|
Festival Folclórico de Guajará-Mirim |
Em artigo postado na mídia local no
mês de julho, afirmei que “o ano de 2013 parece mesmo ser um daqueles anos que
temos que esquecer”. Referia-me à pífia performance ou total ausência das instituições
públicas responsáveis pela condução da política cultural.
Declarações do Presidente da
Assembleia Legislativa de Rondônia, Deputado Estadual Hermínio Coelho, reverberada
exaustivamente na imprensa estadual durante esta semana, sobre o desfecho das
investigações da Operação Apocalipse, desencadeada pela Polícia Civil, no
último mês de julho, só acirrou o cenário de guerra entre a Assembleia Legislativa
e o Palácio Presidente Vargas, sede do Poder Executivo Estadual.
Para Hermínio, após analisar o parecer
do Ministério Público Estadual, é possível concluir que o Secretário Marcelo
Bessa, titular da SESDEC, “comanda uma polícia para perseguir adversários
políticos e críticos do Governo". Hermínio conclui sua análise exigindo
que Confúcio Moura exonere o Secretário Bessa, ressaltando também que o
Governador é o único prejudicado com a Operação Apocalipse, uma vez que toda
investigação resultou em denuncia junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), contra
Confúcio, por ter sua campanha supostamente financiada pela turma de Beto Baba
e Fernando da Gata.
E o que isto tem a ver com o Festival
Folclórico de Guajará-Mirim? Tudo. Hermínio, após várias reuniões capitaneadas
pelo Empresário Vando Oliveira Vieira, Gerente VW Iluminação, empresa que
assumiu organizar o Festival de Guajará, comprometeu-se em ajudar na realização
do Duelo da Fronteira, destinando a cada grêmio cultural de bumbá, a generosa
importância de um milhão de reais, por meio de emenda parlamentar.
Só para esclarecer, por esta época do
Festival Folclórico muito se fala sobre emenda parlamentar, mas muitos
desconhecem tal significado. Inicialmente, todos sabem que cada deputado
estadual possui, por lei, o direito de destinar emendas (verbas) para suas
cidades, instituições ou projetos de seu interesse. Porém, quem bate o martelo
final, liberando ou não o dinheiro, é o executivo. Ou seja: neste caso do
Festival, o Governador Confúcio Moura.
O fato é que, nesta altura do
campeonato, quando já se define o cenário de guerra para se disputar o Governo
do Estado, vale usar todo tipo de arma e táticas comuns em guerras imorais,
inclusive ludibriar a cultura popular. Prometer grandes somas para o Festival
de Guajará, inclusive dinheiro que nunca virá, e depois jogar a culpa no
“Governo Caldinho de Piaba” (termo com o qual Hermínio costuma definir a
administração de Confúcio), é um bom marketing
de autopromoção política. Soa – enganosamente – como atitude nobre de um
mecenas: o patrocinador das artes, da cultura e das ciências.
|
Desfile do GRES Unidos do Guaporé, Costa Marques |
Nas terras da República do Mamoré,
berço das duas grandes nações de bumbás que protagonizam o Duelo da Fronteira,
continua-se a acreditar que o Governo Estadual irá brindar o Festival de
Guajará-Mirim com recursos públicos, como forma de agradecimento e compromisso
com a Pérola do Mamoré, pois foi “nestas paragens do poente” que o Governador
teve a maior expressão de voto por município. Enganam-se os tolos que acreditam
nesta tese.
Durante a solenidade de lançamento do
Programa Água Produtiva, realizada no dia 03 julho de 2012, aqui na urbe
tupiniquim habitada pelo povo descendente dos bravos guerreiros parecis,
Confúcio orientou às diretorias de bumbás, em audível som, que procurassem
patrocinadores em outros terreiros, pois o Governo não iria ajudar as
associações com auxilio montagem, dinheiro para confecção do espetáculo
artístico propriamente dito.
Nesta guerra da ALE e Palácio
Presidente Vargas, o descompromisso com a cultura popular é total, nos dois fronts, tanto do lado de Confúcio quanto
no lado de Hermínio. É uma guerra política injusta com a cultura popular e as
artes, onde o grande vencedor é quem melhor jogar ou encenar (ou enganar) e
seduzir a atenção e o futuro voto de artistas, artífices e produtores
culturais, sem destinar a estes e aos seus espetáculos um único centavo, nem se
quer uma arruela furada.
Vejam o que aconteceu com o
tradicional desfile das escolas de samba e blocos carnavalescos de Porto Velho.
No carnaval deste ano, escolas de samba que há mais de cinquenta, quarenta e
trinta anos desfilavam pelas ruas da capital, silenciaram suas baterias em 2013,
por absoluta ausência do poder público estadual e municipal. O silencio das
valorosas baterias das escolas de samba da capital rondoniense anunciaram o início
do fim da cultura popular em Rondônia.
Vejam o réquiem funesto que foi o
Arraial Flor do Maracujá, outrora colossal certamente de cultura popular,
inclusive criado pelo próprio Governo do Estado de Rondônia, no qual se expõe,
há mais de três décadas, a genialidade criadora de caboclos e beradeiros das
terras e barrancas do Rio Madeira, cuja edição de 2013 se traduziu em um
verdadeiro vexame agourento.
Para sacramentar o descompromisso com
a cultura do Estado, Confúcio já decretou pena capital à Secretaria de Cultura,
Esporte e Lazer do Estado de Rondônia. A extinção da SECEL põe fim aos sonhos
do mais otimista de todos os otimistas do campo cultural.
Definitivamente, a guerra travada
entre Confúcio e Hermínio resulta em mais uma pá de cal encima do Festival
Folclórico de Guajará-Mirim, enterrando, de maneira irreversível, a edição 2013
do Duelo da Fronteira.
|
Quadrilha Junina Rosas de Ouro, Flor do Maracujá, P. Velho |
Às diretorias das duas nações de
bois-bumbás, aos brincantes, artistas, amantes e turistas, que ainda acreditam
e sonham com a realização do 19º Festival Folclórico de Guajará-Mirim, restam
apenas traduzir a fraqueza em força, o medo em coragem e a derrota em vitória,
e partir para realização do Duelo da Fronteira com o que é possível e o que se
tem.
Repensar a realização do Festival
deste ano, não mais em forma de competição entre bumbás, mas sim, em feitio de um
grande protesto artístico e plástico, manifestando a insatisfação da cultura,
do artista, do brincante e do turista é o mais eficaz e apropriado neste
momento. Desta feita, em 2014, ano de eleição e reeleição, fazer renascer este
grande espetáculo de cultura popular, a partir da discussão de um projeto
político em favor da cultura popular, do Festival Folclórico de Guajará-Mirim,
das escolas de samba de Porto Velho, Costa Marques, Rolim de Moura e Ariquemes,
em favor do Arraial Flor do Maracujá e, para finalizar, em favor da identidade
cultural de caboclos, beradeiros e de todo povo de Rondônia, é a nossa mais urgente missão.