quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O BUMBÓDROMO E O REI DA GAMBIARRA



Instalação elétrica, banheiros boi vermelho

No popular, gambiarra significa trabalho feito com improviso, com peças alternativas. Segundo o Dicionário Aurélio Online: 1. Renque de luzes entre as bambolinas do palco. 2. Extensão elétrica, com fio comprido, que permite levar luz a sítios afastados.

Sinônimos de gambiarra: improviso, quebra-galho, jeitinho, conserto menor, trabalho mal feito, desvio tecnológico, adaptação técnica alternativa, remendo sem qualidade.

      
      
Banheiro, lado vermelho
Então, o que é uma gambiarra? Segundo Fábio Belo, “gambiarra é um arranjo contingente, um tipo de solução, geralmente inusitada para a solução de um problema. Um nó, uma amarração com arames, fitas adesivas: qualquer coisa pode ser alvo de ou servir como uma gambiarra”.

Eu acrescentaria, sem pestanejar, gambiarra é trabalho de preguiçoso, de gente incompetente e, mais uma vez, no dito popular: trabalho de porco. Digo mais: trabalho realizado com resultado perigoso, dependendo da dimensão da gambiarra, das condições e dos riscos iminentes.

Para entender melhor a dimensão exata de uma situação abrangida pela definição de gambiarra, a partir de exemplo prático aqui em terras perolenses, cito o trabalho realizado no Bumbódromo de Guajará-Mirim, reinaugurado na última sexta-feira, 25, na presença de várias autoridades das esferas estadual, municipal, inclusive autoridades bolivianas - representantes do governador do Departamento do Beni - e de grande público. É o mais perfeito exemplo incontestável de uma gambiarra.

Banheiros, lado vermelho
A autoridade ou profissional que comandou o trabalho de revitalização do Bumbódromo em Guajará-Mirim é, no meu modesto entendimento, a personalidade mor em gambiarras. Afirmaria também – sem sobras de dúvidas – que se trata do Rei da Gambiarra. Acredito que um profissional com habilidades em tais níveis, muito provavelmente fez estágio e aperfeiçoamento na área, em terras estrangeiras, talvez nos lendários e mágicos países do mundo árabe, região do planeta das mil e uma noites, onde tudo é possível, inclusive tapetes voarem. Só uma boa gambiarra faz tapete levantar voo.

Sabemos das dificuldades de cada agremiação de bumbás para colocar o espetáculo artístico na arena, e que para tal se faz necessária diversas autorizações e liberações de órgãos públicos pertinentes ao perfil e envergadura do certamente cultural a ser realizado nos dias 9, 10 e 11 de outubro, de forma que, fica aqui nossa preocupação – e denúncia – com relação à qualidade dos trabalhos (duvidosos) realizados no Bumbódromo, que certamente irá enfrentar resistência de autoridades para liberação da área, particularmente do Compro de Bombeiros.

Arquibancadas, lado vermelho
É flagrante a precariedade do trabalho realizado, cujo resultado até parece mais ação de vândalos. Como é de hábito imputar aos brincantes e amantes do folgue de bumbá, danos causados em estruturas públicas de uso de todos, nos antecipamos em divulgar a baixa qualidade técnica das obras de restauração realizadas no Bumbódromo. Pasmem todos, a dita obra de restauração já foi entregue assim, com qualidade duvidosa, gambiarra pura!

Esperamos que a empreitada do Rei da Gambiarra não penalize os nossos bumbás e nem seja impedimento para realização do Duelo da Fronteira, e que as instituições e autoridades pertinentes enquadrem o autor da obra – melhor dizendo: da cagada.

Fica a dica para o MP que - sejamos justos – pela primeira vez estabeleceu um TAC que favorece a cultura popular e cumpre preceitos constitucionais no que se refere à democratização do acesso ao bem cultural, um direito de todos.
SPDA

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

DUELO DA FRONTEIRA: O BOI NO BANCO DOS RÉUS



Bumbódromo de Guajará-Mirim
“Em Porto Velho, o Ministério Público criou um caso enorme para enquadrar o carnaval. Dentro da filosofia dos Promotores, pois alguns são oriundos de outros estados, e alguns se acham dono da nossa cidade e querem enquadrar a nossa vontade, a manifestação dos portovelhenses, das pessoas que moram aqui, dos beradeiros e dos caboclos. (...)”. Trecho da entrevista do Advogado Ernandes Segismundo, presidente do Bloco Carnavalesco Pirarucu do Madeira, concedida a Léo Ladeia, que comanda o programa Sala Vip, em janeiro de 2008.

Já há alguns anos a cultura popular em Rondônia, produtores culturais, artistas, artífices e grêmios de cultura popular enfrentam as mais colossais e ignorantes barreiras burocráticas – para não dizer atitudes preconceituosas - para exercer um direito líquido e certo: o direito à cultura. Os Direitos Culturais, além de serem direitos humanos previstos expressamente na Declaração Universal de Direitos Humanos (1948), no Brasil encontram-se devidamente garantidos na Constituição Federal de 1988, em razão da relevância do tema como fator de singularizarão da pessoa humana.

Com o objetivo de assegurar o direito à cultura, assim diz a Constituição: “Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. Garante ainda em parágrafos do mesmo artigo: § 1.º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2.º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais”.

Bois Malhadinho e Flor do Campo - lançamento do festival
Em Guajará-Mirim, neste último sábado, 19, aconteceu a cerimônia de lançamento oficial da 19° edição do Festival Folclórico de Guajará-Mirim. O evento foi realizado na área externa do Ginásio de Esporte Afonso Rodrigues, e contou com a participação de grande público, amante do folguedo de bumbá, além da participação de autoridades e animados brincantes que, naquele local, freneticamente saciaram a sede de brincar de bumbá. Mas não foi assim tão fácil montar a estrutura necessária para o evento e fazer acontecer a festa.

Vamos aos percalços: dias antes, a diretoria das duas agremiações de bumbás – Flor do Campo e Malhadinho -, autoridades diversas das esferas estadual e municipal, brincantes e várias equipes de colaboradores trabalharam arduamente na área onde foi realizado o certame cultural. No dia do evento, por volta das 17h30min, chegou ao local o agente público representando a Polícia Ambiental. De imediato se instalou um alvoroço, um corre-corre e um sentimento de incerteza. Gente triste, brincantes nervosos e itens chorando. Correu, como rastilho de pólvora a notícia de que a ambiental estava ali para embargar o evento.

O improvável se instalou na arena de espetáculo. Todos se perguntavam: vai ou não ter o lançamento da 19° edição do Festival Folclórico de Guajará-Mirim? A titular da Secretaria de Cultura do município Wisnete de Paula Ojopi se dirigiu à seda da Polícia Ambiental, em busca de solução. O Deputado Estadual Dr. Neidson também foi convocado a se fazer presente em mesmo endereço, para atuar em defesa dos bois e do vento.

Edileuza, Presidente do Malhadinho - lançamento do festival
Pouco mais de uma hora depois, as autoridades retornaram. Ovacionadas entusiasmadamente pelos presentes, anunciam então: haverá espetáculo. Todos queriam saber o motivo que quase impediu o evento. Correu nos bastidores da celeuma - pasmem todos! – que as razões que quase mandou o evento pro ‘beleléu’, foi o estado sonolento da esposa de uma determinada autoridade da instituição estadual pública de defesa dos cidadãos, que mora nas redondezas do local onde aconteceu a cerimônia, pois a mesma necessitava dormir, de forma que, para a cerimônia acontecer, ficou acertado entre as autoridades municipais e Polícia Ambiental, a sonorização mecânica, sons das bandas e da batucadas em níveis baixíssimo, sob pena de embargo do certame, caso se perturbasse o sono da dita cuja, doravante "A Bela Adormecida da Fronteira".

Deputado Dr. Neidson e Dr. Wenceslau - lançamento do festival
Nesta segunda-feira, 21, pela parte da manhã, ao visitar o Bumbódromo Municipal, como de hábito faço por esta época de festival, deparei-me com a equipe de artistas da nação vermelha e branca, responsável pela confecção de alegorias, cenários e adereços, objetos artísticos construídos ali mesmo na área do próprio bumbódromo. Os artistas estavam revoltadíssimos – puto mesmo da vida - com a atitude arrogante e despótica de uma determinada autoridade que responde pelo Executivo Estadual em terras perolenses, pois a autoridade tupiniquim absolutista de plantão, segundo informações que iam e viam à boca miúda, havia, ela própria, denunciado à Eletrobrás a existência de ligações clandestinas no bumbódromo. O corte foi imediato. A vingança dos artistas veio a galope, vez que, segundo a trupe de trabalhadores rebelados, a autoridade desvairada havia mirado na nação vermelha, porém acertou o próprio pé, pois a energia ‘clandestina’ também estava atendo aos trabalhadores do Governo do Estado, que realizam obras de restauração na estrutura bumbódromo.

A temperatura da equipe de alegoria do Boi-bumbá do Tamandaré eleva-se a cada instante, se queixam os artistas vermelhos, em razão das vistorias e visitas incertas que a autoridade mor do Governador Confúcio Moura realiza na área do bumbódromo, de maneira 'destrambelhada', alegam, e, o que é pior, se fazendo sempre ladeada por membros ou brincantes da nação Azul e Branca, afirmam os artistas vermelhos, alegando também: “eles ‘botam pilha’ na autoridade, que parte pra cima da equipe de alegorias do bumbá de D. Georgina, inclusive nos ameaçando com prisões”.  Os artistas garantem que tem gravado em celular o último bate-boca da autoridade em tela, pois suspeitam que tal personalidade pública goste mesmo é de uma paleta de cores matizada em tom azul.

Bar do Boi Azul, bumbódromo de Guajará-Mirim
Uma outra autoridade recém chegada ao município, que goza de livre trânsito junto ao Gabinete do Senhor Governador, segundo informações de bastidores, vez por outra ameaça passar com um trator por cima de um barracão de madeira existente no bumbódromo, usado pelos artistas do bumbá vermelho. Esta mesma autoridade mandou erguer um ‘puxadinho’ para o Boi Malhadinho, segundo informações de coxias do espetáculo, onde será instalado o Bar do Boi Azul, dizem alguns. Resta saber se o Corpo de Bombeiros já foi fazer a fiscalização no ‘puxadinho’ azulado. Estrutura equivalente não foi erguida para atender a galera e torcedores do lado vermelho. Ou seja, o Boi de D. Georgina não tem “puxadinho”, sendo este um benefício apenas para uma dos lados do famoso e popular evento Duelo da Fronteira - caso se confirmem as informação de bastidores. Alegações vindas da banda azul, particularmente de sua diretoria, dão conta que se trata de uma construção financiada a partir de doações de empresários locais, e que toda e qualquer outra versão diferente desta, são meras especulações. Uma coisa é certa: os trabalhadores que erguem a edificação são reeducando à disposição da SEPOG.

Barracão em madeira, usado pela nação vermelha
Tanto neste caso acima narrado, como também o descrito em parágrafos anteriores, onde se lavram a vistoria da Polícia Ambiental, os Princípios da Administração Pública foram pras ‘cucuias’. Tais princípios, conforme “Caput” do artigo 37 da Constituição Federal de 1988, norteiam todos os atos administrativos e, inclusive os procedimentos licitatórios. Em resumo, visam impor aos atos de todo agente ou gestor público, a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, publicidade e eficiência.

Para complicar mais ainda o Festival Folclórico de Guajará-Mirim - que por esta altura dos acontecimentos mais parece um dramalhão mexicanesco -, por volta do meio dia desta terça-feira, 22, aportou no bumbódromo equipe do Corpo de Bombeiros, seguida de diversas autoridades do município e do estado. Resultado da vistoria: está tudo errado. Vai ser tudo interditado, inclusive vai se derrubar o barracão de madeira. Todas as estruturas metálicas para confecção de alegorias terão que ser retidas da área interna do bumbódromo, pois as mesmas interferem no SPDA (sistema de para-raios).

A instalação do SPDA, recurso necessário para proteger pessoas e equipamentos, além do espetáculo e público como um todo, passou a ser mais importante que o objeto de arte, de tal forma que adereços e alegorias terão que ser retirados do bumbódromo, para evitar sinistros. É o fim da picada!

Articuladores e promotores culturais envolvidos com o show que será realizado na próxima sexta-feira, 25, por ocasião da reinauguração do bumbódromo, já consideram a hipótese de cancelamento da apresentação da Banda Versalle, em razão das observações apontadas pelo Corpo de Bombeiros Militar. Uma delas, acreditam, é a imediata retirada das estruturas de alegorias, cenários e adereços do Bumbá Flor do Campo, que se encontram lá estacionados.

Literalmente agora a vaca e os dois bois-bumbás vão todos para o brejo, isto é, se o brejo estivar com as especificidades técnicas e nos conformes da lei, caso contrário o Corpo de Bombeiro Militar embargará também o brejo.

Resumo da opereta: em terra de ninguém todos mandam. Manda quem tem e quem não tem um único vintém; manda fulano, o beltrano e quem nunca foi alguém. Manda a puta, a própria filha da puta, a igreja, o pastor, o padre e quem mais vem. Manda o católico, o evangélico, o espírita, o ateu e o macumbeiro também. Manda o forasteiro, o ‘pitaqueiro’ e a autoridade de plantão que em sua terra nunca foi ninguém. Só não manda no espetáculo do boi o próprio boi e o cidadão de bem.

Retomando as declarações do meu amigo e advogado Ernandes Segismundo, o que se constata muito claramente, com tantos mandos e desmandos no trato da cultura popular, é o cresce sentimento e desejo firme de criminalização da cultural popular. Vê-se crescer o cego anseio atropelador na burocracia de parte significativa das instituições do Estado, que teimam cercear a estética popular. Trata-se, pois, de fenômeno reacionário e preconceituoso que se espraia por todos os municípios rondonienses, particularmente onde a cultura popular tem forte expressão. Em Porto Velho, por exemplo, o carnaval e as quadrilhas juninas, assim como seus respectivos brincantes, produtores culturais e artistas, estão na constante e certeira mira do Ministério Público Estadual, da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiro Militar, da Companhia de Trânsito, dentre outros organismos públicos. Não é raro dentre titulares e agentes públicos destas instituições, sem disfarçar preferências religiosas – ignorando preceitos constitucionais do Estado Laico – valendo-se de interpretações hipócritas e esdrúxulas da lei, buscarem impedir a expressão cultural do povo simples, compreendendo este relevante patrimônio cultural imaterial, traço identitário marcante de caboclos e beradeios, como sendo manifestação demoníaca, algazarra de baderneiros e ateus, atitude de gente desagregadora da sagrada família brasileira.

Em Guajará-Mirim a situação não poderia ser diferente, haja vista as tradições cultuais do município e o forte enraizamento que a cultura popular tem em terras perolenses. Para finalizar esta modesta elucubração, cito aqui trechos de um artigo por mim assinado, sob o título “O Samba no Ministério Público”, divulgado no meio midiático portovelhense, em fevereiro de 2011, por ocasião dos preparativos do carnaval daquele ano: “Ao ser convocado ao MP de Rondônia, para tratar de cultura popular (boi-bumbá, escola de samba e quadrilha junina),  já vou com uma certeza: de participar de um debate onde a cultura popular, a identidade cultural, o mestre da cultura e o produtor cultural local participam sempre sentados no banco dos réus. Está longe o tempo – que todos nós sonhamos - em que um dia seremos chamados para escutar do MP, medidas que garantam a manifestação cultural popular como um direito imanente e indispensável ao pleno exercício da cidadania. Conhecer atitudes do MP que enquadrem os poderes executivos, cobrando dos mesmos, a institucionalização de políticas públicas continuadas, protetoras e democratizadoras do bem cultural imaterial”.

sábado, 19 de setembro de 2015

FESTIVAL FOLCLÓRICO DE GUAJARÁ: NA COXIA DO ESPETÁCULO




Ednart Gomes
Neste sábado, 19, acontece a cerimônia de lançamento oficial da 19° edição do Festival Folclórico de Guajará-Mirim. A solenidade será realizada na área externa do Ginásio de Esporte Afonso Rodrigues, e contará com a participação de convidados, brincantes, autoridades, imprensa e apresentações especiais de trupes dos dois grêmios culturais.

Enquanto os organizadores tratam dos preparativos para realização do Duelo da Fronteira, evento popular que volta à cena cultural da cidade perolense, após dois longos anos de forçada hibernação, nos bastidores do espetáculo, freneticamente, um contingente de artistas e artífices trabalham, incansavelmente, para formatar um dos maiores espetáculos de cultura popular do Estado de Rondônia.

Nossa coluna de hoje joga luz na “coxia do espetáculo”, para visibilizar um dos maiores artistas que, desde há muito, contribui com este extraordinário impressionante evento cultural: Ednart Gomes, o mago da fronteira.

Inúmeros são os profissionais que constroem este belíssimo espetáculo que contorna a identidade cultural do povo rio-mamorense. Anônimos ou desconhecidos, sob a cortina da coxia, esmeradamente trabalham costureiras, artistas, artesãos, serralheiros, batuqueiros, músicos, lindíssimas caboclas e rapazes dançarinos, um verdadeiro e abnegado grupo de profissionais, dos mais variados matizes artísticos – além de muitos colaboradores de todas as áreas -, empenham-se para apresentar o mais refinado e emocionante espetáculo de vibrantes cores, inéditas e monumentais alegorias articuladas, ricas fantasias, pulsantes coreografias e os mais surpreendentes efeitos de luzes e ritmos, apreciados por um e fiel público, que assiste a tudo, incrédulo e atento, sempre aguardando a próxima surpresa.

Dentre tantos talentos, destaca-se um grande artista. Artista com “A” maiúsculo, portador de uma sensibilidade estética imensurável e detentor de extraordinário talento e criatividade. Um mágico. Um mago. Veja, a seguir, nossa conversa com Ednart Gomes, que aconteceu espontaneamente na ‘coxia do espetáculo’:

Ariel argobe – É de verdade? Realmente começaram os trabalhos da equipe de artistas que vão confeccionar as alegorias do Boi-bumbá Flor do Campo, para o Festival Folclórico de Guajará-Mirim 2015?

Ariel Argobe e Ednart Gomes (entrevista)
Ednart Gomes – Iniciamos hoje nosso trabalho. Cheguei hoje (16) em Guajará-Mirim, por volta das 04h30min e já estamos aqui trabalho. Neste momento nós estamos fazendo um levantamento do material que já existe, como por exemplo, base de alegorias e estruturas de lança, que dão sustentação às alegorias articuladas e que serão utilizadas no festival. Hoje, em Parintins é assim: lança, base, material pesado são equipamentos permanentes de uso duradouro e utilizados em vários festivais. E é isto que nós estamos fazendo agora, separando este equipamento. O Boi Flor do Campo tem uma boa estrutura de base.
Ariel Argobe – Além desse material permanente de estrutura, o que mais será reutilizado pela equipe de alegorias?

Ednart Gomes – O trabalho de arte, de criação propriamente dito, este se aproveita pouco ou nada mesmo, porém, vamos fazer o máximo possível para aproveitar e readequar artisticamente, material de acabamento, ainda usável, particularmente no que se refere aos detalhes confeccionados em isopó.

Ariel Argobe – Durante muitos anos você morou e trabalhou aqui. Foi o responsável pela equipe de alegorias do Boi Flor do Campo. O ano passo você retornou a sua cidade Juruti, e lá trabalhou no Festival das Tribos. Como foi a experiência?

Ednart Gomes – Foi um trabalho muito bom. Foi maravilhoso me reencontra com o Festival das Tribos, com os artistas da cidade, brincantes e com todos os amigos e familiares que fazem aquele grande festival. Foi um trabalho de arte realizado por mim e por meu irmão Kbral (Ernanes Gomes). Foi um espetáculo diferente e inovador, pois, pela primeira vez aconteceu na arena de apresentação, três grandes momentos do espetáculo da tribo Muirapinima. Momentos que deixaram o público encantado e emocionado.

Ariel Argobe – Artisticamente, como seu deu este grande momento?

Ednart Gomes – Os três momentos ápices do espetáculo da Tribo Muirapinima consistiam na movimentação, em cena, de três monumentais cenários, além das alegorias e lanças de grande porte, que ocuparam, de maneira impressionante, toda arena de apresentação.

Ariel Argobe – Depois de realizado os trabalhos para o Duelo da Fronteira, qual será seu próximo festival?

Ednart e Kbral Gomes
Ednart Gomes - Em novembro irei trabalhar no Festival de Fonte Boa. Como aconteceu em alguns municípios, o festival de lá foi transferido para novembro, por questão de atraso no repasse dos recursos financeiros públicos, entraves similares aos que motivaram também o adiamento do Festival Folclórico de Guajará-Mirim.
Ariel Argobe – Sobre o Festival Folclórico de Guajará-Mirim, evento popular que durante longos anos você contribuiu de maneira significativa para consolidá-lo efetivamente, o que o público pode esperar de surpresa, no que se refere ao trabalho artístico dos irmãos Ednart e Kbral Gomes?

Ednart Gomes - A expectativa e que continue crescendo, ou que, no mínimo, continue de onde parou. Para mim, o festival de 2012 foi o melhor Duelo da Fronteira. Foi quando o festival chegou em seu máximo, em termos artístico e em termos de estrutura, se comparado com todos os anos que estou aqui em Guajará trabalhando no boi - eu cheguei aqui em 2000. Se tivesse acontecendo com o mesmo padrão de 2012, sem interrupção, eu acredito que o festival deste ano seria um dos maiores espetáculos de cultura da Região Norte, em termos de boi-bumbá. Hoje, que eu me reencontrei com todas estas estruturas aqui existentes, eu até me assustei. Tem muito festival por aí que não tem estrutura que existe aqui Guajará-Mirim.

Ariel Argobe – Como é a experiência, ou melhor, a dobradinha dos irmãos Gomes, agora trabalhando na mesma agremiação cultural? É a primeira vez dos irmãos Gomes no boi vermelho?


Ednart Gomes
Ednart Gomes – Não é a nossa primeira vez no Flor do Campo. Nós já trabalhos juntos, acredito que foram três anos. Acho que a maioria dos brincantes do Boi Flor do Campo sempre esperou por este nosso reencontro no bumbá de D. Georgina, defendendo as cores vermelha e branca. Acho que vai ser um bom trabalho, pois são duas cabeças pensando a plástica do espetáculo, no caso, dois artistas de alegorias que sempre fizeram o Festival Folclórico de Guajará-Mirim, outrora em campos opostos, agora fazendo um único boi. Vai ser uma retomada de festival com esta novidade: Kbral e Ednart, uma boa união que vai chamar muito a atenção do público e dos brincantes.

Ariel Argobe – E a visita a D. Georgina, como foi o reencontro?

Ednart Gomes – Sempre nutri muito respeito por D. Georgina e pelo Seu Mário. É a D. Georgina a responsável por tudo de bonito que acontece em termos de festival aqui em Guajará. Foi ela quem começou com este rico espetáculo, propondo, um dia, a realização do festival. Estive lá com ela, fui tomar a benção à matriarca do Flor do Campo. Devo muito ao casal.

Ariel Argobe – Como foi pra fechar o contrato com a atual Diretoria do boi?

Ednart Gomes – Acho que a negociação demorou um pouco, provavelmente por conta da morosidade do repasse financeiro para aquisição de material. Acho que não é em razão da crise, pois quando o festival parou, há três anos, não havia esta crise econômica; quase não se falava em crise. Acho também que a demora foi por falta de informações sobre material a ser comprado, a quantidade, o projeto e a estrutura necessária para o espetáculo como um todo. Eu não moro mais em Guajará, e toda negociação foi feita pelo meu irmão Kbral. Ele foi o responsável por esta parte, pois ele mora na cidade e ficou mais fácil pra ele fazer toda a costura da negociação. Ele está na frente do trabalho.

Ariel Argobe – Temos tempo para fazer um grande trabalho em termos de alegorias?

Ednart Gomes – O tempo e curto, mas é possível fazer um trabalho bom. Eu acredito muito na capacidade, na liderança e no trabalho do meu irmão Kbral. Acredito também na capacidade de todos os artistas e brincantes que fazem o Boi—Bumbá Flor do Campo. Agora serão duas cabeças pensando. Acho que o público, os brincantes e os turistas vão se surpreender com o resultado. Será um grande festival. Um retorno para consolidar a grandeza do Festival Folclórico de Guajará-Mirim.

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PT DE GUAJARÁ-MIRIM PARTICIPA DE ENCONTRO POLÍTICO COM EVO MORALES

Profa. Lília Ferreira, Presidente PT/GM O Presidente da Direção Regional do Movimiento al Socialismo - Instrumento Político por la Soberanía...