafeto Boi-Bumbá Malhadinho o XVII Festival. Em 2012, o confronto
da XVIII edição do Duelo da Fronteira é vencido pelo Boi Flor do Campo,
defensor das cores vermelha e branca.
Alegoria Malhadinho, 2010 |
O Festival Folclórico de Guajará-Mirim há muito
transcendeu a simples disputa estética entre duas nações de bumbás. Para
população local de caboclos e beradeiros, o festival é a afirmação e a
perpetuação da estética, da história e das lendas da população que vive entre
rios e florestas.
Nos seus primeiros anos de existência, o Festival Folclórico da Pérola
do Mamoré tinha formato modesto, perfil plástico tradicional, mais assemelhado
ao estilo de bumbá predominante no Estado do Maranhão.
Com o tempo, as associações culturais de bumbás de Guajará passaram a
buscar tecnologia, profissionais e inspiração no modelo do Festival Folclórico
de Parintins, de forma que o Festival da Perola do Mamoré foi ganhando contorno
plástico e monumentalidade estrutural e, assim, se aproximando em aparência e
importância ao Festival da Ilha de Tupinambarana.
Alegoria Flor do Campo, 2010 |
Paulatinamente o Festival Folclórico de Guajará-Mirim busca sua própria
identidade estética e avança, se afirmando também como um grande evento de
cultura popular, organizado e produzido por artistas, mestres da cultura e
produtores culturais nativos das terras do Mamoré, e se consolida como a mais
espetacular galeria de arte, ao ar livre, expondo e afirmando o talento, a
genialidade criadora e a identidade cultural de caboclos e beradeiros.
O certame cultural é hoje uma das maiores e mais
frondosas festas folclóricas da Região Norte, realizada há quase duas décadas
na aprazível Guajará-Mirim, que durante os três dias de festa se divide e
coloca em lados opostos a população local: moradores, brincantes, admiradores e
turistas, separados apenas pelas cores azul e vermelha.
(*) Ariel Argobe é Artista Plástico, Carnavalesco, ex-Presidente da Fundação Iaripuna e da Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas do Estado de Rondônia - FESEC
(*) Ariel Argobe é Artista Plástico, Carnavalesco, ex-Presidente da Fundação Iaripuna e da Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas do Estado de Rondônia - FESEC
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