Por: Sílvio Santos/Zekatraca
Fotos: Roni Carvalho
Os moradores antigos do distrito de Jacy Paraná, localizado a 90 quilômetros de Porto Velho, festejaram na data de ontem 31 de maio, 99 anos da chegada do trem da Estrada de Ferro Madeira Mamoré a então localidade de Jacy Paraná.
Manoel Rodrigues na página 273 da 2ª edição do livro “A Ferrovia do Diabo” registra: “No dia 31 de maio de 1910, foi inaugurado o primeiro trecho da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, entre Santo Antônio e Jaciparaná, numa extensão de 90 km. A inauguração foi solene, tendo um trem com as autoridades percorrido todo aquele trecho, com todas as formalidades de estilo. Duas bandeiras pendiam do trem inaugural: a brasileira e a norte-americana.”
De acordo com pesquisa da escritora jaci paranaense Floriza Santos. Jacy Paraná foi transformado em Distrito de Santo Antônio do Alto Madeira pela Lei 495 de 03 de junho de 1908 como nome de “Generoso Ponce”. “Generoso Paes Leme de Souza Ponce foi governador de Mato Grosso”, informa Floriza.
No dia 17 abril de 1945, dois anos depois que suas terras foram incorporadas ao Território Federal do Guaporé/Rondônia, foi transformado em distrito de Porto Velho através da Lei 747. Apesar de a cidade ficar entre duas pontes, a do rio Jacy Paraná e a do rio Mutum Paraná não pode ser considerada como ilha, segundo o historiador Abnael Machado de Lima o distrito de Jacy Paraná é apenas um divisor de águas.
Terra dos índios Karitianas e Karipunas Jacy Paraná ao longo de seus anos de existência passou por vários momentos de progresso, primeiro com a chegada do trem da Madeira-Mamoré, depois com a extração do látex da seringueira quando da grande produção de borracha para abastecer as indústrias norte americanas durante a segunda guerra mundial com a chegada dos Soldados da Borracha, depois com o garimpo de ouro do rio Madeira e agora vive realmente o seu maior desenvolvimento com a construção da usina hidrelétrica de Jirau.
Nossa reportagem esteve sábado passado em Jacy Paraná, e ouviu o que os moradores antigos e os que estão chegando atraídos pela construção da hidrelétrica, têm a dizer sobre o progresso que está transformando uma cidade pacata, numa cidade que começa a conviver com os transtornos causados pela falta de estrutura.
Para os taxistas Valdomiro Amorim e Claudio Justiniano essa onda de progresso melhorou bastante o movimento. “Antes fazíamos poucas viagens entre Jacy/PVH/Jacy, hoje são em média 40 viagens diárias”. Vale salientar que essas 40 viagens são divididas entre os 22 taxistas cadastrados para esse trecho. Para o agricultor Getulio Aparecido que vive na cidade a mais de 20 anos “Às vezes ta bom e às vezes ta ruim. Por exemplo, agora ta ruim porque a construção da usina está parada”. Esse pensamento do seu Getulio é compartilhado pela maioria dos moradores da Vila, como é o caso das jovens estudantes Ana Paula, Débora, Naiara e Keite todas da tradicional família Oliveira/Almeira, brincantes da Quadrilha Junina “Todo Mundo Maluco” afirmam que agora está muito melhor, pois tem até clube. Seu Geraldo Laurentino da Costa que está com 86 anos. Conta que chegou à Vila, em 1954 vindo do Rio Grande do Norte e por muitos anos trabalhou no fabrico de farinha de mandioca. “Embarcava os sacos de farinha de 60 kg já encomendados pelos comerciantes de Porto Velho no trem da Madeira-Mamoré”. Já o dono de restaurante Sebastião Pereira da Silva acha que no tempo do garimpo o movimento era bem melhor. “Naquele tempo corria mais dinheiro, agora, pelos menos no meu restaurante, ainda não ganhei nada com o povo da hidrelétrica”. Porém o que se nota, é o progresso transformando radicalmente o modo de viver do povo tradicional, hoje todo mundo sonha em ganhar bastante dinheiro alugando ou vendendo seus terrenos por um preço que podemos considerar até certo ponto como exorbitante. “Hoje um terreno que custava uma mixaria, está sendo oferecido por R$ 15 e até R$ 20 mil. O aluguel de uma casinha com privada no quintal chega a ser cobrado, acima de Mil Reais”, disse Sebastião.
João Francisco lembra, “Chegamos aqui em 1958 viajando de trem. Na realidade chegamos a Porto Velho no navio Leopoldo Peres e de lá pegamos o trem pra cá”.
Canteiro de obra
Jacy Paraná hoje é o que podemos classificar como verdadeiro canteiro de obras, para onde olhamos nos deparamos com alguma construção. As ruas passam pelo processo de saneamento básico com a construção de esgotos desde a vila velha até a Nova Jacy. As construções de casas residências e comerciais são vistas pelos quatro cantos da cidade. Assim como a construção de quatro hotéis já prevista para iniciar em breve. Por falar em hotel todos que estão em funcionamento, estão com lotação esgotada. “Uma empresa de Vilhena vai construir 200 casas em uma área que está sendo preparada na Nova Jacy”, informa José Carlos Lobo. Jacy hoje conta com um centro comercial com lojas em estilo moderno, agencia bancária e telefone fixo “Precisamos urgentemente que uma operadora de celular instale sua antena aqui”.
Enquanto a banda Eletro Show com o guitarrista e cantor Neto Old e o tecladista Edmilson Old animam o Forro do “Chico Lata”, as camionetas da Sedan não param de transitar pelas ruas da cidade. A Polícia Militar garante a segurança e os bares da rua paralela a BR ficam lotados nos finais de semana com os trabalhadores da hidrelétrica de Jirau, turistas e especuladores que a toda hora, chegam a cidade. “Isso me lembra o tempo que a borracha tinha preço e o trem funcionava”, confessa seu Geraldo Laurentino.
Pelo lado da cidade velha as obras também estão tomando conta das casas antigas, a reforma da igreja do “Sagrado Coração de Jesus” padroeiro de Jacy, segundo o mestre de obras Jerônimo Francisco da Costa deve ser inaugurada no dia 19 de junho com uma grande quermesse.
Pela famosa ponte, as carretas passam com suas cargas especiais no rumo do canteiro de obra da usina de Jirau, enquanto na rodoviária, os ônibus da Eucatur deixam passageiros que desembarcam na esperança de conseguir melhorar de vida, ganhando dinheiro na promissora cidade, cujos moradores, já estão sonhando com sua transformação em município. “Do jeito que isso aqui vai, a transformação em município não demora muito” aposta Lobo.
O dia 31 de maio, não é apenas o dia que o trem chegou à cidade, é também o dia da inauguração da famosa ponte sobre o Rio Jacy Paraná e da inauguração da estação da Estrada de Ferro cujo prédio encontra-se totalmente em ruínas. “Vamos solicitar ao prefeito que revitalize o prédio da estação, a caixa d’água e a cadeia de ferro para transformar em atração turística da nossa cidade. Que a inauguração da revitalização desses patrimônios históricos, façam parte da festa do centenário da chegada do trem em Jacy Paraná em 2010”, finalizou José Carlos Lobo.
*Artigo Publicado do jornal eletrônico tudorondonia.com.br, em 2009-06-01
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