quarta-feira, 16 de junho de 2010

RESPOSTA À FILHA DE BILLY GRAHAM


DEUS E O 11 DE SETEMBRO

Por Antônio Serpa do Amaral Filho *


O atentado terrorista de 11 de Setembro de 2001
está sendo explicado na internet pela filha de Billy Graham, um
pastor protestante do gênero mass mídia. Está correndo mundo na web
que, em entrevista ao Early Show, da TV Americana, Anne Graham disse
que o povo norte-americano esqueceu de Deus e, além disso, já não se
faz orações nem a leitura da Bíblia nas escolas americanas, as
mulheres estão fazendo aborto e os adolescentes usando camisinha
naquele país. Resultado: as torres vieram abaixo.

Essa versão revela claramente a faceta danosa da
ideologia da fé, quando constrói o seguinte silogismo falacioso em
torno do 11 de Setembro: Deus abandona à própria sorte os que não o
reverenciam (premissa maior); o povo norte-americano não o
reverenciou (premissa menor); Deus o abandonou, e daí o aconteceu o
11 de Setembro. (conclusão).

Em outras palavras, o 11 de Setembro, na visão
míope e alienada do crente, tem causa não em um conjunto de
elementos essencialmente humanos que movem as roldanas da História,
mas tem causa na relação homem-Deus. É aí, nesse olhar, nessa
interpretação e nessa pregação metafísica, que reside o perigo. Ora,
vendo o mesmo 11 de Setembro sob a ótica do Islamismo, temos a
seguinte versão: Deus está usando a Al Qaeda para fazer justiça ao
Imperialismo Norte-Americano e à opressão Ocidental! Deus escolheu
Osama Bin Laden o justiceiro dos novos tempos, Deus abençoa os
guerreiros do Islã e dá morte justa aos infiéis! Em nome desse Deus
os homens-bomba sacrificam vidas humanas diariamente, pois terão
como recompensa, diz-lhes a ideologia islâmica, além da vida eterna,
20 virgens do céu de Alá.

A fé do crente muçulmano é tão verdadeira e
intensa quanto a fé do crente cristão, protestante ou católico.
Ambos os crentes invocam uma divindade transcendental. Na verdade,
segundo a subjetividade e a cultura de cada grupo de crente, cada um
forja um Deus à imagem e semelhança dos seus valores, tradições,
costumes, organização social etc, isto é, o Homem é quem cria Deus.
Esse é problema e o perigo da fé: ela não se volta unicamente para a
divindade invocada. Fosse assim, seria uma maravilha. Todavia, o
fenômeno da fé transborda do mundo do mistério e da crença em si
mesma para os elementos concretos que perfazem a vida social,
política, econômica e cultural do Homem. É aí que o bicho pega, e tá
feito o imbróglio.

Senão, vejamos. Anne alinhava os seguintes
assuntos da vida terrena: "não fazer orações nas escolas". Deduz-se
que sejam escolas da rede pública de ensino, pois nas escolas de
vocação religiosa as orações são feitas normalmente. Ora, a escola
pública pertence ao Estado, e o Estado, na democracia burguesa, é um
ente laico, e não poderia ser de outra forma. O Estado não tem Deus,
o poder constituinte do Estado não advém de Deus, e o Estado não é
concebido em nome de Deus. O Estado Burguês foi construído a sangue
e luta justamente para negar o Estado Feudal, esse, sim, erigido em
nome de Deus. Pela argumentação da crente, deduz-se que, já que não
houve oração nas escolas, Deus fez vistas grossas aos desmandos de
Osama Bin Laden, e o povo norte-americano caiu em desgraça.

Não tem nada mais medievalesco do que isso. É uma
visão tosca, infantil, de quem não tem um mínimo de leitura
histórica da marcha humana. O Estado, a Religião e o Poder Político
já foram outrora uma só entidade. Ainda hoje temos resquício do
Estado Teocrático no Irã. Recentemente, no Afeganistão, os
norte-americanos desmontaram o projeto do Estado Teocrático dos
Talibãs. Um Estado laico que assegure a todos a liberdade de crença
é uma conquista do mundo moderno. Portanto, se o governo
norte-americano proibiu a oração na escola do Estado, agiu certo. O
Estado é ente jurispolítico. Misturar Deus com Estado é como fazer
um ensopado dos 10 Mandamentos com o Ordenamento Jurídico Pátrio. O
Estado é o Estado. Deus é Deus. Separar um do outro nos custou o
Renascimento, o Iluminismo e a Revolução Francesa. Vamos retroceder
agora??

O uso de camisinhas seria outra causa do ataque
terrorista. Infere-se do texto que o 11 de Setembro também tem a ver
com o fato da juventude norte-americana estar usando camisinha. E
quando se fala em camisinha, fala-se em sexo e moral. Vejamos qual é
a verdadeira moral do mundo: O Deus de Bento XVI acha que é um
pecado usar camisinha. O Deus dos padres engajados em movimentos
sociais aprova a camisinha. O Deus dos Protestantes mais
conservadores acha que ela é o fim do mundo. O Deus dos Protestantes
mais liberais acha não há pecado no uso de preservativo. O Deus do
Islamismo ortodoxo acha que camisinha é coisa do demônio ocidental.
As 24 milhões de pessoas infectadas pela Aids na África esperam que
os Deuses entrem logo em acordo porque, não bastasse a fome, dezenas
de pessoas morrem diariamente da doença naquele continente.

Aliás, do ponto de vista focado por Anne,
pergunta-se: o que foi mesmo que os coitados dos africanos fizeram
seja ao Deus cristão, seja ao Deus do islão, seja ao Deus da
umbanda, para que viver de forma tão famélica, sub-humana e
degradante? Enquanto o crente está lá na sua Sinagoa, ou na sua
Igreja, ou no seu Templo, ou no seu Terreiro, fazendo suas orações e
prestando suas reverências ao seu Deus, está tudo bem. Mas quando o
olhar desse crente se propõe a substituir o pensamento analítico do
sociólogo, o julgamento ponderado do jurista, a explicação
científica do Historiador, aí a fé torna-se nefasta porque ela sai
da sua dimensão original e passa a querer legislar e administrar
numa seara que prescinde da concepção de Deus. O olhar do crente é
absolutamente vesgo, não serve para explicar o mundo. É um olhar
construído em nome de Deus, ou dos Deuses, mas por ser
intrinsecamente parcial, alienado, comprometido, não é ferramenta
confiável para oferecer explicações sobre os fenômenos da vida. A
discordância deste articulista está assentada nesse mérito. Não
estou dizendo que Deus é feio ou é bonito. Reconheço a Fé como Bem
da Humanidade. Mas criticamente observo que, ao ser utilizada
ideologicamente, a fé presta um des-serviço ao Homem.

Deus não faz a História. Não participa dela. Não é
o seu centro, nem sua causa. E nem poderia sê-lo. Quem faz a
História é o Homem. Deus possivelmente está na dimensão do mistério,
da não-razão, da não-ciência, do indizível, do ilimitado, do
solitário encontro do ser consigo mesmo.

O herói e o vilão da História é o próprio homem.
Deus, realmente não tem culpa no cartório - certifique-se, junte-se
e publique-se, diria o juízo da razão. Responda o Homem pelos seus
atos.

Falta autocrítica e farta dose de humildade a
todas as correntes religiosas. Cada uma delas se arvora dona da
Verdade. Cada uma delas se julga a única reveladora do pensamento
divino. São obras temporais da cultura, do espaço e do tempo. Deus
possivelmente encontra-se algumas calendas-luz mais pra lá!!

(*) Antonio Serpa do Amaral Filho é poeta, escritor e articulista cultural

14 comentários:

  1. Não é de hôje que setores do protestantismo conservador norte-americano, estão em plena reação contra as liberdades individuais e de livre pensamento. Direitos duramente conquistadas pelos movimentos civis no meado da década de cinquenta e durante os anos sessentas naquêle país!

    O recrudescimento dessa reação dos neo-protestantes torna-se "visível" a partir da obrigatoriedade das Escolas de 'ensinar' o criacionismo - que na verdade, é mais uma pregração religiosa - em detrimento do evolucionismo Darwiniano!

    É bom tomar cuidado com essa gente!

    Cá em terra-brasílis, o campo é muito fértil para o florescimento dessa erva-daninha que, entre outros nomes, pode ser chamada de cegueira ou fanatismo religioso.

    As trevas da idade média que nos aguardem!


    (Zeca)

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    1. Quanta edioticlce de quem é ateu .... Por não ter fé e nem acreditar num Deus criador.. Só posso dizer ... Lamento por você .

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    2. Se essas baboseiras foram resposta ao que a Sr Grahan disse!Poetas,carnavalescos e outros! Percam tempo Naum,ela sequer ouviu ou vai ouvir sobre vcs! Tipo anos luz! Essa é a distância de vcs pra verdades que teimam em ignorar,nem por isso deixa de ser verdade!Na eternidade,segundo a bíblia,veremos quem acreditou em que! Até lá,aproveitem,um passarinho contou que terá muito ranger de dentes!
      Vida que segue!

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  2. Sua resposta Sr. Ariel Argobe é fundamentada na vã ciência do seu próprio conhecimento, não sabendo outro sim discernir o que é espirítual e humano, a filha de Billy Grahm coloca uma situação em que visa a exortar o ser humano a lembrar que Deus-pai quer fazer parte da vida de todos nós.
    "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado..."
    Que a paz seja com voçê.Obrigado superhallex@hotmail.com

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  3. Querido Osmir, você citou logo a cima que o protestantismo norte americano, estão em plena reação contra as liberdades individuais e de livre pensamento. Meu caro, percebe-se que essa linha de pensamento que você segue, está redondamente enganada, achando que a religiosidade são impostas pelo protestantismo, não sabendo você,que nada mais é do um escravo do pecado e das tentações...E sabe o porque disso, porque você é tentado todos os dias pelo seus desejos carnais, ou seja, desejos do seu seu ego, da sua alma e você sem questinar se isso tratá algum ponto positivo você sem pensar nisso você se entrega a essas imundices de pensamentos sem pensar que isso não passa de uma força incontrolável do teu próprio "eu", e que inconcientemente você faz aquilo que não seria certo fazer segundo sua ética social. E você ainda acha que nós protestantes é quem somos fanaticos religiosos?
    Querido, pregamos a palavra, porque Deus tem prazer nas coisas certas, alias, experimente só ficar sem Deus na tua vida, pra ver o que te acontece, você pode até viver uma vidinha miseralvelmente bem, porém esses prazeres que você deleita nada mais é do que o lixo do pecado. Mais vale uma pessoa viver debaixo de uma igreja servindo ao Deus vivo do que viver por ai matando, roubando, prostituindo-se e mentindo como é "normal" de se saber em pleno século que vivemos, isso sim eu digo que é ser escravo fanáticos do pecado. Nós protestantes não somos escravos do pecado por somos livres para adorar ao Senhor e livre para viver uma vida digna e pura diante de Deus e da sociedade. Não precisamos encher nossas bocas com essas teorias nojentas que a Filosofia impõe as pessoa. Mas sim sentimos o prazer de encher nossas bocas para pregar a verdade e a paz para o ser humano. E realmente é disso que a humanidade precisa, ouvir e sentir Deus agir sobre sua vida e então se cada um tivesse esse privilégio, ai sim saberiam o que é viver debaixo das mãos e da proteção de Deus.
    Mas isso te enfada não é mesmo, sabe porque?...Porque isso são coisas que você não entende, porque na verdade você nunca procurou provar, pra sair falando que isso não passa de uma religiosidade protestantista. Antes de abrir a boca para falar contra o povo evangélico, procure saber a diferença que nós protestantes temos em relação a outras pessoas que não se importam de seguir a Deus, procure andar no meio de nós, procure experimentar servir a Deus, para depois falar, pois você não pode falar do seu vizinho se você não sabe o que se passa realmente na casa dele. Portanto querido Osmir, aceite esse desafio para depois falar com mais convicção daquilo que de verdade você desconhece, porque o que você citou a cima não passou de um testo vazio, sem fundamento algum, mas sim cheio de filosofias de curto conhecimento...
    Obrigado

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    1. Concordo com você.
      .. Mas é perda de tempo tentar mudar a cabeça de quem não crê num Deus criador e pior está a serviço do diabo ..

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  4. So um adendo.. Na tal da entrevista (que eu n sei se foi veridica), pelo que entendi, o apresentador pergunta à entrevistada (filha do Billy Graham) onde estava Deus quando o terrível incidente do 11 de setembro aconteceu.. É uma pergunta capciosa, não sei qual a linha do programa, mas me soa (a questão feita) um tanto quanto maliciosa, afrontando a posição religiosa da moça. A premissa da pergunta seria: "Se Deus existe, é criador de todas as coisas e é amor, como poderia assistir tudo isso de camarote, sem fazer nada?" Em resposta (sabia ao meu ver), ela só disse uma verdade.. Muitas vezes afastamos Deus de nossas vidas, usamos nosso livre-arbítrio como bem entendemos, e quando algo terrível nos acontece ficamos perguntando onde estava Deus?? Não seria muita cara de pau da nossa parte querer alguém so nas horas convenientes?? Deus não é um cardápio! Ela (ao que entendi na leitura da tal entrevista) não quis atribuir as problemáticas da vida a um Deus tirano que simplesmente ignora nossas necessidades, mas entendi que Deus está o tempo todo para nós, mas Ele não impõe sua presença ou cuidado. O fato de crermos em Deus não nos tira do perigo, uma vez que a bíblia diz que o sol nasce para todos, então, coisas boas e ruins podem acontecer a qualquer um, a diferença é que, se temos a Deus, temos um alivio às nossas dores mediante nossa crença. Deus não protege so seus "favoritos", Deus cuida de todos, mas infelizmente vivemos num mundo sem Deus, e sofremos as consequências disso

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    1. Concordo com sua resposta. Parabéns....

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    2. Exatamente. Ela não disse que aborto ou o uso de camisinha tombaram as torres gêmeas. Ela deu vários exemplos de como nos afastamos de Deus. E depois O queremos de volta, nas agruras sa vida.

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    3. Pronto. Quero ver agora o autor do blog publicar esse comentário com o título "Resposta a Antonio Serpa do Amaral: alguém que não crê em Deus mas O usa como desculpa para as tragédias humanas"

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    4. Caro senhor Argobe , o Sr Antônio S do Amaral Filho ( comentarista do texto em questão ) se intitula poeta , escritor e articulista cultural . Desta forma não o vejo como alguém indicado a tecer críticas sobre um assunto do qual ele desconhece uma vez que não comunga da fé explicitada , não é um teólogo ou um estufioso ,crível ,do assunto . Então , neste caso , sua simples opinião não passa de especulação e de impressões desprovidas de imparcialidade e de conhecimento de causa as quais não acrescentam absolutamente nada ao leitor !

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  5. São coisas espirituais. O homem natural não as entende.

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