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terça-feira, 22 de junho de 2010
O ARRAIAL FLOR DO MARACUJÁ NO FIM DA PICADA
Começa nesta próxima sexta-feira o maior e mais esperado espetáculo de cultura popular de Rondônia, a XXIX edição da Mostra de Quadrilhas e Bois-Bumbás, que será realizada entre os dias 25 de junho a 4 de julho, durante o Arraial Flor do Maracujá, este ano em novo endereço.
O maior evento junino da Região Norte, vitrine reluzente da nossa identidade cultural, estréia novo endereço - ainda claramente provisório. O Flor será realizado em uma região da cidade onde já desfilam nossas escolas de samba - Avenida dos Migrantes -, mais precisamente no terreno localizado ao lado do CETENE.
Promovido pelo Governo do Estado de Rondônia, através da SECEL, o Arraial Flor do Maracujá tem seu nome inspirado em um antigo grupo de quadrilha do Bairro do Triângulo, que assim se autodenominava. As mulheres integrantes daquele antigo grêmio junino cultivavam o hábito de ornarem suas madeixas com a exótica flor do maracujá.
A Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer têm trabalhado diuturnamente, fitando deixar tudo pronto para a maior festa folclórica do povo beradeiro. Investiu mais de R$ 500.000,00 para adequar o espaço, de forma a atender os grupos folclóricos satisfatoriamente – bois-bumbás e quadrilhas juninas -, assim como aos turistas e visitantes, instalando estrutura de palco, som, iluminação, arquibancada, barracas e os mais variados apetrechos necessários e exigidos por lei, para evento dessa monta.
A estrutura montada e necessária para apresentação de nossos grupos folclóricos, funciona, metaforicamente falando, como uma moldura de uma grande obra de arte exposta em uma importante galeria ou museu. A moldura, ou a estrutura, são recursos utilizados para facilitar a apreciação/fruição e garantir o mínimo de proteção à obra artística em exibição. A moldura (ou a estrutura) nunca é mais importante que o conteúdo, o objeto artístico, a obra de arte.
Aí repousa a insensibilidade da autoridade pública e sua total falta de compromisso para com a cultura popular. O titular da pasta da SECEL, cinicamente ocupa a mídia local, para justificar que não será possível o repasse de recursos públicos financeiros, em forma de auxílio montagem, aos nossos grêmios culturais que irão se apresentar na Mostra Folclórica do Flor do Maracujá, argumentando impedimento legal face ao pleito eleitoral.
O Governo do Estado é o pai, orgulhoso, da Mostra Folclórica, este ano na sua XXIX edição. A Mostra é um imensurável certame de afirmação, confirmação e perpetuação da nossa identidade cultural. São três décadas de existência e sucesso incontestável. Mesmo diante de incalculável êxito, a instituição pública estadual, (in)responsável pela organização do arraial, não incluiu as despesas do Flor do Maracujá no orçamento anual do Estado e, ao longo das décadas, vem reincidindo em tal equívoco.
Resumo da ópera: alardeia-se que o Governo do Estado investiu mais de R$ 500.000,00 em estrutura para o evento (na moldura da obra de arte), mas no objeto artístico, no conteúdo, ou seja, exatamente em nossos bois-bumbás e nas quadrilhas juninas, verdadeiras e legítimas atrações da Mostra, o governo não investiu uma única arruela. As maiores atrações do Flor do Maracujá deste ano não serão nossos grupos folclóricos, a julgar pelo ótica e prioridade do investimento. Com toda certeza, pela monta de recursos públicos gastos, serão as arquibancadas, o equipamento de som, o palco, a iluminação, as barracas e tudo mais que estiver relacionado à estrutura (a moldura do objeto de arte).
As quadrilhas juninas e os bois-bumbás que se rebolem e corram atrás de patrocínio privado ou que então lancem mão dos salários e qualquer recurso financeiro de seus diretores, para fazer face às despesas de produção, da mesma forma como assim fizeram as escolas de sambas de Porto Velho que, em fevereiro deste ano, também levaram cano do Governo do Estado e se apresentaram para o público contando apenas com o aporte financeiro da Prefeitura.
E assim caminha nosso patrimônio histórico, em direção do fim da picada: só e de mãos abanando. E se dê por satisfeito, caso contrário, poderá até ser extinto ou demolido, da mesma maneira covarde e equivocada como é tratado o patrimônio cultural material na esfera da municipalidade - veja exemplo do Plano Inclinado, Serraria Tiradentes, etc., etc. e etc.
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